Desacelerar, Repensar e Agir!

Algarve pode ser “pioneiro” e um dos primeiros territórios impulsionadores da Mudança para uma Economia Positiva baseada na Natureza, na Circularidade e na Biodiversidade

“Precisamos desacelerar e repensar o nosso foco e esforços de inovação. Precisamos recentrar as nossas abordagens e processos no Planeta e na Humanidade. Precisamos voltar a uma inovação mais lenta, porém mais ponderada, orientada por propósitos e suportada por modelos participativos geradores de compromisso mais profundos – de pessoas para pessoas. Mais do que cocriar, precisamos capacitar e envolver os cidadãos para (re)criar o nosso mundo com Soluções Baseadas na Natureza e contribuir para a emergência de uma economia positiva baseada na Natureza, ou seja, precisamos de conaturar® (co-natureing®)”.

Esta foi a mensagem que partilhei na conferência Water & Humanity que decorreu em Muscat, Omã, no âmbito do evento anual do Global Forum, e que é hoje perpetuada no Manifesto Muscat 22, que pretende chamar a atenção do mundo para a necessidade de agir, hoje, sobre o nosso futuro, sendo que o Planeta e a Humanidade devem ser sempre a “Alma e o Coração” da nossa ação.

Caro leitor, inicio hoje uma coluna quinzenal onde procurarei partilhar a minha experiência sobre a necessidade e a forma de os territórios promoverem uma governança ativa orientada para o incentivo à participação dos cidadãos nos projetos de cocriação de Soluções Baseadas na Natureza (NBS), seja no contexto da Regeneração Urbana, seja na Mudança para uma Economia positiva baseada na Natureza.

A minha visão, ação académica e empresarial estão enquadradas nos programas estratégicos da Comissão Europeia e das Nações Unidas, tais como a Transição Verde, a Economia Circular, a New European Bauhaus, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, entre outros.

Falaremos também de metodologias que suportam estes objetivos, como, por exemplo, o design participativo, a cocriação, os ecossistemas de inovação.

Considero que a diversificação e o desenvolvimento da atividade económica que a Região do Algarve necessita deve ser “refundada” nestes princípios, metodologias, práticas e objetivos.

Para além do Turismo, o Algarve pode ser “pioneiro” e um dos primeiros territórios impulsionadores da Mudança para uma Economia Positiva baseada na Natureza, na Circularidade e na Biodiversidade.

Temos o potencial da nossa geografia e natureza, temos atualmente uma diversidade cultural que é uma das bases para a fertilização cruzada associada à inovação disruptiva, precisamos de uma mudança de pensamento e ação das entidades que gerem o território.

Qualquer grande Mudança é tão mais eficaz quando começa de “baixo para cima”, ou seja, quando a pressão dos cidadãos “pressiona” os gestores públicos e privados a pensar de “forma diferente”, a ter mais consciência do seu papel ativo no futuro que queremos deixar aos nossos filhos!

São os cidadãos e a comunidade que, pela sua participação, cidadania ativa, exigência, motivação na defensa resiliente dos princípios, valores e da nossa herança cultural, que podem fazer a ignição de uma reorientação das instituições para estratégias de desenvolvimento da Região assente na preservação e potenciação da Natureza e das Pessoas.

Precisamos de investir a nossa imaginação e talento empreendedor na criação de indústrias verdes, no bem-estar humano em harmonia com o bem-estar ecológico, no pensar soluções de sistemas tecno-sociais complexos que enfrentamos tais como as dicotomias humano/máquina; máquina/máquina, na resposta aos problemas geracionais traduzidos num excesso de tecnologia nas nossas vidas e na educação das nossas crianças, entre outros.

Esta foi uma das principais mensagens que o grupo de trabalho da Comissão Europeia de que faço parte deixou num dos eventos laterais que a União Europeia promoveu durante o COP27 – conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que se realizou no Egipto.

Com o tema da “Cocriação de soluções baseadas na natureza para adaptação às mudanças climáticas”, procurámos transmitir a importância do envolvimento das todas as partes interessadas e da comunidade no planeamento, desenvolvimento e implementação de Nature Based Solutions (NBS) nos territórios.

Só a participação ativa e dialogante com cidadãos permite um “entendimento comum” de desafios, problemas e oportunidades reais de cada um dos territórios. Só assim é possível identificar a “perceção coletiva” de como cada cidadão e a comunidade sente, pensa e age sobre as mudanças climáticas, e, como idealiza possíveis caminhos para a implementação de NBS como solução.

Por hoje, deixo-vos a definição mais recente de NBS gerada na Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente em Março deste ano: “são ações para proteger, conservar, restaurar, usar e gerir de forma sustentável os ecossistemas terrestres, de água doce, costeiros e marinhos naturais ou modificados, que abordem os desafios sociais, económicos e ambientais de forma eficaz e adaptativa, ao mesmo tempo que proporcionam o bem-estar humano, serviços ecossistémicos e benefícios de resiliência e biodiversidade”.

 

Autor: Américo Mateus é membro da Taskforce 6 da Comissão Europeia: co-creation of NBS; Responsável pelo NBS Hub Portugal da EU NetworkNature; Sócio e Investigador Sénior da GUDA – Design Transitions Agency; Docente Universitário no ISMAT; Diretor do TRIE – Centro de investigação transdisciplinar em Ecossistemas de Inovação do Ensino Lusófona; Diretor do Mestrado de Design para a Economia Circular do ISMAT.

 

 

 



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