Tribunal de Loulé aceita providência cautelar para suspender obras nas Alagoas Brancas

Decisão do Tribunal de Loulé implica a notificação imediata de todas as partes no sentido de suspenderem de imediato os trabalhos no local

Manifestação contra as obras nas Alagoas Brancas

O Tribunal Administrativo e Fiscal de Loulé considerou procedente a providência cautelar interposta pelo Pessoas-Animais-Natureza (PAN) no passado dia 7 de Novembro e determinou a suspensão imediata dos trabalhos de construção de uma nova superfície comercial na zona das Alagoas Brancas, no concelho de Lagoa, acaba de anunciar aquele partido em comunicado.

A decisão do Tribunal de Loulé implica a notificação imediata de todas as partes no sentido de suspenderem de imediato os trabalhos no local, os quais resultaram já, para o PAN, em «graves e irreparáveis prejuízos a valores ambientais, históricos, paisagísticos e identitários, protegidos pelo Direito vigente, assim como ao nível da biodiversidade, o que constitui também um dano contra a natureza».

A par desta ação, o PAN formalizou também uma queixa junto do Ministério Público no passado dia 31 de Outubro, requerendo a atuação deste em defesa dos interesses difusos, conforme previsto na legislação em vigor.

Em causa está, segundo o PAN, «a preservação daquela que é uma das únicas zonas húmidas no Algarve, cuja destruição teve início há duas semanas após a Câmara Municipal de Lagoa ter dado luz verde a uma empreitada sem que tivesse sido procurada uma localização alternativa para a edificação do empreendimento comercial, levada a cabo uma avaliação de impacte ambiental ou tão pouco sido acautelado o impacto das obras na biodiversidade existente no local, não apenas as aves, mas uma série de outras espécies, onde se inclui o cágado-de-cabeça-estriada, espécie protegida e sem qualquer hipótese de fuga perante a intervenção das máquinas».

«Foi com emoção que recebemos a notificação de deferimento do tribunal do pedido de interposição de uma providência cautelar», disse Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN.

«Tem sido com profunda tristeza que temos observado a destruição progressiva da zona que serve de refúgio a centenas de aves, muitas com estatuto de proteção ao abrigo da Diretiva Habitats, e de outras espécies como o cágado de carapaça estriada, em situação vulnerável, sem que a Câmara Municipal ou as demais entidades governamentais competentes se tenham mobilizado em travar aquele que é, no nosso entender, um crime ambiental», acrescentou a líder do PAN.

«Não aceitamos, nem conseguimos compreender a posição do executivo da autarquia de Lagoa, a qual está totalmente em contraciclo com aquelas que são as preocupações de uma sociedade do século XXI que se debate contra o impacto das alterações climáticas e como uma perda de biodiversidade a uma escala sem precedentes, como consequência da ação humana. Não basta apregoarmos para a comunidade internacional que estamos preocupados, é preciso mostrar que esta é uma preocupação real e consequente e que, por isso, não compactuamos com projetos que vão no sentido de mais destruição do legado natural de que somos meros usufrutuários», vinca Inês de Sousa Real.

«Da nossa parte, não baixaremos os braços e tudo faremos em nome da conservação das Alagoas Brancas», sublinhou ainda a porta-voz do PAN.

De acordo com um estudo levado a cabo em 2019, financiado pelo Fundo Ambiental, só nas Alagoas Brancas foram identificadas 114 espécies de aves, destacando-se a presença neste local de pelo menos 1% da população nacional reprodutora de caimão (Porphyrio porphyrio) e 1% da população regional (Mediterrâneo, Mar Negro e África Ocidental) de Íbis Preta (Plegadis falcinellus).

No local, ocorrem igualmente espécies com estatuto de conservação desfavorável, como o cágado-de-carapaça-estriada classificada como «Em Perigo» e a Osga-turca classificada como «Vulnerável», que estão a ser soterradas vivas em resultado dos trabalhos de terraplanagem em curso no local.

 

 



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