Projeto «Revitalizar Monchique» chega ao fim… mas vai continuar

Sessão de encerramento serviu para fazer balanço, apresentar sugestões e traçar o futuro

Com o lançamento de cinco novos percursos nos trilhos da serra, chega este mês ao fim o projeto «Revitalizar Monchique – o Turismo como Catalisador», depois de quatro anos no terreno para dar novo fôlego ao turismo e à economia do concelho, após o grande incêndio de 2018.

«Este projeto nasce ainda a serra estava a arder», recordou João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve e da Associação Turismo do Algarve, na sessão de encerramento do projeto, que teve lugar esta quinta-feira, dia 16, em Monchique. «Ainda estava a decorrer o rescaldo, quando me telefonaram a Anabela Santos e o João Ministro a dizer: temos de reabilitar os percursos já, não podemos esperar».

Em causa, estavam os trilhos da Via Algarviana, a grande rota pedonal que atravessa o Algarve de Alcoutim ao Cabo de São Vicente, passando pelo coração da serra de Monchique, devastado, em 2018, pelo grande incêndio.

Por isso, uma das primeiras ações a ir para o terreno foi a remoção da sinalética da Via Algarviana destruída pelo fogo, instalando nova. Isso para que, como explicou Anabela Santos, «as pessoas não deixassem de fazer os trilhos de Monchique quando os empresários mais precisavam dessas pessoas». Ao todo, foram substituídas 266 balizas, um poste com duas setas e três painéis informativos.

O projeto «Revitalizar Monchique» acabou por ter o apoio total da então secretária de Estado do Turismo, a atual ministra Ana Mendes Godinho. E garantiu 100% de financiamento do Turismo de Portugal, o que foi uma «oportunidade única», como sublinhou Anabela Santos, da Almargem, responsável pela gestão da Via Algarviana.

João Fernandes, presidente da RTA e da ATA, não tem dúvidas: «o Revitalizar Monchique é um nítido exemplo de sucesso: cinco meses após o incêndio, já havia um plano estratégico de ação, já os parceiros estavam identificados e já se dava os primeiros passos pela revitalização de Monchique e pela valorização dos seus ativos naturais».

Neste projeto liderado pela Região de Turismo do Algarve, lançado em 2019, foram desenvolvidas quase 20 ações, implementadas pelos parceiros da RTA, a Associação Turismo do Algarve, a associação Almargem e a Câmara Municipal de Monchique.

 

 

Ao fim de quatro anos – com dificuldades acrescidas causadas pela pandemia -, os quase 480 mil euros financiados pelo Turismo de Portugal deixam no terreno mais cinco percursos pedestres sinalizados e já homologados oficialmente, um novo site promocional (visitmonchique.pt), um catálogo de experiências turísticas (que esgotou na recente BTL), um festival de caminhadas, um guia de percursos pedestres e um folheto informativo com a rede de pequenas rotas pelo concelho.

O guia de percursos pedestres e o folheto informativo, com todos os percursos de pequena rota reunidos num só papel que se põe no bolso, eram dos materiais mais pedidos por Vera Inácio, técnica do Posto de Turismo de Monchique, todos os dias bombardeada por pedidos dos turistas. «Toda esta informação está no site ou na aplicação, mas as pessoas gostam, algumas sentem-se mais seguras, por poder ter um folheto em papel para levar consigo», explicou Anabela Santos.

Os cinco novos percursos – três pequenas rotas e duas ligações à GR13/Via Algarviana – foram uma forma de reforçar a oferta. Para os fazer, «foi fundamental o grande apoio dos presidentes de Junta de Freguesia, que foram connosco para o terreno», acrescentou.

 

 

Sobre o novo site VisitMonchique.pt, Rosa Marques, técnica da Câmara local, explicou que a ideia foi «conjugar os agentes locais, as empresas, as suas ofertas aos mais variados níveis, num só sítio, traduzido em seis línguas».

A autarquia aproveitou para promover e instalar no terreno a Rede Municipal de Geocaching, criando «um produto novo, que não existia aqui, mas para o qual há uma grande comunidade interessada, nacional e internacional», como disse Rosa Marques.

Os locais onde estão guardados os geocaches, que levam os caminhantes a descobrir o território, numa espécie de caça ao tesouro, já receberam, desde o Festival de Caminhadas de Monchique, em Dezembro, 769 visitas.

Esta plataforma, acrescentou, não está parada: «estamos sempre a receber fotos atualizadas dos alojamentos, da restauração que inicia».

Mas uma das vertentes mais inovadoras do «Revitalizar Monchique» passou pela capacitação dos profissionais do setor, através de cinco sessões de divulgação de boas práticas na atividade turística, que envolveram 20 unidades de alojamento e 10 empresas de animação.

«Só um tecido empresarial consciente dos valores em presença no território e das necessidades destes turistas especiais pode prestar um melhor serviço», garantiu Anabela Santos.

Na sala estavam alguns dos empresários locais que participaram nestas ações de capacitação, tendo partilhado o que aprenderam e o que fizeram para melhorar o acolhimento aos turistas das caminhadas. Laura, da Quinta do Tempo, garantiu ter cimentado a sua ideia de que estes turistas, «sobretudo os alemães e holandeses, procuram a nossa cultura, saber como se faz as coisas, o que é tradicional».

Helena Martiniano, atual vereadora da Câmara de Monchique, foi outra das empresárias que fez a formação. Hoje não tem atividade empresarial, mas espera um dia voltar a ela, usando «o muito que aprendi, até pela troca de experiências entre os participantes».

Michel Izaú, da VilaFoia, explicou que este alojamento desenvolveu «trilhos que ligam à Via Algarviana», adicionou «transporte para os clientes, para os ir buscar e levar ao fim ou início das caminhadas», bem como um serviço de «lanches» para os caminhantes levarem. E instalou um jacuzzi outdoor, que até «ajuda a recuperar os músculos após uma caminhada».

 

 

Mas era preciso dar a conhecer toda esta oferta estruturada aos potenciais clientes. Por isso, foi lançada a campanha «Try Monchique – deixe que Monchique guie a sua aventura», ativa de Outubro de 2022 a Janeiro deste ano, em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Alemanha e Países Baixos.

Apoiada num site e em vídeos promocionais, a campanha apostou nas principais redes sociais e passou ainda por publicações em sites especializados, jornais e revistas daqueles mercados, com o objetivo de aumentar o número de visitantes do concelho, em especial na época baixa, mais apropriada para caminhadas.

Nesse esforço de dar a conhecer Monchique e a sua vasta oferta baseada numa natureza privilegiada, o projeto «Revitalizar Monchique» convidou também jornalistas e operadores turísticos de vários países, Portugal incluído, para visitas ao território, de modo a viver experiências turísticas na serra. Ao longo de 2022, passaram pelo concelho 13 jornalistas e bloggers de viagens e 12 operadores turísticos de Portugal, Reino Unido, Espanha, Alemanha e Países Baixos.

Provavelmente já como efeito deste trabalho conjugado de promoção de Monchique, há quem fale de números recordes de alojamento nestes meses de Inverno, no concelho. Isto apesar de a promoção, como salientou Ana Gomes, da Almargem, ser «um trabalho a médio e longo prazo. Não se acorda no dia seguinte com os hotéis cheios».

Entre as novidades que surgiram na reta final do projeto, está um folheto que, num dos lados, tem um mapa normal do concelho, com todos os percursos e ofertas para os visitantes, e, do outro, um belo mapa em ilustração. Foi também criada, pelo designer Bruno Boto, uma nova identidade visual e a marca «Monchique, Percursos Pedestres».

 

 

Mas, afinal, será que todo este esforço em prol do turismo de natureza (associado à cultura, ao património, à gastronomia) dá resultados? Quantas pessoas efetivamente fazem os percursos pedestres (e cicláveis) da serra de Monchique?

«Quantas pessoas passam aqui? Não sabíamos!», admitiu Anabela Santos. Por isso, ainda dentro do projeto, «instalámos este mês quatro contadores ao longo dos percursos. Vai ser uma boa ferramenta para termos a noção de quantas pessoas caminham em Monchique».

Em jeito de balanço, João Fernandes, presidente da RTA e da ATA, diz que «só posso louvar a elevada capacidade de “fazer acontecer no terreno” por parte da Almargem e do Município de Monchique. Foram incansáveis neste projeto que converteu uma tragédia em oportunidade de crescimento».

Luís Palma, presidente da associação Almargem, sublinha, por seu lado, que este projeto «veio mostrar como a proteção e a preservação do ambiente e dos recursos naturais são importantes para a sustentabilidade local. É um orgulho para a Almargem, como associação ambientalista e entidade gestora da Via Algarviana, ter podido demonstrar, mais uma vez, ao longo destes anos, que há alternativa ao turismo de massas. É preciso valorizar a riqueza da paisagem do interior e conciliá-la com a atividade humana. Monchique é um exemplo deste potencial e também dos frutos que colhemos ao trabalhar em parceria».

Paulo Alves, presidente da Câmara de Monchique, assegura que hoje «temos um destino turístico bastante mais cimentado e fortalecido. A oferta local saiu mais capacitada, com os profissi0onais do setor mais despertos e focados. A nossa rede de percursos está mais completa, proporcionando, assim, uma maior e melhor oferta e atratividade turística. O nosso território saiu, desta forma, mais valorizado, consequência da campanha promocional, com excelentes resultados alcançados».

O autarca sublinhou igualmente que o Município continua a apostar no património cultural e ambiental. Exemplo disso é a valorização arqueológica do Cerro do Castelo de Alferce, onde aliás será criado um miradouro, ao qual só se poderá chegar a pé, bem como a construção do passadiço de madeira do Barranco do Demo, ali perto, com ligação pedonal ao castelo.

 

 

E agora? Terminado o projeto, o que fazer?

O presidente da RTA e da ATA foi perentório: «precisamos de um segundo Revitalizar Monchique»… que até poderá ter outro nome. «A dinâmica criada não pode ficar apenas por um ciclo».

E de onde virá o financiamento para isso? Anabela Santos espera que o novo quadro comunitário de apoio, no âmbito do Portugal 2030, tenha verba para apoiar as ações concretas que ainda é preciso fazer e as despesas recorrentes, como as da manutenção dos percursos e da sua sinalética.

Mesmo no que diz respeito à capacitação dos agentes e empresários locais, «nós fizemos o início, mas há ainda muito para fazer», disse.

Este ano, lá para Dezembro, haverá nova edição do Festival de Caminhadas de Monchique que, em 2022, adiado primeiro em Junho por causa do risco de incêndio e promovido demasiado tarde depois, teve, ainda assim, cerca de 400 participantes.

A serra de Monchique é não só o ponto mais alto do Algarve como um repositório de importantes valores naturais, paisagísticos e patrimoniais, muito fustigados pelos incêndios, mas com grande capacidade de resiliência. Para isso, muito contribuem os agentes locais, não só ao nível das autarquias, como das pequenas empresas locais de alojamento, restauração e animação.

Apesar dos autocarros que despejam turistas “toca e foge” no alto do Fóia, para ver as vistas, tirar uma selfie e regressar ao ar condicionado, a grande vocação da serra é o turismo de natureza. Por isso, a apresentação dos resultados do projeto «Revitalizar Monchique» não poderia ter terminado de melhor forma do que com um poema do monchiquense Eduardo Jorge Duarte, que culmina neste verso: «Caminhar é ler com as pernas». Já pensou em ir a Monchique «ler com as pernas» todo aquele território?

 

Fotos: Ana Gomes | Almargem e Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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