Festival do Contrabando cresce e «mantém a mesma qualidade» mesmo sem apoios do Estado

Presidente da Câmara de Alcoutim avisa que, no futuro, sem que haja apoios, o evento não poderá manter a mesma qualidade

Foto: Nuno Costa | Sul Informação

A extinção do 365 Algarve «deixou meio órfão» o Festival do Contrabando, que se realiza de 24 a 26 de Março, mas a Câmara de Alcoutim, o outro “progenitor” deste evento, espera que, num futuro bem próximo, o Governo crie uma linha de financiamento que ajude a enfrentar os fortes encargos da festa, que incluem a instalação da ponte flutuante que tanta gente atrai a Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana, durante três dias.

No ano em que se está a preparar a maior e, provavelmente, mais procurada edição do evento, com novidades e com a expansão para novos locais, a Câmara de Alcoutim, que organiza o evento com a vizinha Sanlúcar de Guadiana, em Espanha, vai mesmo assumir os encargos inerentes à realização do festival em Portugal, sem que haja previsão da chegada de qualquer apoio da parte do poder central.

E, como explicou ao Sul Informação Osvaldo Gonçalves, presidente da Câmara de Alcoutim, as despesas serão bem mais elevadas em 2023 do que em anos anteriores.

«Estamos perante um aumento da despesa brutal, a todos os níveis, não apenas no que toca à ponte flutuante, mas também na logística e até mesmo dos artistas. O orçamento teve uma alteração significativa», revelou Osvaldo Gonçalves.

 

Osvaldo Gonçalves – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

 

Ontem, dia 15 de Fevereiro, o edil alcoutenejo aproveitou a presença de Nuno Fazenda, secretário de Estado do Turismo, no seu concelho, para apelar ao apoio do Governo a um evento que ajudou a criar, e que é já «uma referência».

«O Festival do Contrabando é filho do município de Alcoutim e do “365 Algarve”. Será muito difícil, no futuro, manter a qualidade do evento, se for apenas um dos progenitores a financiá-lo», resumiu o presidente da Câmara.

«Notei que o sr. secretário de Estado ficou sensibilizado e preocupado com a nossa solicitação. Acalentamos a esperança que venha a ser introduzido no Portugal Events, cujo regulamento ainda está a ser definido», acrescentou.

E, tendo em conta que Osvaldo Gonçalves é «um otimista», acredita que «os apoios chegarão».

Em 2023, a opção do município alcoutenejo foi investir, para manter «a mesma qualidade de sempre» e ir ao encontro das expetativas dos muitos visitantes que são esperados.

Em 2023, mesmo sem qualquer apoio nacional garantido, os dois municípios que organizam o certame não colocam o pé no travão, no que à dimensão da festa diz respeito, neste que será o ano de regresso em pleno, após a pandemia.

«A programação é um misto da edição de 2020 que foi cancelada. Na altura, nós comprometemo-nos a pagar 50% a aos artistas que quisessem,  mas nem todos quiseram. Então, tínhamos já parte da programação assegurada. No entanto, por não fazermos o festival desde 2019, procurámos diversificar e, pelo menos, garantir aquela variedade que tínhamos sempre e, talvez, aumentar um pouco», segundo Júlio Cardoso, da Unidade de Cultura, Património Cultural e Turismo da Câmara de Alcoutim.

O técnico da autarquia alcouteneja, que coordena a programação do evento, falou com o Sul Informação à margem de uma apresentação do cartaz do Festival do Contrabando, que se realizou no sábado, dia 11, no alojamento local Finca Contrabando, em Sanlúcar do Guadiana, e contou com a presença de José María Perez, o alcaide local.

Esta iniciativa visou levantar o véu sobre a edição deste ano do festival, cuja apresentação oficial e já com o cartaz completo acontecerá no início de Março, na Bolsa de Turismo de Lisboa.

 

José María Pérez, alcaide de Sanlúcar, e Júlio Cardoso – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Para já, Júlio Cardoso revela que o evento vai crescer fisicamente. «Este ano vamos também para a praia fluvial de Alcoutim, com um mercado de cerveja artesanal e espetáculos. Também vamos realizar espetáculos nalguns negócios locais, vamos ter programações paralelas nalguns negócios que querem participar».

Os organizadores do Festival do Contrabando vão «apostar na mesma nos grupos de itinerância de rua, no teatro de rua», mas também na gastronomia e no mercado de produtores.

«Onde nos queremos afirmar é ao nível do teatro de rua, trazendo artistas muito bons, seja da área do novo circo, com malabarismos, seja na música. No fundo, teremos um pouco daquilo que tínhamos, mas com maior diversidade», revelou o membro da organização.

«Este não é um festival que traz nomes sonantes, conhecidos a nível nacional ou ibérico, mas traz artistas de todo o mundo. Este ano temos artistas da América do Sul, da Argentina, do Chile, da Suíça, da Alemanha, da Itália, do norte de Espanha», acrescentou.

Quanto ao mercado de produtores, será instalado «dos dois lados do Guadiana» e pretende-se que seja, tanto quanto possível, fiel ao que seria um certame nos anos 40 do século XX. «Estamos a filtrar, há pessoas que ficam com pena de não poder vir, mas queremos manter ao máximo a genuinidade».

A organização também apela à população local e aos visitantes para que se vistam a rigor, com trajes a remeter para os anos 40. «Este ano, em vez de um concurso que havia de fotografia, vamos lançar um concurso de traje, com prémios como experiências locais para desfrutar ao longo do ano, um fim de semana com alojamento e refeição, passeios de barco e caminhadas, entre outros, para incentivar as pessoas a virem vestidas à época», revelou Júlio Cardoso.

Na apresentação do evento, em Espanha, muitos dos convidados para a apresentação, bem como os responsáveis pelo Finca Contrabando, incluindo a sua proprietária, Marta, também se vestiram a rigor. Esta unidade de alojamento inspira-se, de resto, na aposta que está a ser feita neste território em torno do tema contrabando, do qual o festival é o expoente máximo.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Desde a sua criação em 2017, o evento cresceu sempre de ano para ano e não dava sinais de abrandar – antes pelo contrário. Depois de três anos sem se poder realizar nos moldes habituais, o regresso ao normal está a ser saudado com entusiasmo nas redes sociais, o que leva a organização a esperar uma grande enchente.

A expetativa de Júlio Cardoso é que o festival atraia «cerca de 50 mil pessoas em três dias», o que obrigará a uma boa preparação, de modo a garantir a capacidade de resposta.

«Alcoutim e Sanlúcar são o que são, têm as suas limitações. Alcoutim tem 500 habitantes, Sanlúcar tem 400… Ainda assim, tentamos melhorar as condições ano após ano, nomeadamente ao nível do estacionamento. Sabemos que vêm muitas empresa de excursionismo em autocarro, há barcos que querem vir, regatas agendadas. Estamos a tentar criar condições. Vamos aumentar a zona dos stands de comida, vamos aumentar as zonas de estacionamento», disse.

O técnico da Câmara de Alcoutim, que não esconde um «receio, mas dos bons» em relação à capacidade para fazer face à previsível enchente, acredita que, no final, todos sairão contentes de Alcoutim e Sanlúcar.

«Este é um festival que, devido à proximidade que tem com o público, normalmente não gera críticas graves. Ou seja, a diversidade da programação, a autenticidade, os espetáculos na rua acabam por apagar aquilo que corre menos bem. As pessoas acabam por não deixar marca das suas críticas», concluiu.

 

 

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