A «difícil e obscura relação entre género e migração» vai ser explorada na peça “Samotracias”, de Carolina Santos, que vai ter estreia mundial no dia 21 de Outubro, no Cineteatro Louletano, em Loulé, às 21h00.
A mais recente produção da Mákina de Cena baseia-se no livro Les Samothraces, de Nicole Caligaris, e integra «testemunhos de mulheres migrantes residentes na região algarvia», que«compõe um mosaico íntimo dos sonhos partidos entre fronteiras», segundo a companhia teatral louletana.
Depois da estreia em Loulé, o espetáculo poderá ser visto em Lagoa (23 de Outubro, às 17h00, no Auditório Carlos do Carmo), e em Faro (28 e 29 de Outubro, às 21h00, na direção regional do IPDJ). Nos dias 12 e 13 de Novembro a peça será apresentada no Teatro Ibérico, em Lisboa.
Na peça, «Pepita, Sandra e Sissi, três mulheres de diferentes gerações, nacionalidades e línguas — português, espanhol e francês —, manifestam o mesmo desejo: o de partir».
«Pela ambição ou pela urgência da fuga, cruzam-se os destinos de uma jovem que procura a fama no estrangeiro, uma mãe viúva que se recusa a um casamento forçado e uma senhora que, passadas décadas de servidão, procura um fim diferente para a sua vida. Esmagadas pela esperança de um outro futuro, assistem, porém, ao desvanecimento dos seus sonhos numa viagem cruel», descreve a Mákina de Cena.
Quanto ao nome da peça, é inspirada na escultura em mármore branco devotada à deusa da Vitória, descoberta em 1863, na ilha de Samotrácia.
Esta é a deusa que, «segundo a mitologia grega, é enviada por Zeus para anunciar o triunfo e a glória aos vencedores nos campos de batalha. A estátua, descoberta em pedaços e sem cabeça, está hoje exposta no Museu do Louvre».
«Em 2022, quem encarna essa figura? Quem é — ou quem são — a representação de uma vitória fragmentada, rebentada e sem rosto?», questiona a companhia teatral.
«Atenta às desigualdades e às violências de género que nunca deixam de acompanhar as experiências das mulheres migrantes — muitas vezes, até, de forma ampliada —, “Samotracias” propõe um compromisso com estas reflexões tanto em cena como nos seus processos de criação artística», acrescenta.
A peça privilegia «um modelo de trabalho coletivo e implicado socialmente» e, por isso, «incorpora a escuta e a partilha de histórias de mulheres migrantes residentes em vários concelhos do Algarve».
Seguindo a mesma filosofia, também estão previstas apresentações para escolas nas cidades de Loulé, Lagoa e Faro.
Desde Les Samothraces, publicado em 2000 pela escritora francesa Nicole Caligaris, a tragédia daqueles que continuam a andar sem rumo, casa ou sorte multiplicou-se: «aconteceu Mória, aconteceu uma pandemia global, […] continuou Gaza, continuou o Irão, continua o género a ser tabu», diz Carolina Santos, que lembra ainda as guerras no Afeganistão e, agora, a invasão da Ucrânia, «que obrigou e obriga centenas de milhares de mulheres a abandonarem a sua terra, e parte das suas identidades, com as suas crianças e famílias».
“Samotracias” é uma coprodução da Mákina de Cena e da Fondación Teatro Libre De Bogotá (Portugal, Colômbia e Chile), com financiamento da Câmara Municipal De Loulé e da estrutura Iberescena – Fundo de ajudas para as artes cénicas Ibero-Americanas, e apoio de First Round — Int. Creative Platform, Auditório Carlos Do Carmo — Município De Lagoa, Fundación Santiago Off, IPDJ Faro, ACM – Alto Comissariado para as Migrações, CNAIM Faro, Fundação António Aleixo, Casulo — Laboratório De Inovação Social De Loulé e Vamus – Transportes do Algarve, Loulecópia.
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