Bastonária dos enfermeiros acusada pelo MP por difamação a Jorge Botelho e Margarida Flores

Ana Rita Cavaco alegou nas redes sociais que o casal teria sido indevidamente vacinado contra a Covid-19

Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, foi acusada pelo Ministério Público (MP) por dois crimes de difamação, na sequência de uma publicação que fez na rede social Facebook, onde alegava que Jorge Botelho, à data secretário de Estado Descentralização e Administração Local e ex-presidente da Câmara de Tavira, e a sua mulher Margarida Flores, a diretora regional de Faro do Instituto de Segurança Social, bem como outros familiares, tinham sido vacinados contra a Covid-19 fora da vez.

Na sequência de processos-crimes por difamação apresentados pelo casal, o MP deduziu acusação, onde considera que Ana Rita Cavaco cometeu, «em autoria material na forma consumada, dois crimes de difamação».

Em causa está uma publicação em que a bastonária levantava a suspeita de que Jorge Botelho e Margarida Flores já tinham sido vacinados, numa altura em que o processo de vacinação contra a Covid-19 ainda ia numa fase muito precoce.

No final de Janeiro de 2021, Ana Rita Cavaco fez um post em que afirmava ter ouvido dizer que Margarida Flores «pegou nela, dizem, na família e nuns amigos socialistas e toca de fazer de fura filas e chicos espertos a tomar a vacina».

«Se assim for, a quantidade de trastes por metro quadrado no país, que é pequenino, está insuportável! Oh criaturas horrorosas, fina flor do entulho! Que gente é esta, meu Deus?», escreveu.

 

 

Contactados pelo Sul Informação, logo após a publicação ter sido feita, Jorge Botelho e Margarida Flores asseguraram que não tinham sido vacinados contra a Covid-19, «nem qualquer membro da nossa família».

Este mesmo esclarecimento foi prestado à autora do post que, ainda assim, não o apagou, limitando-se a adicionar mais texto: «Entretanto ligou-me agora o SE Jorge Botelho, agora fixei o nome, referindo que não foi vacinado, nem ele, nem a esposa, mas que tem critérios para ser. Ficou aborrecido com o que as pessoas dizem. Achei que devia pôr aqui a sua posição mas confesso que fiquei confusa, não foi mas tem critério. Lembrei-me de outra coisa também, o critério neste país para se ter um alto cargo público, família».

O critério referido por Jorge Botelho é a doença cardiovascular de que padece, para além de ser asmático. À data, o antigo membro do Governo tinha sofrido um enfarte do miocárdio alguns meses antes.

No texto da acusação, ao qual o Sul Informação teve acesso, e referindo-se ao post inicial e à adenda, o MP considera que «a arguida não se coibiu de agir, como acima descrito, utilizando, para o efeito, o seu perfil na rede social Facebook, o qual é público e tinha à data dos factos cerca de 18434 seguidores».

Também é salientado o alcance da publicação: 290 partilhas e 64 comentários.

O Ministério Público considera ainda Ana Rita Cavaco agiu com «o propósito concretizado de, através de meio de comunicação/rede social, lançar a suspeita quanto a uma eventual conduta» de Margarida Flores, «sem antes apurar a veracidade das imputações que proferia», bem como de «formular juízos» quanto a Jorge Botelho.

Tudo isto «bem sabendo que as afirmações (…) eram susceptíveis de lesar, como lesaram, o bom nome, honra e consideração» dos visados.

«A arguida atuou sempre de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei», lê-se ainda no texto da acusação.

 



Comentários

pub