«Ribeiro Telles deixou uma herança que os arquitetos paisagistas têm a obrigação de continuar»

A segunda edição de “Gonçalo Ribeiro Telleste – Textos Escolhidos” foi apresentada na passada terça-feira, 6 de Dezembro, na Universidade do Algarve

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

«Gonçalo Ribeiro Telles deixou uma herança que todos os arquitetos paisagistas têm a obrigação de continuar e defender», considera Fernando Santos Pessoa, discípulo de Ribeiro Telles e responsável por mais uma edição do livro que compila uma seleção de textos do arquiteto paisagista que se tornou numa dos maiores referências da profissão a nível nacional.  

A segunda edição de “Gonçalo Ribeiro Telles – Textos Escolhidos” foi apresentada na passada terça-feira, 6 de Dezembro, numa conferência que se realizou no Campus de Gambelas da Universidade do Algarve e que se debruçou sobre a pessoa, a visão, a obra e o legado do arquiteto paisagista e antigo ministro de Estado e da Qualidade de Vida, que morreu em Novembro de 2020.

«Depois de a primeira edição se ter esgotado rapidamente, relevou-se necessário fazer uma segunda, pois todos os que querem saber como funciona a paisagem e o território em que andamos têm de ler estes textos, que são técnicos, mas não tecnicistas», explicou Fernando Pessoa ao Sul Informação. 

«Foi com Gonçalo Ribeiro Telles que se criaram as bases daquilo a que se chama qualidade de vida e foi também com ele que se criou toda a estrutura necessária para se ter uma política de ambiente como deve de ser», realçou o também arquiteto paisagista.

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Apesar de compilar muitos dos textos que já faziam parte da primeira edição, nesta segunda há também novidades, como a entrevista que Gonçalo Ribeiro Telles deu à Liberne, publicação da Liga para a Proteção da Natureza, que, segundo Fernando Pessoa, «parece que foi feita hoje, tendo em conta os incêndios florestais, as cheias, e tudo o que tem sido desperdiçado e não se tem aplicado como deve ser».

Estes foram também temas mencionados na conferência, na qual alguns profissionais da área lamentaram o facto de, muitas vezes, os trabalhos que os arquitetos paisagistas fazem no sentido de colmatar estes problemas serem «deixados na gaveta».

Recordado como alguém que «toda a vida batalhou por ideais de conciliação entre o homem e a natureza», Gonçalo Ribeiro Telles foi ainda definido como «um professor sempre preocupado com os seus alunos» e uma pessoa que «esteve sempre muito à frente do seu tempo».

«Quando olhamos para os trabalhos de Gonçalo Ribeiro Telles, mesmo textos e projetos que já conhecemos, é fácil encontrar aspetos novos. Este livro é uma reedição necessária que incluiu um conjunto de textos que podem ser entendidos como uma estrutura base e o esqueleto da arquitetura paisagista nacional», considera Gonçalo Duarte Gomes, aluno de uma das primeiras turmas de AP da Universidade do Algarve, há 25 anos.

 

Desidério Batista e Gonçalo Duarte Gomes – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Exaltando o legado deixado pelo eterno professor, Gonçalo Gomes lamenta que, dois anos após a sua morte, muitos dos ensinamentos continuem «por concretizar e respeitar no desenho de um modelo de sociedade e de paisagem».

«Tudo isso, que era o que mais lhe interessava, permanece por concretizar. E aí penso que é onde nós entramos com recurso a este livro», considera, deixando um apelo aos atuais e futuros profissionais da área que se encontravam na sala.

Desidério Batista, professor auxiliar na UAlg e antigo aluno de Gonçalo Ribeiro Telles na Universidade de Évora, realça ainda tudo o que aprendeu com o também político e ecologista e que tenta agora passar aos seus alunos. Entre os muitos textos que deixou, Desidério Batista realça aquele em estão identificados os 10 mandamentos que devem presidir à criação da paisagem.

«O que Gonçalo Ribeiro Telles considera é que nós, arquitetos paisagistas, no desenvolvimento dos planos e projetos, devemos exaltar, na paisagem, a simplicidade e evitar a decoração. Esse é o nosso trabalho», diz.

A conferência contou ainda com a apresentação, por João Ceregeiro, presidente da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas, da terceira edição do livro “A Árvore”, de Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Teles, cuja primeira edição foi lançada em 1960 e também se esgotou rapidamente.

 

Gonçalo Duarte Gomes e João Ceregeiro-  Foto: Mariana Carriço | Sul Informação



Comentários

pub