Salários na hotelaria são «1,7 vezes superiores aos de 2015», mas faltam 8 mil trabalhadores

Revela o estudo “O capital humano na hotelaria e empreendimentos turísticos do Algarve” feito aos associados da AHETA

O valor médio dos salários nos hotéis do Algarve situa-se nos 1013 euros, um valor «1,7 vezes superior ao que os empreendimentos pagavam em 2015», mas «as necessidades de recursos humanos variam entre 4.484 e 7.906», até ao final de 2023. Estas são as principais conclusões do estudo feito pela Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), em colaboração com o KIPT Inovação e Turismo Laboratório Colaborativo da Universidade do Algarve, apresentado esta quarta-feira, 26 de Outubro, em Loulé. 

De acordo com Hélder Martins, presidente da AHETA, «o estudo foi encomendado para percebermos em que estado estamos, em que estado já estivemos e como poderemos estar no futuro».

«É muito frequente, quando se fala nesta crise de recursos humanos, dizerem “paguem mais”, mas o estudo mostra que isso não é a totalidade da resposta», defendeu.

O estudo realizado pela Universidade do Algarve teve por base uma amostra que inclui os associados da AHETA, que representam 54% da capacidade de alojamento no Algarve, 52% da procura turística e 34% do emprego na região.

Com base nesta amostra, concluiu-se que, no campo da remuneração, «é evidente a prevalência de salários acima do salário mínimo nacional» e que, «apesar da variabilidade dos salários, justificada pela diversidade de funções, o valor médio situa-se nos 1013 euros em 2022», enquanto, em Julho de 2015, «o salário médio era de 567 euros».

«Eu não deixaria de dizer “paguem mais”, mas estamos a evoluir e estamos a evoluir muito bem. Se compararmos estes valores com as médias nacionais, nós estamos claramente a pagar acima. Por isso, vê-se um esforço da parte dos empreendimentos turísticos para melhorar a remuneração, ainda assim os desafios do recrutamento continuam», referiu Antónia Correia, docente na Universidade do Algarve e responsável pelo estudo “O capital humano na hotelaria e empreendimentos turísticos do Algarve”.

«As dificuldades de contratação são evidentes, principalmente nas áreas mais operacionais, como sejam a alimentação e bebidas, o alojamento e a manutenção», revela o estudo. Mas, mesmo assim, «as condições de trabalho no turismo e hotelaria registam uma melhoria progressiva, no que toca a estabilidade e salário».

«Fala-se também de emprego sazonal, mas 97% dos colaboradores que estavam em Julho nos estabelecimentos inquiridos estavam a tempo integral», diz Antónia Correia.

 

Hélder Martins e Antónia Correia – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Quanto ao número de trabalhadores em falta, o estudo mostra que, «se se atender às necessidade atuais do setor, será necessário um aumento de 45% dos colaboradores atuais da região», mas, ainda assim, «considera-se um aumento de 25% da força de trabalho atual razoável no garante da excelência do serviço». Traduzindo as percentagem em números, fala-se então de uma necessidade de aumento de mão de obra que varia «entre 4.484 e 7.906 [pessoas] até finais de 2023».

«Não há turismo sem recursos humanos. Hoje em dia, as tecnologias substituem quase tudo, mas o conceito do turismo no Algarve não é assim e passa por pessoas», frisou Hélder Martins, realçando que espera que «o governo tenha visão» para ajudar a resolver os problemas do setor.

Quanto à recente decisão do governo em estabelecer um protocolo de livre circulação de trabalhadores para o setor, com os países de língua oficial portuguesa, Hélder Martins teme que «pode haver problemas» na capacidade dos consulados portugueses naqueles países em passar os vistos, o que pode vir a atrasar a chegada de trabalhadores em 2023.

A necessidade de melhorar a reputação do trabalho no turismo é ainda, segundo Antónia Correia, um fator em falta no Algarve.

Quanto às medidas, a investigadora frisa que é preciso «implementar estatutos de carreira, para que as pessoas percebam que existem possibilidades», «aprender a falar a língua dos nossos jovens» e, sobretudo, «é preciso renovar e repensar as nomenclaturas da profissão em turismo».

«Não é possível continuarmos a trabalhar com uma legislação e com as nomenclaturas que temos hoje. Isto não é só urgente, como é emergente, para podermos voltar a ter mais pessoas a querer trabalhar no turismo», rematou.

Quanto ao aumento da remuneração, o presidente da AHETA sugere que seria bom que o governo dissesse que está disponível para algum ajuste nos impostos desde que a hotelaria traduzisse esse contributo nos salários.

Por outro lado, a falta de alojamento no Algarve é também apontada como um grande entrave à fixação de trabalhadores na região.

Por fim, Hélder Martins referiu que o trabalho com a universidade neste estudo parte da intenção de que este seja «um ponto de partida», que provoque o debate, «e não um ponto de chegada».

 



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