Dezembro foi quente e muito chuvoso, mas ainda há barragens do Sul “à míngua”

Segundo o Boletim Climatológico do IPMA

Foto: Samuel Mendonça | Folha de Domingo

Muita chuva e muito calor, em ambos os casos acima da média, marcaram o mês de Dezembro. A elevada precipitação que se registou nesses 31 dias não só permitiu «uma diminuição significativa da situação de seca meteorológica», como compôs barragens de Norte a Sul, incluindo (quase todas) no Alentejo e no Algarve.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) acaba de lançar o Boletim Climatológico de Dezembro, que confirma que o último mês de 2022 foi «extremamente quente em relação à temperatura do ar e muito chuvoso em relação à precipitação».

No que toca à seca, só subsiste «em alguns locais da região interior Sul», nomeadamente no Sotavento Algarvio e em parte do distrito de Beja , que representam «apenas 6% do território» – e mesmo aí é considerada fraca.

Analisando a situação das barragens, a maioria viu os seus níveis a aumentar, mas a situação no Barlavento Algarvio, principalmente na Bacia Hidrográfica das Ribeiras do Barlavento e na sua única barragem, a da Bravura, continua longe de ser reconfortante.

Também no Alentejo, na Bacia Hidrográfica do Sado, há situações que contrariam a tendência geral.

 

 

No Algarve, em Dezembro, a larga maioria do território registou uma precipitação superior a 150 mm, ao longo do mês. As exceções foram os concelhos de Aljezur, Vila do Bispo, Lagos e Portimão, que registaram valores de precipitação entre 100 a 150 milímetros (mm), e parte da zona litoral dos concelhos de Loulé e Albufeira, onde a pluviosidade ultrapassou os 200 mm.

No dias 4 e 5 de Dezembro, quando houve muitas ocorrências ligadas à pluviosidade intensa, registaram-se volumes acumulados muito elevados de precipitação em 12 horas, em oito concelhos do Algarve, todos eles do Sotavento e do Algarve Central.

«Registaram-se dois períodos de precipitação forte: ao final da tarde de dia 4, entre as 17 e 20 horas locais, e na madrugada e manhã de dia 5, entre as 4 e 16 horas locais», lê-se no boletim do IPMA.

O concelho algarvio onde se registou a maior quantidade de chuva, 69.4 mm em 12 horas, foi Loulé. Também foi neste município, às 18h40 de dia 4, que se registou maior valor de precipitação numa hora, mais precisamente 43.8 mm, o que motivou inundações.

Na análise de chuva acumulada em 12 horas, nestes dois dias, a Loulé seguem-se São Brás de Alportel (64,2 mm), Castro Marim (24.7 mm), Faro, onde houve inundações e muitas ocorrências (55,8 mm, 23,4 mm entre as 7h30 e as 8h30 de dia 5), Albufeira (54,1 mm), Tavira (47 mm), Vila Real de Santo António (43,3 mm) e Olhão (34,8 mm).

 

 

No Alentejo, a tendência foi para uma quantidade de chuva acumulada entre 100 e 150 mm. No entanto, numa zona considerável da Bacia Hidrográfica do Sado, na confluência dos concelhos de Ourique, Aljustrel e Ferreira do Alentejo (distrito de Beja) e Santiago do Cacém (distrito de Setúbal), o acumulado andou apenas entre os 50 e os 100 mm.

Esta é, de resto, a zona do país onde menos choveu, em Dezembro, o que ajuda a explicar por que razão as barragens do Monte da Rocha, em Ourique, e das Campilhas, em Santiago do Cacém, estão entre as três do país que ainda estão abaixo dos 15% da sua capacidade total – 10% e 11%, respetivamente.

Menos óbvia é a razão pela qual a Barragem da Bravura, no concelho algarvio de Lagos, é a outra albufeira em situação crítica (12% da capacidade total).

Contactado pelo Sul Informação, Bruno Gonçalves, engenheiro de ambiente e responsável pelos sites Meteofontes e Extrematmosfera, admite que se possa estar perante fenómenos muito localizados.

«Estamos a falar de bacias hidrográficas relativamente pequenas. Basta chover um pouco ao lado ou acima e a água já não escorre para a barragem», disse.

Por outro lado, uma vez que antes de Dezembro a terra estava muito seca, nesta zona, «foi preciso, primeiro, saturar os solos», antes que a água pudesse começar a encher as albufeiras.

 

Barragem da Bravura seca – Foto: Filipe da Palma

 

Também o histórico dos últimos anos ajuda a explicar que, após ter caído tanta chuva, os valores de armazenamento da albufeira da Bravura quase não se tenham alterado.

«Segundo os dados do Meteofontes dos últimos seis ou sete anos, tem chovido bem menos do que é normal, daquilo que é a média, no Algarve», revelou Bruno Gonçalves.

Outra evidência é que «tem chovido bem menos no Barlavento Algarvio, em anos recentes, do que no Sotavento Algarvio», ao contrário do que era a regra, anteriormente.

Foi isso que aconteceu em Dezembro, com as barragens de Odeleite e de Beliche, em Castro Marim, a recuperar e a, pelo menos, duplicar a água que tinham armazenada, e com as albufeiras da Bacia Hidrográficas do Arade (Odelouca, Funcho e Arade) a ter uma recuperação muito mais tímida e a da Bravura a ficar, praticamente, na mesma.

Segundo os dados do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, a 31 de Dezembro, a barragem de Odeleite estava com 59,8% da sua capacidade, quando a 30 de Novembro tinha apenas 29,6% de volume armazenado. Na barragem de Beliche, no mesmo concelho, o volume subiu de 22,9% para 52,2%, de um mês para o outro.

Na Bacia Hidrográfica do Arade, a barragem de Odelouca, a de maior capacidade, tinha um volume armazenado de 37,6% no final do ano (31,1% a 30 de Novembro).

Funcho e do Arade estavam a 64,1% e 26,7, respetivamente, a 31 de Dezembro, e com 57,3% e 25,3% um mês antes.

A Barragem da Bravura subiu de 9,2% para 11,8%, de um mês para o outro.

 

 

A percentagem de água no solo era, no final de Dezembro, superior a 61% em quase todo o território, subsistindo pequenas “manchas” abaixo deste valor, mas na esmagadora maioria dos casos, acima dos 41%.

Tendo em conta que, um mês antes, no dia 30 de Novembro, boa parte do interior do Algarve e do concelho de Almodôvar se encontravam no Ponto de Emurchecimento Permanente – ou seja, os solos estavam completamente secos -, é notória a influência que a forte pluviosidade de Dezembro teve.

Segundo o boletim do IPMA, o último Dezembro foi o «mais quente dos últimos 92 anos».

O valor médio da temperatura mínima do ar foi de 9.58 °C, em Dezembro, «muito superior ao valor normal com uma anomalia de +3.53 °C, sendo o 2º valor mais alto desde 1931 (mais alto em 1989, 9.99 °C)».

«O valor médio temperatura máxima do ar, 15.87 °C, com uma anomalia de + 1.99 °C, também foi o 2º valor mais alto desde 1931 (mais alto em 2015, 16.21 °C)», lê-se, ainda.

O valor absoluto de temperatura mais alto registado no mês passado foi de 25,5 ºC, em Aljezur, no dia 27.

 

 

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