Loulé, Faro e Olhão serão ligados por um metro que anda em estrada em vez de carris

Projeto prevê um nível de serviço semelhante ao da Linha de Cascais

Metrobus de Metz, em França, um dos exemplos dados no estudo da TIS

Terá uma linha de 38 quilómetros, com 24 paragens, e ligará o centro de Loulé à Estação de Olhão, com passagens na cidade de Faro, no Aeroporto, nos dois campi farenses da Universidade do Algarve e no Parque das Cidades. Tudo isto, em linhas 100% dedicadas, com frequências de 12 em 12 minutos, à hora de ponta, e num horário alargado. Estas são as principais caraterísticas do projeto de Metrobus ontem apresentado em Olhão, que se pretende que esteja concluído até 2029.

O estudo prévio desta solução de mobilidade sem emissão de gases de efeito estufa, seja através de veículos 100% elétricos, seja com viaturas alimentadas a hidrogénio verde, foi dada a conhecer esta quarta-feira, 1 de Março, numa sessão que contou com a presença do primeiro ministro António Costa e de outros membros do Governo, realizada no âmbito da iniciativa “Governo + Próximo”.

A apresentação do estudo foi feita na antiga litografia, situada a Norte da linha férrea, entre o Cemitério e a Estação da CP de Olhão , adquirida em 2021 pela Câmara.

Este será o local onde será construída a estação de partida do futuro Metrobus, mas também 300 fogos de habitação com renda acessível e um parque de estacionamento para 500 carros.

A estimativa da empresa TIS, que realizou o estudo, por encomenda da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, é que a procura média ronde as 40 mil viagens por dia. Quanto ao custo de instalação, será «um envelope que rondará os 120 milhões de euros», embora «ainda seja muito cedo para apontar valores, porque depende muito do que forem as intervenções específicas», segundo Susana Castelo, da TIS, que apresentou o estudo.

José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, revelou que a União Europeia aceitou que a região destinasse 70 milhões de euros do Programa Operacional Algarve 2030 para este projeto, que tem uma forte componente ambiental, uma vez que permitirá, segundo o estudo, evitar a emissão de qualquer coisa como 6,34 mil toneladas de CO2/ano.

Quanto ao modelo de financiamento, poderá passar pelas autarquias envolvidas, mas também «por uma concessão, em que o concessionário assume essa responsabilidade».

 

José Apolinário e Susana Castelo – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Este é, como salientou Susana Castelo, um projeto que «já existe há muito tempo, cerca de 20 anos», que permitirá servir «três estações ferroviárias em três concelhos», neste caso, as de Olhão, Bom João (Faro) e Parque das Cidades (Loulé), mas também o Aeroporto Gago Coutinho, Montenegro e o Campus de Gambelas da UAlg, entre outros.

O que está em causa é servir três concelhos que, entre si, têm cerca de 40% da população residente do Algarve, mais concretamente «cerca de 185 mil» pessoas, 70 mil das quais vivem «a menos a 600 metros de uma paragem» do futuro Metrobus.

Havendo massa crítica, a ideia é criar uma oferta de transporte público atrativa e que permita reduzir a utilização de transporte individual.

Desta forma, o projeto foi desenhado tendo em mente «um nível de serviço muito semelhante ao que é feito na Linha de Cascais».

O horário de funcionamento será «entre as 6h30 e a 1h00, de modo a servir o setor HORECA», com frequências de «cinco serviços por hora e sentido, no período de ponta em dia útil (intervalos de 12 minutos)».

Fora dos períodos de ponta dos dias úteis e aos fins-de-semana, estão previstos três serviços por hora e sentido (intervalos de 20 minutos). No período noturno, haverá dois serviços por hora e por sentido (intervalos de meia hora).

 

 

Os autores do estudo partiram de um cenário base que apontava para uma solução tipo tram, que aproveitasse a linha férrea já existente, mas essa solução revelou-se pouco atrativa, devido aos custos associados e às limitações que teria.

Desta forma, optou-se por um modelo de Metrobus, também conhecido por BRT, a sigla de Bus Rapid Transit.

«Serão veículos parecidos com os autocarros, mas que não são exatamente como um autocarro convencional. Têm uma roupagem diferente, têm carruagens articuladas», entre outras caraterísticas, explicou Susana Castelo ao Sul Informação.

«Todo este projeto está pensado para se desenvolver num canal exclusivo. Não há coexistência com outros modos. Há cruzamento com estradas, mas terá sempre prioridade de circulação, para permitir velocidades comerciais mais elevadas e uma prestação que concorra com o automóvel. Porque se nós deixamos que haja um carro aqui e outro acolá, no fundo temos um autocarro a andar no meio da rua».

Nesta linha de Metrobus «haverá dois sentidos, cada qual em corredor próprio».

«Este projeto é verdadeiramente estruturante, pois envolve três concelhos, que sendo vizinhos, estão, na prática, a uma enorme distância, se não estiverem devidamente articulados. Esta é uma infraestrutura fundamental para a estruturação de todo este território. E não é só porque se vai poder andar de um lado para o outro. É porque potencia a fixação de atividades e a dinamização territorial das mesmas», ilustrou António Costa, durante a sessão.

 

António Costa – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«O estudo hoje apresentado foi importante para a negociação com a União Europeia. Agora, temos de fazer uma análise mais detalhada, para afinar o traçado e aferir os custos exatos. Também teremos de ter noção de qual será o custo de financiamento», considerou, por seu lado, José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, em declarações ao Sul Informação, à margem da sessão.

Desta forma, os passos seguintes estão já bem definidos: É necessário fazer mais estudos, mais precisamente de “procura e dimensionamento preliminar do modelo de exploração”, de “viabilidade do traçado” e de “viabilidade económico-financeira”.

Este trabalho deverá estar concluído «no primeiro trimestre de 2024», com a data limite para a execução do projeto a fixar-se «no final de 2029», para que as verbas do Algarve 2030 possam ser aproveitadas na íntegra.

José Apolinário esclareceu ainda que este é «um projeto totalmente à parte da linha ligeira litoral do Algarve», prevista no Plano Ferroviário Nacional.

 

 

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