A propósito do Curso de Medicina do Algarve: visão pessoal

A cooperação saudável entre o CHUA e a UAlg é estratégica e o Curso de Medicina deve ser um instrumento dessa estratégia

A polémica que se está a criar em torno do ensino médico no Algarve não pode deixar de causar-nos inquietação. É uma questão artificial e com interesses dúbios, pois não há agora, como não houve nos últimos doze anos, qualquer impedimento ao ensino médico no CHUA, que se tem empenhado e sabido dar formação a todos os alunos ali colocados anualmente pela Universidade do Algarve (UAlg).

Este é um tema que merece atenção de todos os algarvios, com foco na essência e não nas simpatias pessoais, ou nos protagonistas envolvidos. Há que saber o que se quer, qual a via que melhor serve o Algarve, e não nos deixarmos levar por manobras que sirvam de cavalos de tróia e que resultem em prejuízo da região. Os egos exacerbados, ou os interesses de pequenos grupos, não podem sobrepor-se ao bem comum.

O Curso de Medicina do Algarve é o resultado do esforço de muita gente, de antigos Reitores da UAlg, de agentes hospitalares e, nomeadamente, de José Ponte, Pedro Marvão, Isabel Palmeirim, e de muitos outros. Este é um projeto icónico, consolidado, que prestigia o Algarve e que aqui deve continuar.

O Curso de Medicina não é determinante para o CHUA, pois o CHUA acolhe, anualmente, mais de uma centena de médicos, recém-formados, para estágio do ano comum. Recebe, também, várias dezenas de médicos para a formação especializada. O impacto no CHUA dos alunos formados no Algarve é minoritário e ultrapassável.

Contudo, o Curso de Medicina é importante para o CHUA. É importante porque potencia a cooperação com a universidade, a atividade científica e a carreira académica.

O CHUA desenvolve, por si, ou em cooperação com entidades externas, significativa atividade científica. Vários dos seus médicos frequentam doutoramentos fora da região, em universidades nacionais ou estrangeiras.

Apesar desse potencial próprio e da capacidade para estabelecer cooperação clínica, científica e formativa, e de ter a sua própria estratégia, o CHUA dá primazia à parceria com a Universidade do Algarve e, estará, certamente, na primeira linha de defesa do curso de Medicina da UAlg.

A colocação dos alunos de Medicina da UAlg, em instituições hospitalares distantes da região, só pode significar má avaliação do impacto de tal medida, ou manobras obscuras destinadas a minar o curso e, eventualmente, fazê-lo deslocar para outras paragens.

Retirar os alunos do CHUA não é impactante para o CHUA. Levar os alunos para fora da região prejudica os próprios estudantes, mas, sobretudo, coloca em risco a continuidade do Curso de Medicina na UAlg e amputa a atividade pedagógica e científica local.

Esta é uma medida que todos devemos combater, que nos deve unir, e que, fazendo fé em informação veiculada pela Professora Isabel Palmeirim, pode requer a intervenção da classe política regional, de modo a preservar um enquadramento legal que defenda e prestigie as instituições regionais.

Se há pontos que devem merecer convergência política, como a ferrovia ou o hospital central, a agregação de massa crítica regional deve ser um deles. Nesse âmbito, a cooperação saudável entre o CHUA e a UAlg é estratégica e o Curso de Medicina deve ser um instrumento dessa estratégia. Há que defendê-lo.

Acredito que, se não houver interferências deletérias, os responsáveis do CHUA e da Universidade do Algarve encontrarão as soluções adequadas. Em meu entendimento, as soluções não hão de passar pela demissão de quem se dedicou totalmente ao curso, mas sim pela correção dos erros, pela lisura de procedimentos e por saber quem se identifica com os interesses do Algarve e quem os põe em causa.

Ninguém é insubstituível, tanto a Universidade, como o CHUA, têm, nos seus quadros, pessoas capazes de ocupar qualquer cargo pedagógico, ou científico, mas é mais importante o enquadramento legal que preserve a identidade regional e a lealdade institucional do que a mera substituição de pessoas.

Aqui deixo a minha reflexão individual, de algarvio otimista, que acredita no potencial da região, com a convicção de que os dirigentes institucionais, se necessário com o apoio da classe política regional, serão capazes de colocar o comboio na linha certa.

 

Autor: Horácio Guerreiro é médico

 

 

 



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