Águas residuais tratadas vão ajudar a “encher” a Barragem da Bravura

Governo lançou «projeto pioneiro» para aumentar a disponibilidade hídrica na depauperada albufeira do concelho de Lagos

É «um dos nossos sistemas menos resilientes» e uma das três barragens do país em estado considerado crítico, por ter menos de 20% de volume armazenado. Para fazer face a esta escassez, o Ministério da Agricultura está a promover um projeto pioneiro, que permitirá reforçar as disponibilidades da Barragem da Bravura, em Lagos, com águas residuais tratadas.

A novidade foi anunciada na passada semana, durante uma visita de Maria do Céu Albuquerque e de Duarte Cordeiro, ministros da Agricultura e do Ambiente, ao Bloco II do Aproveitamento Hidroagrícola de Silves, Lagoa e Portimão, no âmbito da iniciativa “Governo + Próximo”.

«O projeto que mencionei aqui tem a ver com a Bravura. Este é um dos nossos sistemas menos resilientes. Aliás, durante a seca de 2022, tivemos necessidade de fazer várias intervenções para recuperar 1,5 hectómetros cúbicos (hm3) de disponibilidade», explicou ao Sul Informação a governante.

Uma vez que há a «consciência de que precisamos de aumentar a disponibilidade de água, para suprir as necessidades dos nossos agricultores», o Governo vai avançar com uma iniciativa «pioneira».

«Na Barragem da Bravura, vamos combinar as águas de superfície com águas residuais tratadas e, eventualmente, com reforço com águas de profundidade, caso seja necessário», revelou.

«Estamos a falar de águas residuais tratadas vindas de onde a Águas do Algarve tenha disponibilidade para as fornecer, de modo a podermos fazer este desenvolvimento sustentável da nossa agricultura. O projeto vai avançar no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), pelo que estará concluído até final de 2026», concluiu a ministra da Agricultura.

 

Maria do Céu Albuquerque – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Este projeto pretende atenuar a crónica baixa disponibilidade hídrica desta albufeira, que, segundo os mais recentes dados do Boletim de Armazenamento nas Albufeiras de Portugal Continental, está atualmente com 13% da sua capacidade total.

Apesar de, nas demais barragens do Barlavento Algarvio, a situação não ser reconfortante, a Bravura há muito que se mantém em estado crítico.

E nem as chuvas de Dezembro alteraram significativamente a situação, apesar de não muito longe dali, na Barragem de Odelouca (Monchique e Silves), a que tem mais capacidade de armazenamento da região algarvia (157,14 hm3), a pluviosidade do último mês de 2022 ter permitido, em apenas um mês, acumular mais 10 hm3 nesta albufeira.

Apesar deste ser um volume significativo de água, Odelouca está atualmente com 39% da sua capacidade total, o que a coloca num segundo nível de barragens cuja situação também não é a melhor, as que estão com um volume entre os 21% e os 40%.

Também a Barragem do Arade, da mesma Bacia Hidrográfica, está neste nível, com 27% da sua capacidade total  armazenada.

Já a Barragem do Funcho, a terceira albufeira da bacia do Arade, está com um volume de armazenamento de 57%.

Tirando esta última albufeira, que teve uma ligeira variação negativa na passada semana (- 1%), a da Bravura, Odelouca e Arade mantêm sensivelmente o mesmo volume armazenado.

No Sotavento Algarvio, tanto Odeleite como Beliche estão com mais de metade da água que conseguem armazenar, mais precisamente 58% e 51%.

Estes são os valores registados a 6 de Março, poucos dias antes de o Instituto Português do Mar e da Atmosfera ter publicado o seu boletim climático relativo a Fevereiro, indicando que este foi um mês «extremamente seco».

Este documento dá conta do regresso da seca moderada ao Baixo Guadiana, mais precisamente aos concelhos de Alcoutim, Castro Marim e Vila Real de Santo António, mas também ao Baixo Alentejo.

No final de Janeiro, não havia qualquer ponto do território nacional em seca moderada, apesar de todo o Alentejo e Algarve estarem em seca fraca.

 

Duarte Cordeiro – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

No dia em que Maria do Céu Albuquerque anunciou o projeto pioneiro, o seu colega de Governo Duarte Cordeiro fez o ponto de situação de outro processo em curso, que visa o aumento da resiliência do Algarve à seca: a reutilização de águas residuais tratadas para rega de espaços verdes, limpeza de ruas e, eventualmente, para a agricultura.

«Neste momento, nós estimamos que temos mais ou menos dois héctómetros cúbicos para rega de campos de golfe. Queremos chegar aos 8 hm3, no final do PRR», disse ao Sul Informação o ministro do Ambiente.

«Vamos começar por aqui. Para a reutilização de água residuais tratadas para rega de campos de golfe, rega de jardins ou lavagem de ruas, nós retirámos a necessidade de licenciamento. Houve aqui uma simplificação. Para a agricultura, ainda é necessário um processo de licenciamento, mas existe disponibilidade da parte do Ministério da Agricultura e do Ministério do Ambiente para trabalharmos em conjunto, de modo a utilizar águas residuais tratadas para rega, de forma misturada ou em processos de tratamento», acrescentou.

Ou seja, há, «no imediato», o objetivo de utilizar esta água residual tratada «para rega de campos de golfe, mas a prazo queremos também utilizar para a agricultura», concluiu o ministro do Ambiente.

 

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