Turistas querem muito mais do que apenas «sair morenos» do Algarve

Estudo foi realizado no âmbito do projeto “Algarve Premium”, promovido pelo NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve, Região de Turismo do Algarve e Associação Turismo do Algarve

Ilustração: Mariana Silva

O estudo foi feito no Verão do ano passado em vários locais, como o Aeroporto, postos de turismo e hotéis. A conclusão mais evidente é que a cultura está cada vez mais presente na procura turística pelo Algarve. 97% das pessoas que visitam a região visitam ou querem visitar uma atração cultural; 41,5% vêm ao Algarve atraídos pela cultura. Os indicadores são «muito interessantes», mas ainda há trabalho pela frente. 

Estes dados constam no estudo “Turismo Cultural no Algarve – Perfil do Turista e Perspetivas de Desenvolvimento”, apresentado esta segunda-feira, 13 de Março, na sede da Região de Turismo do Algarve, em Faro.

Do estudo, feito pela consultora “Opium”, salta à vista um grande indicador, explicado por Carlos Martins, diretor da empresa.

«Em geral, o que realço é o facto de a motivação cultural estar cada vez mais presente na procura turística no Algarve. Mesmo que não seja a primeira prioridade é, para 97% das pessoas, algo que têm interesse em descobrir, em experimentar e em frequentar», disse o consultor.

De acordo com o estudo, 41,5% dos turistas ouvidos escolheram passar férias no Algarve por motivos culturais (seja turismo urbano, enoturismo, criativo ou touring). Já 36,8% tiveram o sol e praia como motivação e 20,8% vieram fazer turismo de natureza.

Mas e quem são os turistas culturais que chegam ao Algarve?

O estudo, que incluiu a resposta a 610 inquéritos, tanto presenciais como online, também chegou a algumas conclusões.

O turista cultural tem, em média, uma habilitação académica mais elevada e também maior capacidade financeira. Mais de 50% tem mais de 40 anos.

 

 

Os turistas com maior predisposição para consumir cultura vêm dos Países Baixos, França e Alemanha, ao contrários dos portugueses, irlandeses e espanhóis que têm «consumos mais superficiais, ligados ao entretenimento».

Em declarações aos jornalistas, Carlos Martins explicou outro dos «dados interessantes».

É que, «das pessoas que chegam ao Algarve para férias, cerca de 20% já têm uma relação com o setor cultural: ou porque são artistas ou porque são arquitetos, designers, etc», exemplificou.

Isto significa que «muitos já trazem hábitos de consumo: vão a museus, leem livros, vão a uma biblioteca, a um festival, a um teatro».

Ainda assim, para o antigo diretor executivo da Guimarães Capital Europeia da Cultura (2012), estas pessoas «muitas vezes não encontram, na resposta da região, um perfil de serviços próximo daquilo que são os seus interesses».

«Muitas vezes, a oferta que temos não é para quem já tem hábitos culturais permanentes, mas algo mais casual, como um festival de música num espaço ao ar livre», disse.

O que o estudo mostra, segundo Carlos Martins, é que «são necessários alguns ajustes entre a oferta e a procura», dando como exemplo o facto de o enoturismo não estar ainda bem estruturado.

«Temos um mercado cada vez mais competitivo. Se cada vez os turistas são mais culturais, o Algarve tem de acompanhar esta tendência, sob pena de perder e ficar refém do turista que é menos exigente mas que também gasta menos», defendeu.

De acordo com o estudo, cada turista gasta, em média, 180 euros em experiências culturais ou de entretenimento no Algarve.

 

Foto: Pablo Sabater | Sul Informação

 

Esse dinheiro, segundo Carlos Martins, poderia «reverter para o reforço do setor cultural» porque, «acima de tudo, importa perceber que não pode haver turismo cultural sem agentes culturais capacitados».

«Isso implica um grande esforço de uma região. Há a necessidade de o Algarve manter e atrair agentes culturais para conseguir ter também experiências culturais, senão temos de as importar», considerou.

O estudo indica também alguns dos novos produtos que podem ser desenvolvidos, com um denominador comum: fazer com que as pessoas se sintam «cada vez menos turistas e mais residentes».

«Temos de fazer com que conheçam os mercados, as nossas receitas, o nosso património imaterial e muitas vezes não chega ao turista o que é único e específico», disse Carlos Martins, reforçando que questões como a sustentabilidade são cada vez mais procuradas.

Para o responsável, este estudo «permite ajudar a identificar o que é que a procura precisa».

«Muitas vezes, do lado das regiões, trabalha-se muito a oferta. Mais um evento, mais um espaço visitável, mais uma rota – mas ninguém pergunta ao turista o que é que ele queria, de facto», concluiu.

Este estudo foi realizado no âmbito do projeto “Algarve Premium”, promovido pelo NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve, Região de Turismo do Algarve e Associação Turismo do Algarve, contando com financiamento do FEDER.

 

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