Núcleo de Lagos do Museu Ferroviário vai reabrir, para «celebrar o futuro»

Dois dias repletos de atividades recordaram a história da chegada do comboio a Lagos, a 30 de Julho de 1922, e perspetivaram o futuro

O interior do Núcleo de Lagos do Museu Ferroviário – Foto: Carlos Afonso | CMLagos

Dentro da antiga cocheira da estação terminal do ramal Tunes/Lagos da Linha do Algarve, parece que o tempo parou. Há uma locomotiva a vapor e outro material circulante que, apesar do nome, há muito tempo não vai a lado nenhum, nem sequer pode ser apreciado. Mas isso vai mudar.

Para tal, no sábado, 30 de Julho, dia em que se comemoravam os 100 anos da primeira chegada do comboio a Lagos, foi assinado, entre a Câmara Municipal desta cidade e a Fundação Museu Nacional Ferroviário, o protocolo de Gestão Partilhada do Núcleo Museológico local daquele museu, que irá permitir reabri-lo ao público, talvez dentro de dois anos.

Até lá, há muito trabalho a fazer. O grande objetivo, segundo o Município de Lagos, é «devolver à comunidade o acesso à história e a um espaço e património há muito desejado».

De acordo com o protocolo, a Câmara de Lagos aceitou a transferência da gestão do Núcleo Museológico de Lagos, que se encontra integrado no Domínio Público Ferroviário, sob administração da Fundação.

A autarquia ficou também responsável pela requalificação da antiga cocheira e espaço envolvente, pela manutenção do edificado, pela dotação de recursos humanos para o funcionamento do Núcleo, respetiva abertura ao público, vigilância, limpeza, promoção e dinamização.

A Fundação Museu Nacional Ferroviário (FNMF), por sua vez, continuará a gerir o Núcleo e o seu acervo, mas agora de forma partilhada com o município, assumindo toda a vertente científica, nomeadamente a investigação e inventário museológico do espólio, os projetos de museologia e museografia, assim como a manutenção e restauro do acervo.

À margem da cerimónia, o presidente da Câmara Hugo Pereira disse ao Sul Informação que, neste momento, não há ainda um orçamento para as obras que será preciso fazer no edifício da antiga cocheira, na placa giratória e zonas adjacentes, investimento que será assumido pela autarquia. «Vamos agora avançar, em conjunto com o Museu Nacional Ferroviário, com o projeto de execução, para então podermos ter uma estimativa do custo da intervenção».

 

Assinatura do protocolo entre Hugo Pereira e Manuel Cabral – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

As obras em si serão depois candidatadas a fundos europeus, havendo ainda a hipótese, que «está a ser estudada», de envolver no financiamento a empresa que irá construir dois hotéis num terreno junto à antiga estação e à Marina de Lagos, que antes pertencia ao Domínio Público Ferroviário e foi vendido pela empresa Infaestruturas de Portugal.

Manuel de Novaes Cabral, presidente da Fundação Museu Nacional Ferroviário, que esteve em Lagos para as comemorações do centenário da chegada do comboio e já tinha sido orador no dia anterior (no colóquio sobre o «passado, presente e futuro» da ferrovia no Algarve), recordou o investimento que aquele Museu, situado no Entroncamento, tem vindo a fazer no museu-sede, mas também nos sete núcleos existentes em todo o território.

O de Lagos é o único a Sul do Tejo…e também um dos dois únicos, a par do de Valença, que está, como se pode ler no próprio site, «temporariamente encerrado». Um caso em que os extremos (do país) se tocam.

«Fomos obrigados a fazer uma reflexão intensa sobre o Núcleo de Lagos porque havia vários interesses, nomeadamente privados, quanto àquele espaço», recordou Manuel Cabral, acrescentando que a negociação com a Câmara lacobrigense «foi sempre muito fácil».

A autarquia, por seu lado, recorda que essa negociação começou a ser feita no âmbito dos preparativos para as Comemorações do Centenário da Chegada do Comboio a Lagos, altura em que «as conversações ganharam novo fôlego».

Para Manuel Cabral, o protocolo de gestão partilhada é uma forma de «celebrar o futuro». «Musealização sim, mas numa perspetiva de futuro», tendo em conta a ideia da «ferrovia como nova oportunidade, até em termos de sustentabilidade ambiental».

A assinatura do protocolo que vai permitir uma requalificação completa do Núcleo do Museu Ferroviário era, como salientou, «um anseio de Lagos, mas também dos algarvios, dos ferroviários, do próprio Museu», e integra-se numa mudança de atitude que está a acontecer não só no nosso país, como a nível europeu: «depois de muitos anos de abandono da ferrovia, estamos num momento de viragem, em Portugal e na Europa».

 

Inauguração da exposição «Lagos, a Última paragen» – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

«Gostaria que o Algarve não estivesse fora das rotas do desenvolvimento da ferrovia», sendo «este é o primeiro passo para apanharmos o futuro», acrescentou o presidente da FMNF.

Manuel Cabral concluiu exprimindo o desejo que o investimento a fazer no Núcleo do Museu Nacional Ferroviário o transforme numa «peça de uma nova centralidade de Lagos».

Hugo Pereira, presidente da Câmara lacobrigense, recordou que «há muito que se lutava para que o Núcleo deixasse de ser um depósito de material circulante…que não circulava».

Por isso, defendeu, é agora preciso «rapidamente avançar com o projeto de execução para a requalificação, para depois avançar com a museologia e museografia e com as obras».

As comemorações dos 100 anos da chegada do comboio a Lagos mostraram a profundidade do empenho da Câmara local na valorização deste seu património.

Assim, a autarquia lançou uma revista comemorativa do centenário, denominada «Ida e Volta», produzida pela equipa da própria Câmara Municipal, com excelente qualidade gráfica e conteúdos interessantes, que recordam não só a história atribulada da construção do caminho de ferro até àquela cidade barlaventina, como dão voz aos antigos e atuais protagonistas deste ramal da Linha do Algarve.

A revista estará, em breve, disponível nos principais balcões de atendimento ao público dos serviços e dos equipamentos culturais do Município.

 

O escultor João Duarte e o edil Hugo Pereira, inaugurando a escultura – Foto: Carlos Afonso | CMLagos

 

Foi ainda inaugurada uma escultura, na rotunda entre a atual e a antiga estação, uma localização que, segundo o autor, inspirou o próprio processo criativo desta obra. A peça de arte pública, que remete para o passado e o futuro do comboio e foi feita com material reutilizado dos caminhos de ferro, é da autoria do artista João Duarte, também autor da original medalha comemorativa do centenário.

No dia 30 de Julho, abriu igualmente, no Centro Cultural de Lagos, a exposição «Lagos, a Última Paragem». Contrariando um pouco o título da mostra, Manuel Novaes de Cabral salientou que «temos de olhar para Lagos como a primeira estação e não como a última», num sentido de futuro.

A exposição recorda, de forma simples e atrativa, recorrendo a peças e imagens da época, a construção dos caminhos de ferro e as peripécias que envolveram a inauguração deste troço lacobrigense, que era então, como agora, um terminal da linha do Algarve.

O discurso expositivo é da autoria da Fundação, que também cedeu os bens patrimoniais integrados na mostra, tendo a produção ficado a cargo da Câmara Municipal de Lagos.

Manuel Cabral sublinhou que a exposição «tem muito a ver com a época, com a identidade, com a evolução» e anunciou o projeto de «fazer um catálogo» sobre a mostra em si, mas também sobre todo o «trabalho de investigação que levou a esta exposição», que, de algum modo, já prepara «o trabalho museológico do fuuro Núcleo».

A exposição «Lagos, a Última Paragem» fica patente no Centro Cultural até 30 de Dezembro, o mesmo acontecendo com a exposição de arte urbana/fotografia intitulada «Trechos – 100 anos sobre a chegada do comboio a Lagos», produzida pela Questão Repetida – Associação Cultural, a qual poderá ser apreciada no Parque do Anel Verde e nos edifícios de apoio da Docapesca.

 

 

 

Viagem de comboio para recordar o centenárioForam dois dias repletos de atividades que permitiram recordar a história da chegada do comboio a Lagos, a 30 de Julho de 1922, há 100 anos.Da efeméride, assinalada nos dias 29 e 30 de Julho, irão perdurar a imagem da nova peça de arte pública que ornamenta agora a rotunda localizada entre a antiga e a nova Estação Ferroviária de Lagos, a formalização do primeiro passo para a requalificação e abertura ao público do Núcleo Museológico de Lagos do Museu Nacional Ferroviário, assim como a exposição “Lagos, a última paragem” que ficará patente para visita, no Centro Cultural de Lagos, até ao final do ano e, ainda, as várias peças comemorativas e documentos informativos produzidos a este pretexto.

O município, com o apoio da Infraestruturas de Portugal e da CP, promoveu no sábado, dia 30, uma viagem simbólica e evocativa da chegada do comboio a Lagos, recriando o momento vivido, pela primeira vez, há cem anos.

Embora sem a comoção comparável à que foi sentida pelos lacobrigenses no dia 30 de Julho de 1922, a iniciativa teve a presença de entidades locais, regionais e visitantes convidadas, contando com a participação do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere e da Sociedade Filarmónica Lacobrigense 1.º de Maio, que animaram a viagem e a chegada à Estação.

 

 

 

 



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