Saúde pede «extinção imediata» de incêndio em lixeira devido a substâncias cancerígenas

Delegada Regional de Saúde reagiu ao relatório de monitorização da qualidade do ar encomendado pela CCDR Algarve

A combustão na central continua – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

A delegada regional de Saúde determinou que é necessária a «extinção imediata» do incêndio que lavra há mais de um mês numa central de gestão de resíduos em Vale da Venda, em Loulé, devido aos elevados valores de partículas em suspensão e benzeno detetados no ar, que podem causar graves problemas de saúde, incluindo cancro e doenças respiratórias.

Num comunicado a que o Sul Informação teve acesso, Ana Cristina Guerreiro revela que determinou «a implementação de medidas e procedimentos com vista à extinção imediata dos focos do material atualmente em combustão nas instalações da Empresa “Inertegarve, Lda. – Central de Gestão de RC&D“», na sequência da análise de um relatório de monitorização da qualidade do ar encomendado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve.

«A 25 de Julho de 2022 foi realizada uma visita conjunta por parte de várias entidades, ainda sem a presença da Saúde. A 11 de agosto de 2022, na sequência de denúncias e queixas telefónicas de vários cidadãos residentes nas imediações do respetivo local, foi efetuada uma visita conjunta por iniciativa da Autoridade de Saúde e da GNR territorialmente competentes, acompanhada por outras entidades, tendo resultado no reconhecimento da suspeita de risco para a Saúde Pública e na necessidade urgente de cessar por completo os focos da combustão», enquadra a delegada de saúde.

Esta visita aconteceu já depois de a CCDR ter suspendido a licença de atividade da central de resíduos.

Decidiu-se, dessa forma, proceder à análise das emissões do incêndio que lavra desde 14 de Julho nesta empresa de gestão de resíduos, situada em plena Mata do Ludo, perto da fronteira entre os concelhos de Loulé e Faro.

 

Ana Cristina Guerreiro, delegada regional de Saúde – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação (Arquivo)

 

A avaliação «contemplou a determinação da concentração de Óxidos de Azoto, Monóxido de Carbono, Benzeno, Partículas em Suspensão na Atmosfera (fração PM10), Ozono e Dióxido de Enxofre, tendo-se verificado valores acima dos níveis de referência indicativos para os parâmetros Partículas PM10 e Benzeno»

No primeiro caso, «o valor máximo diário detetado foi de 151μg/m3, com 4 excedências e valor médio de base diária de 62μg/m3», quando a lei estipula que o valor limite de PM10 em 24 horas é de 50 μg/m3.

A Autoridade de Saúde Regional explica que a exposição à partículas em suspensão «contribui para o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e respiratórias, bem como de cancro do pulmão, existindo uma relação estreita e quantitativa entre a exposição a altas concentrações e o aumento da mortalidade ou morbilidade, tanto diariamente, quanto ao longo do tempo».

No que toca aos valores de benzeno, foi detetada uma concentração média de base diária de 21,6μg/m3, quando concentrações médias de benzeno no ar ambiente em áreas rurais e urbanas se encontram «na ordem de 1 μg/m3 e 5-20 μg/m3, respetivamente, sendo a inalação a via dominante para a exposição ao benzeno em humanos».

O benzeno é classificado «como cancerígeno do Grupo 1 (nível mais elevado), não obstante o seu efeito global ao nível de mortalidade prematura ser considerado baixo. A exposição humana ao benzeno tem sido assim associada a uma série de efeitos adversos à saúde agudos e de longo prazo e doenças, incluindo neoplasias e efeitos hematológicos».

Foi o elevado valor de partículas e de benzeno detetados, «superiores aos valores indicativos utilizados por analogia como referência, bem como de outros parâmetros não avaliados e que eventualmente se possam encontrar presentes» que Ana Cristina Guerreiro decretou que o incêndio tem de ser apagado o mais rapidamente possível.

 

 

 

 



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