Milhões para as algas e algas para milhões: o futuro da Bioeconomia Azul

Projeto Vertical Algas da Agenda Mobilizadora da Bioeconomia Azul do PRR foi lançado esta segunda-feira no Campus da Penha da Universidade do Algarve

Criar, até 31 de Dezembro de 2025, mais de 52 novos tipos de produtos, processos e serviços que utilizam a biotecnologia azul é o grande objetivo do projeto Vertical Algas, cuja reunião de lançamento decorreu esta segunda-feira, 27 de Março, no Campus da Penha da Universidade do Algarve.

Trata-se de um novo «paradigma sustentável, inovador e descarbonizador, que encontra no mar uma resposta ao desafio da escassez global de recursos terrestres» e que faz parte da Agenda Mobilizadora da Bioeconomia Azul do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Desenvolver novas resinas termoplásticas de base marinha para o setor da cortiça; criar um novo paradigma da produção da amêijoa – tornando-a independente dos bancos de sedimentos naturais; usar algas e lixo marinho para produção de tecidos e malhas para vestuário e calçado; desenvolver novos produtos alimentares; escalar o cultivo e processamento sustentável de algas; desenvolver novos produtos para a alimentação animal ou criar novos métodos do sistemas de monitorização e rastreabilidade de peixe e pescado selvagem são alguns dos resultados que o projeto pretende alcançar em cerca de três anos.

Miguel Marques, presidente do Conselho de Administração Executivo da Inovamar (sociedade líder do pacto da bioeconomia azul que tem no seu capital acionista a Sociedade Francisco Manuel dos Santos, o Grupo Amorim, a Oceano Fresco, a TMG, a Canreal, a Necton, a ETSA e a Sonae), fala numa «agenda ambiciosa», mas consciente do potencial de quem está a  trabalhar para que ela se concretize.

«Portugal é bom em muitas coisas e esta agenda também vai mostrar isso. Temos uma visão para um Portugal que, com pioneirismo, quer desenvolver a biotecnologia azul. Queremos contribuir para a reindustrialização e descarbonização da economia portuguesa através da economia azul», frisou durante a reunião de lançamento de um dos sete projetos secundários do consórcio, ligado ao aproveitamento das algas.

 

Miguel Marques, presidente do Conselho de Administração Executivo da Inovamar. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Trata-se de um projeto que envolve 38 entidades portuguesas, 11 das quais do Algarve, lideradas pela empresa algarvia Necton, que vão criar novos produtos, processos e serviços sustentáveis a partir de algas, e que conta com um investimento total de 133 milhões de euros, sendo 94 comparticipados pelo PRR.

Apesar de se tratar de um pacto «completamente nacional», Miguel Marques não deixa de realçar a importância que a região do Algarve tem para o seu desenvolvimento e avanço, devido à investigação científica que já tem aplicada no que ao tema das algas diz respeito.

Este é um aspeto também enaltecido pelo reitor Paulo Águas, que diz que «a Universidade do Algarve sente que tem muito sangue neste projeto».

«O conhecimento que temos agora sobre estas potencialidades só é possível porque foi desenvolvido um trabalho, ao longo de muitos anos, que hoje nos dá competências para poder avançar para um projeto inovador que irá transformar a economia, não só da região, como do país e até do mundo», confessou ao Sul Informação.

Para Pedro Valadas Monteiro, diretor Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, o projeto ontem lançado simboliza «um mundo enorme de potencialidades».

«É um caminho que tem de ser feito, não há volta a dar. Estamos perante uma população mundial que vai chegar, rapidamente, a 9 biliões. O planeta não estica, e, por isso, também não podemos destruir para produzir estes alimentos. Temos de ser imaginativos na maneira como nos conseguimos alimentar: o grande desafio vai ser arranjar proteína e as algas podem ser uma opção», disse.

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Assente na sustentabilidade, o Pacto da Bioeconomia Azul pretende ainda contribuir para a descarbonização, dando, ao mesmo tempo, resposta à crise que o mundo tem vivido nos últimos tempos.

«Todos sabemos que, de uma certa forma, o país e o mundo vivem uma situação instável, por vários motivos. Independentemente das crises pandémicas ou das crises que têm a ver com conflitos, já se notava na economia nacional uma necessidade de mudança de paradigma», afirmou Miguel Marques, apontando que o caminho é no sentido de «uma economia descarbonizada» para a qual este projeto irá contribuir.

Os grandes objetivos do projeto são, assim, «impulsionar o desenvolvimento de um setor económico industrial de ponta», «ser a primeira grande montra do potencial transversal e ecológico das soluções de biotecnologia marinha», «contribuir para posicionar Portugal no contexto global enquanto pioneiro de um setor que se estima vir a atingir globalmente 200 mil milhões em 2030» e «materializar a grande oportunidade de crescimento e inovação  das industrias do mar».

Questionado sobre se acredita que as novas dezenas de produtos e serviços terão aceitação, Miguel Marques diz que sim.

«Nós somos um passo necessário para algo que tem vindo a ser construído há vários anos – diria há mais de duas décadas. Certamente, existirão novos produtos que necessitarão de trabalhar melhor o seu mercado, mas grande parte do que aqui estamos a fazer gerará novos produtos que têm já necessidades concretas em várias indústrias, nomeadamente na alimentar», remata.

O Pacto da Bioeconomia Azul agrega 83 entidades nacionais, desde grandes a pequenas e médias empresas, start-ups e instituições de investigação e desenvolvimento,  que têm como objetivo contribuir para «uma mudança de paradigma» no país.

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

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