Rogério Bacalhau acusa primeiro-ministro de «falta de respeito» pelos farenses no dia de Faro

António Costa “deu” o nome Gago Coutinho ao Aeroporto de Faro ao mesmo tempo que decorria a sessão solene do Dia da Cidade de Faro

«Uma falta de respeito pelos farenses» e um episódio que «nem se consegue qualificar».  Foi desta forma que Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, comentou a vinda de António Costa ao concelho, ontem, dia 7, para participar na cerimónia de atribuição do nome Gago Coutinho ao Aeroporto de Faro, marcada para a mesma hora que a sessão solene do Dia da Cidade, sem que o município fosse consultado.

A situação caiu mal tanto junto de Rogério Bacalhau, como de Cristóvão Norte, presidente da Assembleia Municipal, ambos social-democratas. E se o presidente da Câmara deixou o assunto fora do seu discurso oficial, o ex-deputado e atual presidente do PSD/Algarve fez questão de afirmar durante a sessão o seu «vivo repúdio» pelo que considera ser uma «desconsideração» e um «desrespeito institucional no grau último».

Questionado pelos jornalistas, já depois de concluída a sessão em que se assinalaram oficialmente os 482 anos de elevação de Faro a cidade, o presidente da Câmara reforçou esta ideia.

«Não se trata de desrespeitar o Rogério Bacalhau, que está aqui, mas qualquer dia se vai embora. Há relações institucionais que se devem manter. (…) É uma falta de respeito, que não se resolve com um ofício a dizer: desculpem lá que não reparámos».

 

Rogério Bacalhau – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

O edil farense garante que só soube da realização desta cerimónia quando recebeu o convite da ANA Aeroportos.  «Nem sequer percebi bem o que era, falava apenas em mudar o nome e que estaria presente o primeiro-ministro».

«Eu disse que não poderia estar presente por causa do Dia da Cidade e mandei uma carta ao primeiro-ministro. Na sexta-feira passada, o chefe de gabinete telefonou-me de Moçambique a dizer que não sabiam [que coincidia com o Dia da Cidade]», contou o presidente da Câmara de Faro, que não se deixou convencer pela justificação.

«Não acredito que as saídas do primeiro-ministro sejam tratadas com essa leviandade. Fica registado!», disse.

À margem da sua visita ao Aeroporto de Faro e em resposta a uma questão do Sul Informação, António Costa lamentou «que não tenha sido possível conciliar os horários».

«É uma coincidência feliz, o facto de o bicentenário da independência do Brasil ser também o Dia do Município de Faro. Felicito todos os farenses», acrescentou o primeiro-ministro.

Rogério Bacalhau lembrou, por seu lado, que ontem teve «um programa que durou até às 20h00. Isto são coisas que se preparam com meses de antecedência. Ontem [terça-feira], quando recebi o ofício, já não dava para mudar nada. Se tivesse sido avisado com antecedência, eu poderia ter feito menos inaugurações, um outro programa, e conseguiríamos ajustar».

«Para nós, o dia está a correr bem, o concelho vai sobrevivendo. Temos muita coisa, muitas inaugurações e isso é que é preciso. O sr. primeiro-ministro fica com isto no seu currículo. Não é agradável, mas é o que podemos ter», atirou Rogério Bacalhau.

«Eu sei que hoje é o dia da independência do Brasil, mas haveria outras formas de fazer isto. Poderíamos nós ter feito a nossa cerimónia à tarde, podia ter havido alguma concertação, que certamente seria possível», reforçou.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

O que também não agrada à Câmara de Faro, mas que não impediu que ontem fosse «um dia feliz», é o facto de se alterar o nome do aeroporto, que até hoje era de Faro.

«Não percebemos muito bem o que é o Gago Coutinho tem a ver com o concelho de Faro e com o aeroporto», disse.

«É evidente que é uma figura importante da nossa história. Mas ninguém percebeu. Houve um conjunto de amigos do sr. primeiro-ministro que propuseram isso e ele aceitou. Está no seu direito. Agora, não nos pode obrigar a nós a concordar com essa decisão», rematou Rogério Bacalhau.

O nome escolhido para dar ao aeroporto, ontem oficializado, celebra o aviador português, com raízes algarvias, que há 100 anos, com Sacadura Cabral, protagonizou a primeira ligação aérea entre Portugal e o Brasil.

A designação foi proposta primeiro por uma comissão de algarvios, depois pela própria AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, da qual a Câmara de Faro faz parte.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Na prática, a cerimónia no aeroporto decorreu paralelamente a uma sessão onde foram homenageados, não só, funcionários, personalidade e instituições do concelho, como também quatro antigos presidentes da Câmara, dois eleitos pelo PS e outros dois pelo PSD ou por coligações lideradas por este partido.

Luís Coelho, José Vitorino, José Apolinário e Macário Correia subiram ao palco para receber das mãos de Rogério Bacalhau medalhas de mérito municipal – grau ouro e os respetivos diplomas.

Também o almirante Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada, foi homenageado, neste caso, com a atribuição da chave da cidade.

O antigo coordenador da task force da vacinação contra a Covid-19 desdobrou-se, de modo a estar presente tanto na cerimónia no Aeroporto de Faro, como na sessão solene do Dia da Cidade, onde chegou quando esta ia sensivelmente a meio.

Também Artur Nunes da Silva, mais conhecido como “chefe Artur” da PSP, a Arquente – Associação Cultural, o Hotel AP Eva Senses, João José Gago Horta (a título póstumo), João Amaro (Tertúlia Algarvia), Maria Cabral (ex-presidente da Orquestra Clássica do Sul) e Ricardo Colaço (atleta de tiro com arma de caça) foram agraciados com medalhas honoríficas.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 



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