«Prepare-se! Está prestes a conhecer um jardim sem plantas exóticas ou relvados, mas povoado de espécies adaptadas ao clima mediterrânico». É com esta frase que somos recebidos no Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro, em Querença, numa encosta virada a sul, onde há medronheiros, rosmaninho, poejo, alecrim, madressilva ou tomilhos-de-Creta.
A ideia para criar este verdadeiro oásis mediterrânico surgiu em 2019 e partiu da Fundação Manuel Viegas Guerreiro.
Ultrapassada a pandemia, esta sexta-feira, 10 de Março, foi dia de festa em Querença, com a inauguração daquele que é o primeiro jardim botânico mediterrânico do Algarve e dois convidados especiais: Ramalho Eanes, ex-Presidente da República, e a esposa Manuela.
O antigo chefe de Estado era amigo de Gomes Guerreiro, natural de Querença, académico que foi dos primeiros ecologistas em Portugal.
A flora mediterrânica era uma das suas paixões; o impacto das decisões políticas e económicas, contrárias à sustentabilidade, uma das suas principais preocupações.
«É importante lembrarmo-nos e fazer com que se lembrem daqueles que foram muito grandes», disse Ramalho Eanes, aos jornalistas, referindo-se ao amigo Manuel Gomes Guerreiro, falecido em 2000, e que foi também o primeiro reitor da Universidade do Algarve (UAlg).
Para o antigo Presidente da República, este Percurso, que ocupa uma área de cerca de 1,5 hectares, é, acima de tudo, uma «justa homenagem» a um «homem que foi exemplar».
«Devemos comemorá-lo para nos lembrarmos dele como fonte e motor de inspiração, em prol do país e da região», acrescentou.
Fernando Santos Pessoa é um dos principais rostos desta iniciativa. Foi ele, enquanto arquiteto paisagista e «poeta da paisagem», que projetou este Percurso Eco-Botânico.
Teve, nesta missão, a ajuda de dois discípulos (João Marum e João Rodrigues) e a companhia, na consultoria científica, de Jorge Paiva, seu amigo e biólogo premiado que também esteve presente na inauguração.
«Com isto, há a garantia de que temos aqui plantas da flora local, o que até pode servir de estímulo», disse, entusiasmado, Fernando Santos Pessoa ao Sul Informação.
A escolha, quase exclusiva, de plantas autóctones permite que quase não seja necessário regar ao longo do ano.
No jardim, que se desenvolve em socalcos, há múltiplas espécies de flora característica da região do Algarve e do Mediterrâneo, como a alfarrobeira, o loureiro ou o carvalho-cerquinho.
Muitas têm um bónus adicional: além da identificação, há um QR Code que permite obter no telemóvel ou tablet informação científica adicional sobre cada uma delas, através de uma aplicação desenvolvida pela Universidade do Algarve.
Alguns QR Codes disponibilizam vídeos que servem de enquadramento não só à flora, como a personalidades relacionadas com o percurso, caso de Manuel Gomes Guerreiro, Fernando Santos Pessoa ou Filipa Faísca, guardiã da tradição oral de Querença.
Para o arquiteto paisagista, esta vertente pode ter «efeitos didáticos», junto, por exemplo, dos mais novos, algo também vincado por Ramalho Eanes.
«É um jardim muito importante, sobretudo para os jovens para saberem quais são as plantas nativas e o interesse que têm de uma perspetiva ecológica», considerou.
Nesta visita a Querença, Ramalho Eanes e a esposa Manuela foram ainda protagonistas de um momento simbólico. Ao lado de uma oliveira com 1575 anos, o casal ajudou a plantar uma outra, bem mais nova.
«Se o professor Gomes Guerreiro fosse vivo, hoje estaria muito feliz».
Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação
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