Manuel Amorim, um dos últimos luthiers em Portugal

Luthier ou violeiro é uma profissão à beira de extinção, mas projeto Loulé Criativo quer mantê-la viva

Foto: Nireide Alvarenga | Sul Informação

Manuel Amorim é um dos poucos mestres luthiers que ainda trabalham de maneira totalmente artesanal, sem ajuda de máquinas. Fez o curso de Construção de Instrumentos Tradicionais na Universidade de Coimbra nos anos 90, mudou-se para Faro há 22 anos e, hoje em dia, vive em Loulé. Constrói cordofones há mais de 20 anos e, nos últimos quatro, tem estado à frente da Oficina de Cordofones, que faz parte do projeto Loulé Criativo.

Com mais de trinta instrumentos de corda diferentes, Portugal, apesar de ser pequeno em território, tem uma vasta diversidade desses instrumentos musicais. A tradição dos cordofones não se limita ao continente, também está muito presente nas ilhas da Madeira e Açores.

A profissão de luthier ou violeiro, como se diz em português, é uma das mais antigas, uma vez que os instrumentos de corda em madeira surgiram há cerca de quatro mil anos. A profissão consiste basicamente na construção e na reparação de cordofones.

“Ainda há focos de resistência em Portugal de malta como nós, que vai trabalhando com os métodos antigos. Ainda há uns quatro ou cinco fazendo esse trabalho manual, sem ajuda alguma de máquinas”, disse Manuel Amorim.

 

Foto: Nireide Alvarenga | Sul Informação

 

Nas últimas duas décadas, tem havido um aumento significativo no uso dos instrumentos de corda em Portugal, conta. “A malta nova começou a pegar, por exemplo, na toeira e começou a tirar sonoridades diferentes da toeira antiga. Com a viola campaniça ou a braguesa foi a mesma coisa. Começaram a surgir músicos que vinham explorar aqueles instrumentos para além daquela música que era a nossa música tradicional e popular”.

O luthier conta que os materiais usados na construção desses instrumentos são 100% naturais, como as madeiras nobres vindas de vários países, entre eles, Brasil, Índia e Honduras. O verniz vem da Índia e é retirado da seiva de uma árvore. É usado osso bovino para a construção de algumas peças, como por exemplo, as pontes e os cavaletes. A cola é de origem animal, composta, entre outras coisas, por gordura animal, tendões e ossos. “As madeiras são matérias vivas, cedem muito e essa cola natural tem essa elasticidade, ou seja, ela acompanha o movimento da madeira”.

Nos últimos dez anos, houve um aumento significativo no número de construtores. Manuel mostra preocupação com a preservação dos métodos tradicionais de construção de instrumentos e aponta a necessidade de que haja mais escolas para luthiers em Portugal, que ofereçam cursos mais acessíveis para que a tradição não se perca. “Eu penso que deveriam existir mais escolas de luthiers em Portugal. Os cursos ou são muito caros ou são aqueles cursos em que vem tudo em kits e é só colar e feito.”

 

Foto: Nireide Alvarenga | Sul Informação

 

Manuel conta que fabrica em média de seis a sete instrumentos por ano e que não é um processo fácil, já que envolve muitas áreas de conhecimento como, matemática, física, química, desenho, entre outros.

Os instrumentos são personalizados para cada músico, feitos sob medida. “São instrumentos que, tendo em conta o poder de compra, são caros e, por isso, difíceis de vender. Isso é sempre um instrumento que é um investimento, é uma herança, é algo que fica cem, duzentos anos”.

Quem trabalha de forma artesanal, com métodos antigos como Manuel Amorim, sofre hoje a concorrência da indústria de instrumentos de corda que fabrica centenas deles por dia. A construção de um cordofone por um violeiro é demorada, são vários processos, todos muito minuciosos, todos manuais e que garantem aos músicos instrumentos com maior qualidade, tanto sonora quanto estética. Uma guitarra portuguesa, por exemplo, demora em média dois meses para ser terminada e o seu preço pode chegar a 4 mil euros.

“Nós dizemos que é uma profissão que está em vias de extinção, claro que está. Para já não é uma coisa que se aprenda ao fim de dois ou três anos, é preciso muitos anos, estamos a vida toda a aprender”, explica o mestre.

Os luthiers como ele seguem buscando a perfeição que provavelmente nunca vão encontrar: “Andamos sempre à procura do nosso instrumento e temos plena consciência de que quando o fizermos, morremos”.

 

 

Texto e fotos de Nireide Alvarenga, realizados no âmbito do curso de Fotografia Profissional 21|23 da ETIC_Algarve, Escola de Tecnologias, Inovação e Criação do Algarve.

 

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