Almargem: “Simplex Ambiental” é «lei contra a proteção do ambiente disfarçada de simplificação administrativa»

«O Simplex Ambiental só em aparência é uma simples desburocratização: na verdade, traduz o desrespeito pelas leis ambientais e pelo cumprimento das diretivas europeias»

A Almargem contestou hoje, em comunicado, o “Simplex Ambiental”, que considera uma «lei contra a proteção do ambiente disfarçada de simplificação administrativa».

A associação ambientalista recorda que foi recentemente publicado o Decreto-Lei 11/2023, o chamado “Simplex Ambiental”, que pretende simplificar o licenciamento para a área do ambiente. Contudo, considera, «este diploma vem diminuir as exigências ambientais e até dispensar diversas obrigações, em vez de promover a tão necessária simplificação e eficiência administrativa».

O diploma, promovido pelo Gabinete do Secretário de Estado da Digitalização e Modernização Administrativa, esteve inicialmente em consulta pública entre Agosto e Setembro do ano passado no portal ConsultaLex. A Almargem sublinha que «a consulta encontra-se encerrada, mas não foi publicado nenhum relatório, ignorando-se quantas participações houve e em que sentido foram».

Ora, acrescenta, «este diploma é contraditório por si só, quando comparado com outros licenciamentos económicos existentes em Portugal, que são mais exigentes. Ainda mais contraditória é a sua aprovação no contexto europeu: a agenda europeia exige de todos os estados-membros uma governação responsável, em linha com os Objetivos Climáticos, Pacto Ecológico e Estratégia Europeia para a Biodiversidade 2030».

A simplificação dos licenciamentos ambientais, segundo este Decreto-Lei, «passará a ser feita através da eliminação de licenças, autorizações e atos administrativos, alguns deles de facto repetitivos e desnecessários, mas muitos outros essenciais para garantir a proteção ambiental».

Desta forma, defende a Almargem, «não se está a assegurar essa proteção, como defende o Sr. Presidente da República, que promulgou este diploma. Em vez disso, a nova lei vai permitir que se licencie tudo, usando falsamente termos como “desenvolvimento sustentável”». Por isso, «esta pretensa “simplificação” põe fim à tentativa de gerir o desenvolvimento económico em sintonia com os compromissos ambientais».

«O rigor de um processo de licenciamento desaparece quando é substituído, ou medido, exclusivamente pela rapidez na decisão administrativa. Desvalorizar e anular procedimentos de avaliação ambiental, através do deferimento tácito e de supostas “soluções fáceis”, sem criar novos mecanismos mais eficientes e sem supervisão, vai apenas manter a burocracia que já existe, agora acrescida da falta de critérios», acrescenta a associação ambientalista algarvia.

Na opinião da Almargem, o “Simplex Ambiental” vem ainda «reduzir a participação da sociedade civil, retirando-lhe direitos, já que, para alguns projetos e investimentos, é eliminada a necessidade de uma Avaliação de Impacto Ambiental».

«Os licenciamentos ambientais, por serem submetidos a consulta pública, eram analisados pela sociedade civil, que dispunha de uma ferramenta para monitorizar o cumprimento da legislação e das funções das entidades competentes. Os projetos que dispensarem esta avaliação ficam, assim, fora do escrutínio público», denuncia.

A Almargem salienta que Portugal tem «problemas ambientais graves, que fariam esperar uma postura de prevenção e educação, com legislação adequada e em linha com as melhores práticas internacionais para preservar o ambiente e a qualidade de vida».

Estes problemas são, na sua opinião, «sobejamente conhecidos: a erosão grave de grande parte da linha costeira; a construção de empreendimentos em zonas vulneráveis e ambientalmente sensíveis; a escassez hídrica; recursos hídricos de baixa qualidade ambiental (poluídos pela indústria, turismo, agricultura intensiva e pecuária); a perda alarmante de biodiversidade; os atrasos sistemáticos na criação e organização das ZEC (Zonas Especiais de Conservação) e SIC (Sítios de Interesse Comunitário), entre outros».

«Estes desastres têm, aliás, originado processos contra o estado Português no Tribunal das Comunidades», explica.

Num país em que se «transfere a responsabilidade para os promotores, onde não há fiscalização, onde as entidades não respondem às denúncias feitas pelos cidadãos e onde há interesses instalados, será fácil depauperar o território e os seus recursos, como aliás tem sido feito até aqui, mas agora de uma forma mais acelerada».

A Almargem conclui: «simplifica-se o processo administrativo em nome do desenvolvimento económico, mas sem medir os efeitos a médio e longo prazo. Esta lei levará, certamente, a situações de não retorno e a processos onerosos nos casos em que seja necessário reverter um licenciamento».

Por isso, frisa ainda, «o Simplex Ambiental só em aparência é uma simples desburocratização: na verdade, traduz o desrespeito pelas leis ambientais e pelo cumprimento das diretivas europeias. Em vez de avançarmos para a sustentabilidade, estaremos em rota de retrocesso».

 

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