«O bom e o mau» dos Descobrimentos para ver na Fortaleza de Sagres

O Centro Expositivo estará aberto todos os dias e já pode ser visitado

Entrar no novo Centro Expositivo da Fortaleza de Sagres é percorrer a história dos Descobrimentos, nua e crua, com todos os seus benefícios, mas também com as atrocidades do tráfico de escravos. Na exposição não falta, por exemplo, um astrolábio, as caravelas, referências ao Infante, mas também uma imagem de um navio negreiro. O sonho de abrir o novo espaço, na Fortaleza de Sagres, era antigo, mas, garante quem sabe, «a espera valeu a pena». 

A restaurada porta bicentenária, que controlou durante muito tempo os acessos à Fortaleza, é um dos ex-libris deste Centro Expositivo que foi inaugurado este domingo, 13 de Novembro.

É com ela que nos cruzamos, mal entramos: simbolicamente colocada à entrada, serve quase de chamariz para todos os visitantes.

O espaço divide-se por várias pequenas salas, onde se vai contando a história dos Descobrimentos, mas também a própria história da Fortaleza e daquele território.

Numa delas, fala-se de S. Vicente, padroeiro tanto das Dioceses do Algarve como de Lisboa. Foi em Sagres que estiveram as relíquias do mártir, antes de terem sido levadas para Lisboa, acredita-se que a mando de D. Afonso Henriques.

 

 

O Infante D. Henrique também está representado, nomeadamente numa projeção dos Painéis de S. Vicente e na recriação do espaço de trabalho do filho de D. João I.

Como explicou Rui Parreira, arqueólogo e museólogo, responsável pelos conteúdos do novo Centro Expositivo, apesar de ser «ficcional», é muito «plausível» que o Infante tenha, de facto, trabalhado numa sala parecida com aquela que foi recriada.

Mas uma das principais valências deste Centro Expositivo é, nas palavras de Adriana Nogueira, diretora regional de Cultura do Algarve, contar «a história toda: do bom e do mau».

Por isso, não foi esquecida a temática do tráfico humano. Numa das salas, logo em frente a outra que recria o porão de uma nau, vemos uma projeção de uma pintura que retrata a desumanidade de um navio negreiro.

Ao lado está, também, a cópia de uma algema de escravos, emprestada pelo Museu de Lagos, cujo original se encontra no Museu Nacional de Arqueologia. A escravatura é, salientou Adriana Nogueira, uma realidade que «há que assumir na sua completa dimensão».

 

 

A experiência termina numa sala, onde está instalada uma esfera, para o interior da qual as pessoas são convidadas a entrar, para visualizar um filme.

Todo o Centro Expositivo tem também audioguias, em diferentes línguas, e um primeiro andar dedicado a exposições e que vai ser gerido em parceria com o Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) da Universidade do Algarve.

A primeira exposição é do artista plástico algarvio Manuel Baptista e chama-se “Territórios Invisíveis”. O objetivo, segundo Adriana Nogueira, é que o espaço tenha «duas exposições por ano».

Mas, para se chegar «ao dia feliz» que foi o passado domingo, houve muito a percorrer.

A abertura do Centro Expositivo, que coincidiu com a data da morte do Infante D. Henrique e não contou com a presença de nenhum membro do Governo, foi o culminar de um processo longo.

Tudo começou em 2012, com a apresentação de um primeiro projeto, ganhou novo alento em 2018, altura em que o projeto foi atualizado, e finalmente avançou para o terreno em 2021, muito graças à comparticipação de mais de 1 milhão de euros de fundos da União Europeia do Programa Operacional CRESC Algarve 2020 e dos programas de Intervenção Turística (PIT) e de Investimentos Públicos de Interesse Turístico para o Algarve (PIPITAL).

Hoje, o espaço é uma realidade e esta é «mais uma razão» para ir à Fortaleza de Sagres, um dos monumentos nacionais mais visitados do país. Para se ter uma ideia, até Outubro deste ano, já houve cerca de 402 mil pessoas a entrar neste monumento, gerido pela Direção Regional de Cultura do Algarve.

«Foi um processo difícil, mas a espera valeu a pena. O nosso trabalho, das pessoas da Direção Regional de Cultura, foi incansável», concluiu Adriana Nogueira.

O Centro Expositivo estará aberto todos os dias e já pode ser visitado. A entrada está incluída no preço de ingresso na própria Fortaleza.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

 

 



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