Governo «fez bosta» e deu apoio da ACTA a companhia lisboeta

Luís Vicente garante que não vai «baixar os braços», apesar de insistir na injustiça de que foi alvo a ACTA

Luís Vicente não tem meias palavras: o Governo «fez bosta» ao deixar a ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve fora do financiamento do Programa de Apoio Sustentado da Direção-Geral das Artes (DGArtes) e ao escolher, em vez da companhia algarvia, uma estrutura com sede… na Amadora. Os próximos tempos são de incerteza para a ACTA, mas há uma certeza: «não vamos baixar os braços». 

O diretor artístico da ACTA não se conforma. Em entrevista ao Sul Informação, Luís Vicente confessa ainda não estar «refeito» da decisão da DGArtes, conhecida no dia 10 de Janeiro.

A candidatura da ACTA, estrutura que gere também o histórico Teatro Lethes, em Faro, foi feita aos apoios quadrienais (de 2023 a 2026) e envolvia um financiamento de cerca de 1,6 milhões de euros, dinheiro essencial para a companhia algarvia poder trabalhar nos próximos quatro anos.

Segundo Luís Vicente, as regras são claras. «Quando é feita uma candidatura, se ela tem 60% ou mais de validação, é apoiada. De 60% para baixo, não. Ora, acontece que nós tivemos 71,4%… e não fomos apoiados», conta ao nosso jornal.

A justificação, de acordo com o diretor artístico da ACTA, é que «não havia dinheiro».

 

Luís Vicente

 

Certo é que houve uma estrutura que se candidatou pelo Algarve e que foi contemplada nestes apoios – trata-se do Teatro do Eléctrico, com sede na Amadora e que tem feito trabalho em Loulé.

Apesar de ser possível a uma estrutura candidatar-se por uma região diferente daquela onde tem sede, Luís Vicente considera que, neste caso, isso se revela de «uma incorreção terrível porque vem abalar a nossa realidade regional».

«Nós trabalhamos com os 16 municípios, com as escolas, etc. O Teatro do Eléctrico estará restringido ao concelho de Loulé. E não é que a Direção-Geral das Artes acha isso bem?», diz o diretor artístico da ACTA.

Contactado pelo Sul Informação, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, mostrou-se disponível «para ajudar, de alguma forma, a ACTA», após esta «tremenda injustiça» de que foi alvo.

De resto, a ACTA e o município já tiveram uma reunião, onde a autarquia deixou essa mensagem de apoio.

«Eu acho lamentável o que se passou. A única companhia de teatro profissional que temos é a ACTA que, apesar da sede em Faro, trabalha em todos os concelhos. É evidente que isso foi possível porque a ACTA tinha este apoio, além do dos municípios, e agora está em risco a continuidade pelo menos do trabalho que vinha a ser desenvolvido», disse.

O autarca queixa-se de que, «mais uma vez», o Algarve foi «prejudicado pelas decisões de Lisboa».

«Há uma outra companhia, que não é do Algarve, e foi apoiada. Não percebo os critérios que levam a esta situação», reforçou.

No que toca à AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, esta já apoia a ACTA, mas, como referiu Rogério Bacalhau, «nunca foi um apoio gratuito».

 

Rogério Bacalhau

 

«Era sempre em troca de espetáculos, de dinamização, de trabalho com os alunos nas escolas… Agora, sem este apoio da DGArtes, todo esse trabalho fica comprometido porque, infelizmente, a ACTA não conseguirá, por certo, fazer o mesmo trabalho», disse o autarca farense.

Por agora, a estrutura algarvia já teve de «dispensar duas pessoas», contando agora com 10 trabalhadores.

Luís Vicente garante que não vai «baixar os braços», apesar de insistir na injustiça de que foi alvo a ACTA.

«O Governo fala na necessidade de estender a cultura por todo o território, fala na importância de criar equilíbrios e depois faz esta bosta», disse, sem rodeios, ao nosso jornal.

O diretor da ACTA aponta também baterias ao júri deste concurso. «Não apreciei a forma como avaliaram a nossa candidatura. Não conseguimos perceber como é que a nossa foi avaliada de forma diferente da do Teatro do Eléctrico», contesta.

Em causa, pode estar também o próprio funcionamento do Teatro Lethes, histórico espaço cultural de Faro, pelo qual a companhia de teatro tem sido responsável, nos últimos anos. Segundo o autarca Rogério Bacalhau, «para já vamos lá manter a ACTA», mas «certamente que a programação não será a mesma».

De resto, para amanhã, sábado, 21 de Janeiro, está marcada a apresentação da programação do Teatro Lethes, mas que, segundo o autarca farense, será, por agora, apenas para os «primeiros seis meses».

 

Alexandra Diogo

 

Mas não foi só A Companhia de Teatro do Algarve a ficar de fora de apoios. Houve outras estruturas algarvias, como a Folha de Medronho – Associação de Artes Performativas, o JAT – Coletivo Janela Aberta Teatro – Associação Cultural e a Mãozorra Associação Cultural

O Sul Informação falou com Alexandra Diogo, presidente da Folha de Medronho. O concurso, feito por esta associação, aos apoios bienais também não foi contemplado.

Apesar de a programação «não ficar em causa», muito devido ao facto de a Câmara de Loulé ser «um parceiro inesgotável», o facto de a Folha de Medronho não ter recebido apoios da DGArtes compromete a «dinâmica» sonhada por esta associação.

«Nós concorremos com um intuito essencial: consolidar a equipa. Nós temos duas pessoas fixas e queríamos, pelo menos, mais duas. Precisamos de ser mais ambiciosos, mas esse crescimento fica agora comprometido», explicou.

Uma das ideias passava por «começar a fazer trabalho nas escolas, mas não o vamos conseguir, porque não temos condições de financiamento para fixar uma equipa», acrescentou.

Para Alexandra Diogo, tanto o caso da Folha do Medronho, como o do ACTA são «sintomáticos da falta de apoio à cultura tanto no Algarve, como a nível geral».

 

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