Histórias do Posto Agrário: «Deviam fazer um centro de formação” no CEAT

Testemunho destes trabalhadores é o 7º e último de uma coletânea que o movimento de Cidadãos pelo CEAT e Hortas Urbanas realizou

 

José Gomes e Maria de Fátima Marques, os dois últimos funcionários de campo do Centro de Experimentação Agrária de Tavira (CEAT), bem como Cristina, que ali vive, são os protagonistas do sétimo e último testemunho em vídeo do projeto documental “Histórias do Posto Agrário”, promovido pelo Movimento de Cidadãos pelo CEAT e Hortas Urbanas de Tavira.

O CEAT foi «casa de muitas famílias durante décadas», mas foi, «sobretudo, um lugar de aprendizagem e preservação do património agrícola», salienta o movimento.

Perto de chegarem ao fim da vida profissional, os dois funcionários do CEAT recordam o tempo em que havia mais de 30 funcionários, ao mesmo tempo que lamentam o desmantelamento deste posto agrícola.

José Gomes, ou Zeca como é conhecido, foi para o Posto Agrário trabalhar com 15 anos nas oficinas. Já ali conta uma vida de 45 anos, apenas mais 3 que a colega Fátima; que recorda: «Íamos à praça abastecer as pessoas que vendiam lá no mercado. Houve aqui de tudo um pouco: alfaces, cenouras, batatas, batatas-doces…». «Até flores», completa Zeca.

«Isto para mim era uma exploração, tal como temos agora as coleções, mas com mais variedades e mais pessoas a trabalhar», defende Fátima.

«Antigamente havia cursos de formação, porque havia engenheiros a dar formação. Era o que eles deviam fazer, um centro desses, mesmo que fizessem essas coisas que querem fazer, têm muito espaço para fazerem de tudo um pouco. Podiam ter mais coisas dessas, para dar saber aos outros, para explicar aos outros, porque há pessoas que não sabem o que é uma poda», vaticina.

Fátima está perto da reforma e Zeca também. Cristina deixou de trabalhar aquando da Lei da Mobilidade. Entre os três, contam-se décadas de História de uma grande casa.

Mas, se há 43 anos que não entra ali ninguém novo para trabalhar e «daqui a três anos vamos embora», Fátima teme pelo futuro: «se calhar fecha».

Do movimento de cidadãos pelo CEAT, nasceram duas associações, a Ecotopia Activa e a Associação Al-Bio, que, «além de estarem ativamente a desenvolver iniciativas ligadas à sustentabilidade, procuram ainda recuperar e dinamizar o CEAT no âmbito do novo Pólo de Inovação e integrar o grupo de trabalho do Centro de Competências da Dieta Mediterrânica, Património Cultural Imaterial da Humanidade e que tem Tavira como a sua sede».

«Formação, criação de um entreposto agrícola e edificação de uma cozinha partilhada para a transformação dos alimentos tipicamente mediterrânicos são objetivos pelos quais continuam a trabalhar e a lutar todos os dias», concluem.

 

 



Comentários

pub