O mestre das agulhas que continua a sua arte aos 75 anos

A remendar redes desde os 14 anos, o mestre Dionísio já faz esse trabalho “com uma perna às costas”

Foto: Laura Martins | Sul Informação

Há tradições que se mantêm, mas que, com o tempo, correm o risco de se perder. Os mestres das agulhas já são poucos, mas o seu trabalho continua a ser muito.

Desde os 14 anos que Dionísio Rafael dedica a sua vida à arte de atar e remendar redes. Ensinado pelo seu padrinho, começou a vida de pesca e, desde então, foi aperfeiçoando a sua técnica. “Já o faço com uma perna às costas”, garante Dionísio Rafael, agora com 75 anos e já reformado.

Numa longa conversa, no porto de abrigo de Albufeira, contou um pouco da sua vida e como tudo começou. “Daquele lado, havia muito mais gente, estávamos sempre rodeados de pessoas a querer aprender”, disse, referindo-se à Praia dos Pescadores, em Albufeira.

Dionísio Rafael, atualmente, faz parte do grupo de homens que trabalham em terra e exerce a profissão de mestre de agulhas, que são as pessoas que remendam as redes para voltarem a ser utilizadas pelos pescadores. “Esta arte depende do brio de cada um. Para estar bem feita, cada malha tem que ter quatro pontos”, explicou.

 

Foto: Laura Martins | Sul Informação

 

Na maior parte das vezes, acrescentou, “os mestres das agulhas são antigos pescadores que já se reformaram do mar. Os jovens querem sempre ir para o mar, têm mais adrenalina e são desafios diferentes…”

Nos dias de hoje, “já se tem que ter cursos para tudo, até a escola de pesca tem cursos” onde ensinam a coser as redes, “mas antigamente era tudo ensinado com os mais sábios, pelos homens de terceira idade”.

Dionísio Rafael remenda todo o tipo de rede, mas a que mais remenda é a de nylon. Demora por volta de um dia a remendar uma rede. “Quem destrói mais as redes são os golfinhos para ir comer o peixe que se encontra já na rede”.

Sendo um homem humilde e carismático, de 75 anos, o mestre Dionísio contou episódios da sua vida, alguns tristes, outros alegres. Um dos acontecimentos que recorda intensamente é a morte da sua “querida esposa”.

Conhecido por todos, este mestre das agulhas, depois de reformado, continua a ter o hábito de trabalhar mas recusa-se a receber dinheiro por parte dos seus amigos pescadores.

Mesmo não estando os seus filhos e netos no Algarve, o mestre Dionísio nunca fala sobre solidão. Refugia-se no porto de abrigo de Albufeira para não se sentir só.

 

 

Texto e fotos de Laura Martins, realizados no âmbito do curso de Fotografia Profissional 21|23 da ETIC_Algarve, Escola de Tecnologias, Inovação e Criação do Algarve.
 

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