O Sado, o barco para o atravessar e outras histórias

O Caminhante atravessa o rio Sado de barco

 

T2 E6 – Vale do Guizo>>Alcácer do Sal

Hoje começámos a nossa caminhada… sentados n’O Baracinha, com uma travessa de choco frito na nossa frente.

Num dos episódios anteriores, eu tinha referido que não estávamos a fazer os troços de acordo com o programa oficial. O troço desde Grândola até Alcácer são 33 quilómetros, mas nós já não somos (tão) novos e resolvemos fazer o Caminho em troços homeopáticos, em pequenas doses e de acordo com os mais tradicionais valores alentejanos – devagarinho, com calma e sem pressas.

Por isso, temos partido alguns percursos em dois e foi o que aconteceu com este. Ontem fizemos 22 quilómetros, hoje só faltavam 11 e, por isso, a preguiça permitiu-nos almoçar e só depois caminhar.

 

 

Dada esta explicação, n’O Baracinha (que é o nome do dono) tivemos uma vertente muito importante dos Caminhos – a vertente humana. Tínhamos o restaurante só para nós, a D. Mariana estava à nossa espera para começar a fazer o almoço e o filho, o Carlos, estudava a maré para ver quando podíamos atravessar o rio.

E foi muito interessante a conversa que fomos tendo com eles, sobre as suas histórias de vida, desde as grandes cheias do Sado até aos dias em que o restaurante se enche de clientes para apreciar o ensopado de enguias, passando pela promessa (ainda não cumprida) que a Junta de Freguesia fez de melhorar o cais para a travessia.

Bem almoçados, atravessámos o rio. Logo ali o GPS e a sinalética não bateram certo e optámos por deixar as modernices de lado e seguir as indicações das balizas (este é o nome oficial dado aos postes com os sinais do Caminho).

 

 

Se nós tivéssemos feito todo o troço num dia já chegaríamos aqui cansados e, com certeza, não teríamos disponibilidade para desfrutar do que nos ia aparecendo pela frente. E o que íamos vendo é digno de um safari fotográfico, tantas as imagens que mereciam ficar para a posteridade.

O rio andava às curvas, tanto se afastava muito como vinha mesmo ao nosso lado. Mas dava para imaginar o mar em que se tornaria num dia em que houvesse uma cheia e cobrisse os arrozais. Vimos um bando enorme de cegonhas a levantar voo, matizando o céu de pontos brancos e pretos e, à medida que caminhávamos, aves de várias espécies apareciam à nossa frente. No chão, estavam sinais de javalis, pequenos e grandes, mas esta zona deve ser o paraíso das lontras, tantos os rastos e as cagadelas que vimos.

 

 

Mais ou menos a meio do caminho, vieram direitos a nós dois cães a ladrar. Um deles dava pelo nome de Leão, por isso calculem o seu porte. Contra dois cães daquele tamanho, não há pau ferrado que funcione, por isso parámos e ficámos quietinhos. Já conhecia a “baba de camelo”, o doce, a “baba de caracol”, medicinal, mas desta vez fomos presenteados com baba de cão. Não sei se terá algum efeito secundário, mas fomos devidamente lambuzados (e cheirados) até que a dona os chamou.

Como não há bela sem senão, os últimos três quilómetros para chegar a Alcácer do Sal foram feitos em estrada de alcatrão, por sinal muito movimentada por grandes camiões. Mas compreendemos que às vezes não há alternativa…

Chegámos a Alcácer com a funcionária já a fechar o Posto de Turismo. Simpaticamente, tornou a abrir a porta para carimbar a Credencial. E foi a primeira vez que recebi a tradicional saudação ao peregrino – “Bom Caminho”.

 

 

 

 



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