Já nasceu a plataforma que vai atrair Nómadas Digitais para o interior de Loulé

«Há uma lacuna de atração de nómadas digitais para o interior do país»

Porque é que os nómadas digitais hão-de escolher sempre o litoral do Algarve? Porque não hão-de ir para o interior? Foi a pensar nestas questões que Fábio Jesuíno imaginou e lançou a plataforma Rural Digital Nomads, apresentada há dias em Alte, aldeia do interior do concelho de Loulé.

Para já, a plataforma tem uma série variada de informação útil para os nómadas digitais, em português e inglês, apenas referente às principais localidades interiores do concelho de Loulé: Alte, Ameixial, Benafim, Querença, Salir e Tôr.

Além de informação sobre cada uma destas aldeias ou vilas e seus arredores, com pormenores capazes de atrair a atenção de qualquer potencial nómada digital, há também detalhes sobre os espaços de cowork disponíveis e suas características, os cafés, restaurantes e alojamentos da zona, as experiências locais, os produtores locais e sobre a própria comunidade de digital nomads (e não só). E a comunidade, como foi explicado, faz muita falta.

Na apresentação da plataforma, na Escola Profissional Cândido Guerreiro, em Alte, a que o Sul Informação assistiu, estiveram presentes José Donado e Rafaela Leal, eles próprios nómadas digitais desde há alguns anos, que foram falar do projeto que a cooperativa Regenerativa tem estado a desenvolver, nesse âmbito, na aldeia de São Luís, no interior do concelho de Odemira.

 

José Donado e Rafaela Leal – Fotografia: Fotoconcepts By Sérgio Palma

 

«Estive dois anos como digital nomad, durante uma pós-graduação na universidade, fazendo uma van life [vida de autocaravana]. Mas cheguei a um ponto em que me faltava criar raízes. Ao fim de dois anos, cheguei a São Luís e senti que era um sítio onde me podia ligar à comunidade. Ter um grupo de amigos, ter alguém com quem conversar e partilhar ideias é muito importante», explicou Rafaela Leal.

A ideia de criar a cooperativa, como explicou José Donado, surgiu para «dar estrutura» a essa comunidade, que engloba não só os nómadas digitais que vivem na freguesia, como outras pessoas e negócios locais. «Fazia falta uma estrutura, esta cooperativa integral, para dar um bocadinho de ordem num caos de muitas pessoas a quererem fazer coisas».

«A necessidade que eu sinto que agora, no século XXI, é mais premente é o sentido de comunidade e de pertença», acrescentou José.

Para tal, salientou Rafaela Leal, é preciso «tornar o contexto rural mais atrativo, para que as pessoas vão para lá, mas também para que os jovens não queiram sair».

Ora, é também isso que Fábio Jesuíno quer criar, através da sua plataforma Rural Digital Nomads, no interior do concelho de Loulé.

A plataforma inclui ainda questões úteis, como um blogue sobre temas de interesse para quem trabalha no mundo digital – que é também a área profissional do jovem empreendedor, fundador e CEO da 3WX Digital Creative Agency -, bem como uma lista de eventos locais, de workshops e experiências, entre outros conteúdos úteis e sempre em atualização.

«Mais do que uma aventura, um estilo de vida saudável» é o slogan, «que é uma visão», que resume o projeto. «Há uma lacuna de atração de nómadas digitais para o interior do país», mas isso agora começa a ser colmatado com este projeto.

 

Fábio Jesuíno – Fotografia: Fotoconcepts By Sérgio Palma

 

Para mais porque, como salientou Fábio Jesuíno, «no interior do concelho de Loulé há boa rede de internet», havendo mesmo «locais com 4G, 5G ou fibra ótica».

Júlio Sousa, diretor municipal da Câmara de Loulé, também presente na apresentação, recordou que esta autarquia «tem em curso um projeto pioneiro de cobertura digital do interior, no valor de 2 milhões de euros». O projeto, explicou, tem como principal motivação «a defesa florestal», mas servirá para melhorar de forma muito significativa a cobertura digital de todo o interior louletano, «não só a rede móvel, mas também a internet, para transmissão de dados».

Agora que a plataforma está online, todos os nómadas digitais se podem inscrever gratuitamente, para aceder aos serviços e informações fornecidas. Fábio Jesuíno apela ainda a que os produtores e empresas locais também se inscrevam, de forma gratuita, sempre que considerem que os seus produtos ou serviços podem interessar a estes potenciais novos moradores do interior do concelho.

E já há interessados? «No ano passado, estivemos presentes na Web Summit, para apresentar a versão beta e promover a plataforma. Fizemos reuniões com os nómadas digitais e com as empresas que têm muitos deles ao seu serviço e muita gente manifestou interesse em vir para o interior», responde Fábio Jesuíno. «Fomos também a Amesterdão, visitar uma incubadora especializada, e as empresas lá presentes também demonstraram interesse em aderir à nossa plataforma».

No próprio dia da apresentação oficial, em Alte, o empreendedor não cabia em si de contente: «a plataforma está online há uma hora, estive a ver as estatísticas e já teve mais de 300 visitantes do Canadá, dos Estados Unidos, da Polónia, por isso já temos aqui um impacto global, em poucos minutos».

Mas, se as inscrições dos potenciais interessados e das empresas locais são gratuitas, como é que a plataforma gera dinheiro, qual é o seu modelo de negócio? O criador responde que o dinheiro virá de «patrocínios, serviços de subscrição específicos e apoio de terceiros, que são já alguns».

Para começar, a plataforma está apenas circunscrita ao interior de Loulé, mas, dependendo da aceitação da ideia, poderá vir a expandir-se a outras zonas interiores algarvias e não só. «A nossa base, neste momento, é o concelho de Loulé, mas o objetivo é alargar as comunidades, assim que haja interesse de outros concelhos do interior do país», revelou Fábio ao Sul Informação.

Na sua apresentação, Fábio Jesuíno fez ainda questão de sublinhar «o valor económico da comunidade de 35 milhões de nómadas digitais que já existem em todo o mundo» e representam, em termos globais, «715 milhões de euros por ano». Se um bocadinho destes milhões vier para as aldeias e vilas do interior do concelho de Loulé, como espera o jovem empreendedor, a aposta estará ganha.

 

Todos os oradores – Fotografia: Fotoconcepts By Sérgio Palma

 


Mais um filho da incubadora QRIAR

A ideia da plataforma Rural Digital Nomads foi desenvolvida pelo jovem empreendedor Fábio Jesuíno enquanto esteve incubado na QRIAR, a incubadora da Cooperativa QRER, situada no interior do concelho de Loulé, que apoia a criação de empresas na área das indústrias culturais e criativas, bem como os seus primeiros anos de atividade.

E foi útil? «Sendo a QRIAR um projeto de uma cooperativa que trabalha no interior e para o interior, foi muito bom para mim, porque eles têm experiência em desenvolver projetos de empreendedorismo nestas zonas. Mas o próprio processo de incubação foi muito bom, pelas formações em que participei, pela ajuda técnica que me foi prestada. Tudo isso foi fundamental para o sucesso deste projeto», garantiu Fábio Jesuíno, em declarações ao Sul Informação.

Susana Calado Martins, dirigente da QRER, disse, por seu lado, que a missão da cooperativa é «contribuir para revitalizar os territórios de baixa densidade», sendo nesse âmbito que foi dinamizada a incubadora QRIAR.

«No seu seio, o Fábio Jesuíno desenvolveu este projeto, uma plataforma que poderá contribuir para revitalizar estes territórios», continuou.

Susana terminou fazendo votos para que «estas comunidades de nómadas digitais se possam integrar nas comunidades locais que os acolhem».

A QRIAR – Incubadora Criativa do Algarve é dinamizada pela QRER – Cooperativa para o Desenvolvimento dos Territórios de Baixa Densidade, no âmbito do projeto Magallanes_ICC, co-financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), do programa Interrreg V A España – Portugal ( POCTEP) 2014 – 2020, e pela Câmara Municipal de Loulé e Câmara Municipal de Alcoutim, com o apoio da União de Freguesias Querença, Tôr e Benafim, Escola Profissional Cândido Guerreiro – Alte.

 

Fotografias: Fotoconcepts By Sérgio Palma

 

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