Em Olhão, Marcelo falou aos jovens de tolerância e pediu desculpa ao nepalês agredido

Grupo de jovens é suspeito de agressões em Olhão, nomeadamente a um nepalês na semana passada

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

Foi uma «visita relâmpago», decidida «de repente», mas Marcelo Rebelo de Sousa sentiu que «tinha de ser agora». O Presidente da República esteve na manhã desta segunda-feira, 6 de Fevereiro, em Olhão, para falar com jovens sobre cidadania e para se encontrar com o nepalês que foi brutalmente agredido nesta cidade. Ao jovem, pediu desculpa e aos alunos da Secundária Francisco Fernandes Lopes lembrou que Portugal, como país de emigrantes, tem de perceber «ainda melhor» quem chega ao nosso país. 

A aula de cidadania durou quase 1h30 e encheu de jovens o auditório da escola.

O motivo que levou o Presidente a deslocar-se a Olhão foi entendido por todos: as recentes agressões de um grupo de jovens a um imigrante nepalês fizeram com que Marcelo quisesse falar com os alunos sobre o que se passou.

«Foi uma ideia que me surgiu por força dos acontecimentos», começou por dizer o Chefe de Estado.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Ao longo da conversa, Marcelo foi lembrando que Portugal é uma «democracia», que a liberdade é «um grande bem» que também «supõe a aceitação do outro» e que uma democracia é «tanto mais rica, quanto mais nós aceitamos a diferença dos outros».

Mas o Presidente, que falou também da emigração portuguesa, dos bidonvilles de Paris, das dificuldades que os portugueses encontraram no estrangeiro, queria, acima de tudo, também ouvir os jovens olhanenses.

E eles acederam: uma jovem, por exemplo, explicou que o que se passou deve-se à «falta de acompanhamento, de carinho e de educação», exigindo que a justiça atue «mais rápido»; uma outra jovem aproveitou também para falar sobre a atual situação dos professores e outro sobre a falta de participação nos jovens nas decisões.

No fundo, o que seria uma conversa sobre xenofobia e imigração, acabou por tocar muitos outros temas, algo que Marcelo viu com bom agrado.

«Para eles, é uma evidência que este comportamento é intolerável e, por isso, não perderam muito tempo a dizer o óbvio», disse, no final, aos jornalistas.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Questionado sobre se Portugal se está a tornar um país xenófobo, Marcelo, que tinha à sua espera, à saída da escola, uma pequena manifestação de professores, rejeitou a ideia.

«É evidente que a sociedade portuguesa, como todas as sociedades, mudou muito e as pessoas não estão habituadas àquilo que é a nossa história. Houve alturas em que houve intolerâncias e em que, por razões religiosas, foram expulsas pessoas», recordou.

Marcelo fez questão de lembrar que «não há europeus puros», mas assumiu também que as «sucessivas crises, económicas e sociais», acabaram por criar um certo «medo e uma atitude reativa defensiva».

«Da rejeição da diferença até à xenofobia é um pequeno passo e temos de estar atentos a esse pequeno passo porque significa menos democracia e menos respeito», acrescentou.

Da escola, onde também não escapou às tradicionais selfies, Marcelo Rebelo de Sousa rumou a um restaurante indiano, na baixa de Olhão.

 

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

À sua espera, tinha o jovem nepalês agredido com quem, apesar das barreiras linguísticas, trocou algumas palavras, pedindo-lhe desculpa pelo que aconteceu.

«Não há nada que justifique este tipo de tratamento desumano, antidemocrático e criminoso que não pode ser aceite como normal na sociedade portuguesa», considerou o Presidente.

O jovem já tem «número de contribuinte», o que lhe permite trabalhar, estando disponível «quer para a restauração, quer para a construção civil».

«Aconteceu com ele o que aconteceu com outros. Veio para o Alentejo, para a agricultura, não encontrou emprego e veio para aqui. Neste momento, a Câmara vai tratar dos apoios da ação social», adiantou ainda Marcelo Rebelo de Sousa.

A visita «relâmpago» acabaria por terminar ali, à mesa do restaurante indiano, cujo dono tem ajudado o jovem nepalês. Para trás, o Presidente já tinha deixado a ideia forte: «Importa que não se comece a criar uma sensação muito injusta na sociedade, porque não há família portuguesa que não tenha emigrantes».

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

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