«Indignação, respeito e justiça» são palavras de ordem dos professores em greve

Professores cumprem greve nacional, por tempo indeterminado, convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (S.TO.P)

«Há três palavras que definem a nossa luta de hoje: indignação, respeito e justiça. Nós estamos aqui para que a escola seja melhor e para formar jovens que vão ser o futuro do nosso país». É assim que o professor António Fechado, da Escola Secundária Poeta António Aleixo, de Portimão, define a greve que esta sexta-feira, dia 9 de Dezembro, está a unir os docentes de todo o país.

Em Portimão, também na Escola EB23 D. Martinho Castelo Branco a maioria dos professores aderiu à paralisação.

«Nós exigimos que nos dêem atenção no sentido de aumentar a qualidade da escola pública e não esta proposta descabida, que é completamente fora da organização de uma boa escola», sublinhou, por seu lado, o professor Filipe Matos, da D. Martinho Castelo Branco.

À porta de ambas, dezenas de professores empunhavam cartazes amarelos, vermelhos e brancos, do Sindicato de Todos os Professores (S.TO.P), sobre a greve. Também havia panfletos com as razões daparalisação, que estavam a ser entregues aos pais que iam levar os filhos à escola e aos próprios alunos.

Por seu lado, na Escola Básica e Secundária de Albufeira, os docentes em greve gritaram palavras de ordem, acompanhados por tambores, como «professores a lutar também estão a ensinar»:

 

 

Os professores cumprem esta sexta-feira mais uma greve nacional, desta vez por tempo indeterminado. O protesto foi convocado pelo Sindicato de Todos os Professores (S.TO.P), que está contra a as propostas de modelo de concurso de colocação de docentes.

A greve está a causar perturbações no funcionamento das escolas, de Norte a Sul do país. No Algarve, ao que o Sul Informação apurou até agora, há forte adesão à greve em escolas dos concelhos de Portimão (Secundária Poeta António Aleixo, EB23 D. Martinho Castelo Branco e Pontal), em Albufeira (Escola Básica e Secundária), Olhão, entre outros estabelecimentos de ensino da região.

Esta greve acontece numa altura em que o Ministério da Educação está em negociações com os sindicatos, que se têm mostrado contra a maioria das propostas da tutela.

O Sindicato de Todos os Professores contesta as alterações ao modelo de concurso de colocação de professores e reclama melhoria das condições da carreira, nomeadamente no que diz respeito aos salários, às dificuldades na mudança de escalão, ao congelamento do tempo de serviço, entre outras.

O Governo quer manter os critérios de contratação de professores, mas pretende um novo modelo de colocação, transformando os concursos nacionais em listas municipais.

A integração de docentes será decidida por conselhos locais de diretores, que não vão contratar diretamente docentes. Para o ministro da Educação, estas alterações significam uma maior estabilidade dos professores.

Na Escola EB23 D. Martinho Castelo Branco, o professor Filipe Matos explicou detalhadamente ao Sul Informação as razões da greve.

«A greve está relacionada com o estatuto da carreira docente e a forma como foi transformada há muitos anos. Tem a ver com os salários, tem muito a ver com o problema das quotas de acesso ao quinto e sexto escalão, que provocam um bloqueio gravíssimo à carreira dos professores», começou por dizer.

«Não há contagem de tempo de serviço, o Governo não pretende fazer essa contagem. Há também o problema da vinculação dinâmica dos contratados, o problema da municipalização do ensino e as comissões intermunicipais que vão gerir bolsas para a contratação de professores pelo suposto perfil que ainda ninguém sabe o que é», disse ainda.

É tudo muito estranho o que está nas propostas do governo. Somando a 20 anos de abandono da escola pública, 20 anos a denegrir o papel do professor na escola pública, tudo isso causa um cansaço tremendo aos professores. E nesta altura, com esta proposta que está no Orçamento de Estado, nós achámos que era o momento de fazer luta e mostrar a nossa posição ao país e aos pais. Por isso, estamos à porta da escola a passar panfletos aos pais, para que eles saibam as razões da defesa da escola para a defesa dos seus filhos e não pela simples razão de que queremos ganhar mais qualquer coisa», acrescentou António Fechado.

«É óbvio que merecemos ganhar mais salário, porque perdemos cerca de 20% nos últimos 15 anos, e é obvio que sentimos isso na pele, mas sentimos muito mais a degradação do nosso trabalho, excesso de burocracia, exigência de tarefas e mais tarefas e parece que a única tarefa que é a de o professor ser professor em sala de aula é a única que não tem importância: o que tem são os relatórios e planos e mais planos, um exagero!», concluiu.

Por seu lado, António Fechado, professor há 39 anos, salientou, e, declarações ao Sul Informação, que «esta greve traduz uma indignação dos professores pela forma como têm vindo a ser tratados pelo Ministério da Educação. Desde há 20 anos que a nossa profissão testá a ser humilhada e ultrajada pelo conjunto de decisões que nos esmagam e que nos colocam numa situação difícil de trabalho»

«Os alunos estão connosco porque sentem que somos bons profissionais e estão do nosso lado», acrescentou.

E, de facto, ao lado dos docentes em greve, havia também alguns alunos a apoiar e a participar, de cartazes na mão.

Lourenço Vidal, 16 anos, do 12.º ano, recordou que «atualmente, já ninguém quer ser professor e, por isso, se pensar bem, quando eu for pai, vou querer os meus filhos a serem ensinados por pessoas com o 12.º ano e que não tenham tão bons professores quanto eu? Ser professor é bom, ensinar é bom. O ser humano é curioso por natureza e desvalorizar os professores assim é também desvalorizar o ensino. Os professores são a base da sociedade».

Tiago Vieira, também de 16 anos, sublinhou que «a greve é dos professores, mas nós estamos todos a lutar pela mesma causa, que é o direito ao nosso ensino. Nós estamos aqui porque queremos um futuro melhor. Sem bom ensino, sem conhecimento, o país não anda para a frente».

O S.TO.P afirma que esta greve é uma “forma de luta inédita”, O protesto foi convocado na sequência de uma sondagem realizada no blogue ArLindo, onde milhares de professores apoiaram a realização desta greve por tempo indeterminado.

Os outros sindicatos de professores, afetos à Fenprof, não aderiram a esta paralisação, apenas tendo agendado uma manifestação para Março de 2023 e vigílias em vários pontos do país.

Em alguns locais, como em Albufeira, a greve vai continuar na segunda-feira, dia 12 de Dezembro.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação e DR

 

 

 

 



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