Fundação Manuel Viegas Guerreiro em hebraico e árabe, mas também em inglês e francês

Novo “site” apresenta agora um grafismo moderno, intuitivo e multilingue

A Fundação Manuel Viegas Guerreiro (FMVG), com sede em Querença, no interior do concelho de Loulé, inicia o novo ano com uma imagem digital renovada e com nova designação da Revista FMVG, que agora passa a chamar-se “Raiz”.

Alojado em https://www.fundacao-mvg.pt/, o novo “site” apresenta agora um grafismo moderno, intuitivo e multilingue, permitindo conhecer a história e a atividade da FMVG em hebraico, árabe, mas também em inglês, francês, espanhol e italiano.

O portal dá acesso a várias obras da coleção bibliográfica de Manuel Viegas Guerreiro*, umas importadas do anterior portal e outras entretanto digitalizadas. É o caso de “Bochimanes !Khu de Angola. Estudo etnográfico”, livro dado à estampa em 1968, de “Os macondes de Moçambique: Sabedoria, Língua, Literatura e Jogos” (1966) ou de entradas da autoria de Viegas Guerreiro no “Dicionário de História de Portugal”, entre outros estudos, comunicações e obras ligadas à Literatura, Etnografia, Geografia e Descobrimentos.

Além de disponibilizar a informação em várias línguas, o “site” é adaptado a pessoas com necessidades específicas, permitindo, entre outras funcionalidades, aumentar e reduzir o texto para quem tem baixa visão, aumentar a legibilidade dos caracteres (para pessoas com dislexia), ou colocar o texto em escala de cinzas, alterando o contraste (para pessoas daltónicas), entre outras funcionalidades.

Em paralelo, o “site” dá a conhecer artigos científicos de várias personalidades no âmbito da História, Antropologia, Etnografia e Literatura a partir da releitura da obra de Manuel Viegas Guerreiro, na rubrica “Viagens pela obra de Manuel Vigas Guerreiro”.

Outros projetos ganham também visibilidade para o mundo, tais como o “Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro” (PEB-MGG), um jardim “in situ” com espécies autóctones; o acesso direto à “Revista FMVG Raiz”; fotografias, vídeos, recortes de imprensa, informações e registos sobre o Festival Literário Internacional de Querença (FLIQ). A Fundação cumpre-se ainda nas redes sociais Facebook e Youtube.

 

Estreia de videoclipe “A Raiz”

A Revista FMVG ganha em 2023 uma nova designação: “Raiz”, nome que «remete para o fundacional, para a sustentação, para a fertilidade». O mesmo conceito rizomático foi utilizado em 2019, quando a Fundação concebeu um videoclipe inédito que daria mote à inauguração do PEB-MGG, sucessivamente adiada devido à pandemia.

O vídeo, criado a partir de um poema de Helena Madeira, autora e intérprete da composição para harpa, integra dança contemporânea, com coreografia original de Inês Mestrinho. A imagem é de Eduardo Sousa.

Na altura em que o videoclipe foi produzido, o PEB-MGG encontrava-se no seu estado inicial de crescimento vegetal. As filmagens decorreram por isso num megalapiás, conjunto de formações rochosas do Jurássico Superior, e num pomar de sequeiro, ambos no concelho de Loulé.

A estreia acontece agora, “online”, no canal de Youtube da FMVG:

 

Comunidade estrangeira de Querença

Na abertura de 2023, a Fundação destaca o encontro com a comunidade residente de Querença, nacional e estrangeira, a partir da exposição de fotografia criativa “Arte de Atracção”.

O autor, o fotógrafo Vitor Martins, explica o conceito: «diariamente, enquanto navegamos o nosso mundo, tomamos decisões que são influenciadas pela Arte da Atracção, expressada como um mecanismo transacional. Seja para garantir a nossa sobrevivência, obter alimentação ou para segurança e conforto, não escapamos à necessidade de “atrair”».

Uma tertúlia emoldura a exposição a inaugurar no dia 28 de Janeiro, sábado, às 17h00, na sede da Fundação, para escutar as razões da escolha de Querença como nova morada, por parte de americanos, ingleses e franceses, entre outras nacionalidades.

«Com o processo de autonomia administrativa da freguesia em curso, o encontro pretende funcionar, simultaneamente, como agente facilitador de integração desta comunidade, ouvindo testemunhos dos habitantes locais, recolhendo ideias e emoções de todas/os sobre este território», explica a FMVG.

Com o compromisso de reforçar a inclusão junto da comunidade de Querença, a Fundação prepara-se para dinamizar sessões de leitura junto dos/as utentes do Lar de Idosos de Querença. As sessões “Ler, ouvir e recordar” realizam-se, a partir de 27 de janeiro, na última sexta-feira de cada mês, de forma alternada, no espaço do Lar e no da FMVG.

Em continuidade: o projeto de mediação ambiental, educativa e cultural com a comunidade escolar de Querença nas áreas da promoção da leitura e da literacia emergente. As atividades e as experiências desenvolvidas com as crianças estimulam também a consciência ambiental, o sentido estético e o contacto com o património cultural de Querença e envolvente natural. Iniciativas concretizadas a partir da Fundação em estreita colaboração com a Câmara Municipal de Loulé (CML).

 

Divulgação da obra de Manuel Viegas Guerreiro

A FMVG prepara-se para divulgar “online” e em suporte papel o ensaio sobre uma das obras fundadoras da prática antropológica de Viegas Guerreiro e do seu pensamento perante o Outro: “Bochimanes !khū de Angola”. A releitura crítica, integrada na iniciativa “Viagens pela obra de Manuel Viegas Guerreiro” é assinada por Vítor Oliveira Jorge.

Segundo o arqueólogo e professor aposentado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a monografia de Viegas Guerreiro constitui um dos melhores trabalhos de antropologia da fase colonial portuguesa e colmata uma lacuna na existência de estudos desta natureza.

De acordo com Vítor Oliveira Jorge: «a realidade que descreve – atendendo à própria dinâmica interna das populações, que só nas “fotografias” com que as ilustramos nos parecem estáticas, fora da história, quando afinal estão longe de serem simples “relíquias” paradas no tempo – torna este tipo de trabalhos sempre urgente, necessário, precioso. Um património da humanidade, afinal».

Na edição, será apresentado este ano o volume “Os Boers nos Relatórios de Campanha de 1957 a 1960”, que integrará a “Colecção Experiências de África”, desenvolvida pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto.

A exposição “Boers de Angola, 1957”, organizada por Luísa Martins, investigadora do CIDEHUS, da Universidade de Évora, prolonga a sua itinerância por vários espaços. Entre eles, bibliotecas, arquivos, escolas e universidades. Para recebê-la basta enviar o pedido para fundaçã[email protected].

Em simultâneo, a Fundação dá continuidade ao processo de organização, tratamento técnico e salvaguarda do património fotográfico, fonográfico, documental e bibliográfico do etnólogo, disponibilizando estes materiais (digitalizados) a investigadores nacionais e estrangeiros, como é o caso dos slides e áudios dos Koïsan (bosquímanos).

 

Recursos Educativos Manuel Viegas Guerreiro

A FMVG, aliada à CML, à associação Ao Luar Teatro e à União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, apresenta em junho um conjunto de Recursos Educativos criado pelas crianças da escola básica de 1.º ciclo e pré-escolar de Querença, através do qual se dará a conhecer Manuel Viegas Guerreiro e a sua obra junto do público infanto-juvenil.

O projeto está integrado na 1.ª Bienal “Cultura e Educação”, do Plano Nacional das Artes.

 

Regresso do FLIQ e outros eventos

Honrando o legado de Luís Guerreiro, primeiro presidente da FMVG até ao seu falecimento (2017), a Fundação coloca em marcha outro encontro marcante de 2023: o do FLIQ, que regressa à aldeia de Querença nos dias 5, 6 e 7 de Maio.

A 5.ª edição será dedicada à “Literatura e Paisagens”. Com esse olhar para o meio ambiente, outras iniciativas irão pontuar o ano, nomeadamente conferências, passeios e exposições que nos levam à urgente ação climática: pensamento e atitudes.

A criação de um santuário de plantas da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal continental está na linha desse horizonte, naquele que é o palco ecológico da FMVG: o PEB-MGG, que assinala o centenário de nascimento do notável académico Manuel Gomes Guerreiro, 1º reitor da Universidade do Algarve e secretário de Estado do Ambiente no primeiro Governo Constitucional (1976-1977). O Percurso é visitável a sul da Sede.

 

Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997)

Nasceu em Querença e doutorou-se em Etnologia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde foi professor catedrático.

Etnólogo e antropólogo do séc. XX estudou como poucos a cultura popular portuguesa. Discípulo e “secretário” de José Leite de Vasconcellos, Manuel Viegas Guerreiro trabalhou com José Mattoso, Orlando Ribeiro, Jorge Dias, Lindley Cintra, João David Pinto-Correia, Margot Dias, Maria Aliete Galhoz e Michel Giacometti, entre outros expoentes da vida académica.

Desenvolveu importante investigação junto de tribos em África, nomeadamente, os Khoïsan de Angola e os macondes de Moçambique. Em Portugal, estudou várias comunidades rurais, de norte a sul do país e nos Açores. Deu aulas a alunos universitários no Brasil e em Cabo Verde.

Após a reforma, fundou os Estudos Gerais Livres (ensino não formal gratuito), juntamente com o filósofo e amigo Agostinho da Silva. Deixou-nos vasta bibliografia publicada, entre monografias e artigos científicos publicados em revistas da especialidade.

Em 1973 recebeu o Prémio Ocidente no ano da sua morte, a Grã-Cruz da Ordem do Infante, «ato devido por Portugal ao Professor que honrou a Ciência e a Cultura Portuguesas».

A cerimónia decorreu a 15 de maio, na Aula Magna da Reitoria de Lisboa, integrada no Colóquio «Contadores de Sonhos», promovido pela Livraria Civilização com o apoio do Centro de Tradições Populares Portuguesas Prof. Manuel Viegas Guerreiro.

O seu nome faz parte da toponímia de Querença e de Lisboa.

O seu escritório de Paço de Arcos, Lisboa, está reproduzido em Querença, na “Biblioteca Museu Manuel Viegas Guerreiro”, localizada junto à sede da Fundação que leva o seu nome.

 



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