“Os Dias Abertos de Cachopo” arrancam com fim de semana sobre Biodiversidade Agrícola

Iniciativa coordenada pelo Museu Municipal de Tavira, envolve pessoas, associações e outras entidades de Cachopo

Palheiro da Mealha (Cachopo) – Foto: Filipe da Palma | Sul Informação

Passeios, oficinas, demonstrações culinárias e conversas prenchem o programa d’“Os Dias Abertos de Cachopo”, que vão decorrer nesta aldeia do interior serrano do concelho de Tavira de Março até Junho.

O arranque da iniciativa ocorre nos dias 18 e 19 deste mês. Assim, no dia 18 de março, no monte do Graínho, tem lugar o passeio e oficina “Biodiversidade Agrícola – património e paisagens” com a Associação Colher para Semear – Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais.

No dia 19, o monte da Mealha recebe uma demonstração culinária “Biodiversidade Agrícola – comidas antigas e inovação”, pela Chef Margarida Vargues, assim como uma conversa promovida pela Associação Colher para Semear.

O mote do encontro é o “tomate de inverno” também conhecido como “tomate de pendura” ou “tomate de guarda”. À semelhança de outros alimentos, o tomate, depois de apanhado, é guardado e conservado para durar até à próxima colheita. O frio da serra, no Inverno, retira-lhe cor e acentua o sabor.

Margarida Vargues mostrará as possibilidades culinárias deste tipo de tomate e de outros produtos da época – como cozinhar em família e com as crianças e como estes produtos são preparados noutras áreas da cultura mediterrânica.

As atividades gratuitas terão a duração máxima de sete horas, estando a partida de Tavira prevista para as 09h30. As ações têm um número limitado de pessoas e o transporte é da responsabilidade da autarquia.

Todos os interessados deverão inscrever-se, até dia 15 de Março, clicando aqui (“Biodiversidade Agrícola – património e paisagens”) ou aqui (“Biodiversidade Agrícola – comidas antigas e inovação”).

“Os Dias Abertos de Cachopo” abordam temas como a biodiversidade, a paisagem, a geodiversidade, o património artístico religioso, a história da produção cerealífera, a alimentação e gastronomia, a arquitetura vernacular e os usos de materiais de construção, possibilitando a investigação à participação dos cidadãos, assim como a partilha de conhecimentos por parte da comunidade.

O trabalho, coordenado pelo Museu Municipal de Tavira, visa a proteção e salvaguarda do património cultural e natural (uma das metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável “Cidades e Comunidades Resilientes” da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável). Neste inclui-se a relação entre património imaterial e sustentabilidade, centrada na Dieta Mediterrânica e valorizando, desta forma, os recursos territoriais e o conhecimento.

Este programa integra o projeto “Dieta Mediterrânica nos Territórios de Baixa Densidade”, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional ao abrigo do Programa Operacional CRESC Algarve 2020.

Os interessados em explorar, Cachopo, durante o fim-de-semana, têm à disposição, para alojamento, os Centros de Descoberta do Mundo Rural, localizados nos montes da Feiteira, Casas Baixas e Mealha. Pode reservar clicando aqui.

 

 

O programa d’“Os Dias Abertos de Cachopo” continuam no dia 15 de Abril, com o passeio “A produção cerealífera em Cachopo: biodiversidade e sistemas de moagem” pela Associação Colher para Semear – Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais, que será guiado por Carlos Faísca (historiador) e Custódio Campos (moleiro).

No início do século XX, com a redescoberta dos fundamentos da transmissão genética (as Leis de Mendel), existiu um esforço acrescido na obtenção de plantas agrícolas com determinadas características. Os cereais, base da alimentação humana até muito recentemente, tornaram-se mais produtivos, mas, em muitos casos, necessitando de um investimento significativo em diversos fatores de produção.

«Neste contexto, a geografia da disseminação das sementes dos cereais melhorados e/ou híbridos foi muito desigual. Existiram regiões que, pela sua estrutura económica, social e agrária, prolongaram, até à segunda metade do século XX, o uso de variedades adaptadas durante milénios pelos agricultores às condições agroecológicas locais. Cachopo parece ter sido um desses casos, onde vamos encontrar a memória viva do cultivo de centeio e [trigo] barbelo, entre outros cereais», explicam os organizadores.

No dia seguinte, 16 de Abril, haverá uma demonstração culinária e uma conversa sobre “Biodiversidade Agrícola – comidas antigas e inovação” por Margarida Vargues, Chef de cozinha, e pela Associação Colher para Semear – Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais

A atividade centrar-se-á no património cerealífero de Cachopo, nos sabores e saberes do cereais e produtos da época – como cozinhar em família e com as crianças e como estes produtos são preparados noutras áreas de cultura mediterrânica.

Em Abril, as atividades estão integradas nas comemorações do Dia Nacional dos Moinhos e do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.

 

Cachopo

 

Em Maio, para o dia 13, está marcado o passeio “A paroquial de Santo Estêvão de Cachopo: memória e identidade”, que será guiado por Marco Sousa Santos (historiador de arte) e Albino Martins (diácono).

Fundada na 1ª metade do século XVI, a igreja de Santo Estêvão de Cachopo guarda as memórias de quase cinco séculos de história desta freguesia e das suas gentes. Espaço de reunião, palco de cerimónias, sede de confrarias e ponto de partida e chegada de procissões, este edifício foi sempre o centro religioso e social do território envolvente.

Apesar das obras que alteraram profundamente a estética do edifício, na arquitetura reconhecem-se ainda os traços da sua antiguidade. No interior, alfaias e imagens de culto (algumas ainda do século XVIII) dão conta do número e tipo de devoções que se fixaram na freguesia, contribuindo para um melhor entendimento da sua história e das crenças e tradições acarinhadas pela sua população.

No domingo, 14 de Maio, terá lugar um outro passeio pedestre, desta vez sobre “Os trajetos da Serra entre montes de Cachopo para a interpretação da arquitetura e da paisagem”, guiado por Miguel Reimão Costa (arquiteto).

A paisagem de Cachopo é caracterizada, como outras subunidades da Serra, pela presença de montes de seareiros, de caseiros e de lavradores, com aspetos particulares a nível da construção e da organização da casa tradicional.

Grande parte dos montes de seareiros da freguesia concentra-se na sua parte central, correspondente à antiga herdade de Cachopo, deixada como terras comuns às populações locais. Partindo destas terras, o percurso procurará interpretar os modos de habitar da região, revelando alguns dos temas que marcam a diversidade da sua arquitetura.

Em Maio, as atividades estão integradas nas comemorações do Dia Internacional dos Museus. Em simultâneo, decorre a Feira de Cachopo na aldeia.

Finalmente, a 3 de Junho, terá lugar o passeio “Histórias escondidas nas rochas e paisagens de Cachopo”, que terá como guias Francisco Lopes e Hélder Pereira (professores de Biologia e Geologia, especialistas em Património Geológico e Geoconservação).

Mais do que uma simples caminhada… propõe-se uma autêntica viagem no tempo para explorar as histórias escondidas nas rochas e paisagens de Cachopo e arredores. O enredo dessas histórias inclui uma viagem de 350 milhões de anos, com avalanches submarinas, fósseis de organismos marinhos e ainda cadeias de montanhas e oceanos desaparecidos.

No dia seguinte, 4 de Junho, será o arquiteto Alexandre Miguel Costa a guiar o passeio dedicado ao tema “Processos e técnicos de construção tradicional, vernácula, de alvenarias de xisto”.

Trata-se de um passeio pela envolvente próxima da aldeia de Cachopo, visitando algumas das obras da autoria do, já extinto, GTAA Sotavento (Gabinete de Apoio às Aldeias do Algarve – Sotavento). Serão explicadas as abordagens de recuperação e reabilitação em edifícios, azinhagas e caminhos, focadas no (re)uso das técnicas e processos de construção tradicional, vernácula, hoje praticamente desaparecidas.

 

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