Bombeiros de Albufeira viram o caos, mas vieram da Turquia com «missão cumprida»

Cláudio e André foram os primeiros portugueses a ir para a Turquia, no âmbito da ajuda humanitária após os grandes sismos

Cláudio Marujo e André Cabrita ainda têm bem presente «aquele cenário de guerra». Elbistan, no sudeste da Turquia, é hoje uma cidade reduzida a escombros. Foi lá que estes dois bombeiros algarvios, que fazem parte da corporação de Albufeira, estiveram à procura de pessoas soterradas que ainda estivessem vivas. Ao fim de quatro dias de muito trabalho, não conseguiram encontrar ninguém, mas o sentimento de «missão cumprida» falará sempre mais alto.

Cláudio e André foram os primeiros portugueses a ir para a Turquia, no âmbito da ajuda humanitária após os grandes sismos, e regressaram este sábado, 11 de Fevereiro, a Albufeira.

Na bagagem, trazem imagens que nunca esquecerão.

«Encontrámos um cenário como se fosse uma guerra: edifícios destruídos, pessoas a deambular na rua, só com sacos, sem sítio para onde ir», descreve André Cabrita, em entrevista ao Sul Informação. 

Ao seu lado, Cláudio Marujo acrescenta: «a televisão não consegue transmitir nem um quarto do que lá se passa – só estando presente, vendo com os nossos olhos, é que percebemos a dimensão da tragédia».

Na sua companhia, os dois bombeiros, que têm formação no método Arcón, de deteção de pessoas enterradas vivas, com ajuda de cães, levaram Axe, um pastor belga de dois anos.

 

 

 

 

Os três estiveram incorporados num grupo especial de resgaste canino, em conjunto com operacionais espanhóis. Os custos da ida para a Turquia foram todos pagos pela Associação Humanitária dos Bombeiros de Albufeira.

A rotina que levaram, nestes dias «muito duros», é explicada por André Cabrita.

«Acordávamos às 7h00, 8h00, esperávamos pela organização da AFAD (Turkey’s Disaster Management Authority) que tinha uma lista de edifícios onde podia haver pessoas e íamos fazer essa picagem de pontos, durante todo o dia, muitas vezes com temperaturas negativas», descreve.

No total, a dupla dos bombeiros de Albufeira vasculhou os escombros de 15 prédios, mas, infelizmente, sempre sem sucesso. Em Antakya, uma equipa portuguesa conseguiu, no passado sábado, retirar com vida um menino de 10 anos dos escombros de um edifício.

«A nossa missão é sempre salvar pessoas, mas tínhamos noção de que íamos para um sítio onde a destruição foi maciça», confessa André Cabrita.

Apesar de não terem conseguido salvar ninguém, os dois bombeiros vieram da Turquia com o sentimento «de missão cumprida».

 

 

«Não detetámos ninguém, mas garantimos também que as máquinas não entraram nos escombros com alguém com vida e isso foi uma ajuda importante», diz Cláudio Marujo.

Na Turquia, apesar das situações humanitárias «extremas», os bombeiros também viram «muita união».

«Ali, não havia qualquer tipo de egoísmo. As pessoas sempre quiseram colaborar connosco. Cada vez que saímos dos escombros, mesmo sem encontrar ninguém, havia gente que nos vinha abraçar e agradecer. São imagens que nos vão ficar para sempre», relembra o bombeiro.

De regresso a Portugal, André e Cláudio garantem que estão dispostos para voltar a ajudar – seja nesta, seja noutras situações de catástrofe.

«Até nos pediram para ficar mais tempo, mas, a nível logístico, não estávamos prontos para ficar mais tempo. Agora, se nos chamarem, estamos dispostos a ajudar outra vez, claro. Isto foi uma aprendizagem, mesmo para nós».

 

 

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