Ser costureira nos tempos de fast-fashion ainda compensa?

Setor de vestuário é responsável por 10% das emissões de carbono e é o segundo maior poluente do mundo

Foto: João Galego | Sul Informação

Nélia, costureira no Mercado Municipal de Faro há cinco anos e que trabalha na profissão há 45 anos, todos os dias continua a fazer arranjos em roupa. Tem 58 anos e desde pequena que faz este trabalho.

Mas, com o aparecimento de roupa muito barata de marcas bem conhecidas, está a tornar-se mais fácil comprar outra peça do que mandar fazer arranjos, como se fazia antes. Por isso, a roupa está a tornar-se descartável. Como é que o trabalho de uma costureira é afetado com isto?

“Continuo a ter as mesmas peças de roupa para arranjar. A maior parte das pessoas continuam a entender que é melhor arranjar do que comprar novo e concordo plenamente”, disse Nélia.

Na sua experiência, o cliente do dia-a-dia é, na sua maior parte, constituído por jovens, ao contrário do que se pensa. Por isso, muitas das peças das roupas nas quais faz arranjos são de marcas de roupa barata virada para um público mais juvenil.

“A roupa é muito barata, se calhar uma blusa custa 5 euros e eu adiciono mais 5 euros para fazer o arranjo pretendido, mas não posso mudar o preço do meu trabalho porque o que eu faço é o mesmo numa blusa de 5 euros e numa blusa de 50 euros”,acrescentou.

A própria costureira diz que compra a roupa dela nessas mesmas lojas, e reconhece a sedução que o preço baixo das peças traz: “eu própria compro barato, e reconheço que é atrativo, pela sedução do baixo preço”.

 

Foto: João Galego ! Sul Informação

 

Mas, quando questionada sobre o que acha das roupas que se compram a estes preços tão baixos, não hesita em dar a sua opinião: “não têm qualidade!”

Estas empresas conseguem estes preços baixos nos seus produtos porque utilizam o modelo de “Fast Fashion” (moda rápida) que consiste nos produtos serem fabricados, utilizados e descartados – literalmente – de forma rápida. Este modelo de vendas de roupa tem gerado alguma preocupação, pois estimula o aumento do consumo e muitas vezes recorre a trabalho forçado, incluindo de crinaças, em países como Camboja, Bangladesh, entre outros.

Há também o problema ambiental. Segundo a Forbes, o setor de vestuário é responsável por 10% das emissões de carbono e é o segundo maior poluente do mundo, só ultrapassado pela queima de combustíveis fósseis.

Para a produção de poliéster, que é a principal matéria usada para a produção das peças de roupa destas companhias, são utilizados cerca de 70 milhões de barris de petróleo por ano.

Além do impacto da produção, existe o problema de serem descartáveis, o que significa que estas peças de roupa acabam muitas vezes em aterros sanitários, após uma vida curta de utilização.

Investigadores das universidades de Columbia e de Georgetown, nos Estados Unidos, publicaram um artigo no Journal of Marketing que examina como é que os consumidores podem adotar um estilo de vida de consumo mais sustentável ao optar por produtos que durem mais.

 

Foto: João Galego ! Sul Informação

 

Mas como é que podemos adotar o estilo de “Slow Fashion”?

De acordo com o site da “Laurastar” – uma produtora de ferros e tábuas para engomar, entre outros – deve evitar-se comprar muitas peças de roupa de uma vez, escolhendo a qualidade acima da quantidade. Deve também dar-se a devida atenção à forma como o produto foi feito e quem o fez, para evitar estar a financiar trabalho forçado e muitas vezes não remunerado.

Outros conselhos para reduzir o consumo desnecessário de todos os bens que são precisos para fabricar as roupas de baixo preço é doar a roupa que já não nos serve, podendo assim prolongar o seu tempo de vida útil.

Se for preciso alterar a roupa ou repará-la, deve levar-se a uma costureira, como a nossa entrevistada Nélia. A sua loja, a 12, situa-se no rés do chão do Mercado Municipal de Faro, estando aberta todos os dias das 9h00 às 16h00.

 

 

Texto e fotos de João Galego, realizados no âmbito do curso de Fotografia Profissional 21|23 da ETIC_Algarve, Escola de Tecnologias, Inovação e Criação do Algarve.

 

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