O (re)desenho do habitar

Urge debater a habitação face às necessidades da vida contemporânea

A Arquitetura cumpre, entre outras, uma das (maiores) necessidades do Homem: a necessidade de abrigo. Em 2020, quando declarada a situação de Pandemia Mundial, surgiu a necessidade de confinar pessoas ao seu abrigo.

Começámos a passar mais tempo em casa e num ápice a ter que nos adaptar às exigências que se colocam à coabitabilidade, sendo que, para a grande generalidade das pessoas, não havia memória de tanto tempo passado em casa, num espaço que não foi pensado ou organizado para o desempenho, de um modo tão (aparentemente) permanente, de funções tão distintas como espaço escolar, escritório, lazer, exercício físico, (…).

Atividades que, natural e culturalmente, se realizavam fora do espaço privado e que passaram a ser realizadas em simultâneo e no mesmo espaço, por diferentes pessoas!

O momento pandémico alterou para sempre os paradigmas instituídos – o teletrabalho instalou-se no quotidiano de muitos, os nómadas digitais multiplicam-se e ganham adeptos entre as gerações mais novas, as empresas adaptam-se. Urge debater a habitação face às necessidades da vida contemporânea.

A maioria da habitação é projetada para dar resposta às necessidades de destinatários anónimos e obedece a uma legislação que tem por base modos de vida social e culturalmente há muito estabelecidos, bem como a um mercado imobiliário habituado a estes padrões.

Será prematuro pensar se as estruturas habitacionais e do território (rurais e/ou urbanos) irão, ou não, reagir face a esta transformação abrupta e se as necessidades que se verificaram irão, ou não, gerar respostas diferentes – quer na forma como se entende e desenha o território, quer na forma como se organiza e define do espaço habitacional.

Então, qual o papel da arquitetura no (re)desenho do habitar?

Deverá, sobretudo, passar por um pensamento global do seu gesto, onde o mais difícil será delinear qual o primeiro passo a dar.

Numa controversa relação entre o “ovo e a galinha”, ou seja: o que mudar primeiro, o território ou o abrigo?, à arquitetura compete a harmonia entre o conforto e a beleza (essenciais à vida) e os aspetos funcionais e construtivos dos espaços e, simultaneamente, o (re)pensar do território onde estes se inserem.

O maior desafio passa por percebermos se será mais fácil mudar o território, as cidades e os edifícios ou a mentalidade e a atitude de quem os gere, percorre e habita. Regata-se, assim, a função social da Arquitetura.

 

Autora: Ana Bordalo é diretora do Mestrado Integrado em Arquitetura do ISMAT e codiretora do Mestrado em Reabilitação de Edifícios e Sítios

 

 



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