TAP para que te quero

Não se consegue manter rotas, voos, pessoas a circular, aeroportos em estado normal, mas continua a cobrar-se tarifas que não são modestas

Passageiros acumulados, malas aos montes no aeroporto de Lisboa – Foto: Sandra Moreira

Regressei a Portugal, depois de um período em Barcelona, no passado dia 1 de julho. Tinha voo marcado na TAP, saindo para Lisboa e de Lisboa para Faro.

Cheguei pontualmente e com tempo ao aeroporto espanhol, tendo feito o check-in e despachado bagagem de porão (coisa que habitualmente evito, mas nesta ocasião, por questões de saúde, que me obrigavam a não pegar em pesos, fi-lo).

Esperei um pouco pela hora do voo e, quando já me preparava para me aproximar da porta de embarque, vejo a confusão instalada: o voo tinha desaparecido dos painéis de aviso e, na porta que antes lhe era destinada, embarcavam passageiros para um voo de outra companhia aérea, com destino a Paris.

Não houve um esclarecimento, uma palavra com os passageiros que se amontoavam, sem entender o que se passava. Passada meia hora após a hora prevista de embarque, surge o aviso de atraso.

Todos tínhamos, claro está, ligação à Internet, redes sociais, meios de comunicação e percebemos que o aeroporto de Lisboa fora temporariamente encerrado devido a um acidente com um avião, mas já havia reaberto há muito…

Mais de uma hora depois, aparece um funcionário da TAP que, sem chamar grandemente a atenção, dá uns vouchers de alimentação aos que, por acaso, se vão aproximando… A esta hora, já poucos sítios havia para comer no aeroporto, porque tudo estava fechado…

Com três horas de atraso, lá embarcámos. Pergunto ao Chefe de Cabine se consigo chegar a horas do meu voo para Faro… Não sabe…. Viajo sem descansar, inquieta, adivinhando, sem o saber, as horas seguintes….

Ao preparar-se a aterragem, o mesmo Comissário diz-me que a porta do voo para Faro é a 25 e que, à saída, haveria pessoal de terra para ajudar…. Saio, como muitos outros, a correr. Não há ninguém, os tais que deveriam prestar apoio…

Na porta 25, diz-me um funcionário: «O voo para Faro foi cancelado». Quando procuro o balcão da TAP para poder resolver a situação, apercebo-me da extensão da fila: idosos, crianças, jovens, pessoas de todas as nacionalidades e proveniências acumulavam-se ao longo de todo o terminal, com ar perdido, cansado, revoltado. Mais de cinco horas de espera, no mínimo, calculei.

A cabeça começou a trabalhar, como sempre acontece nestas situações, procurando todas as soluções possíveis, porque o regresso a casa, mais do que um mero desejo, era uma necessidade de alguém que já estava acordada desde as 5h00 da manhã de Espanha. Já passava da meia-noite, em Portugal.

Entre peripécias várias, os passageiros do voo cancelado para Faro são desviados para outra zona do terminal (entretanto, o mencionado balcão da TAP fechou!), misturados com os do Porto e Bruxelas.

Só se ouve falar em “proteções” e “ausência de abertura de proteções”, soando as vozes a arrogância, falta de consideração, má educação, mesmo. Não há solução para nós: nem voo, nem autocarro, nem alojamento, nem qualquer perspetiva de ajuda por parte da TAP! Dão um voucher para comer algo e ponto.

Nessa altura, entre o burburinho e gente que liga à polícia, órgãos de comunicação, família, etc., procuro ver se há transportes para o Algarve: já só há comboio às 14h02 do dia 2 de julho… Não tenho mala, bem como todos os que estão na mesma situação. –

«Ah, tem de ir buscar a bagagem, porque não a mandamos para Faro e se ficar aqui, é aqui que a tem de levantar». O balcão de informações da bagagem só abre às 6h00. Ali estamos, um grupo de pessoas que partilham a situação. Acabamos por conversar, dividindo as horas e a angústia de não ter certezas de como poder chegar a casa.

No terminal de recolha dos objetos que são transportados, fico boquiaberta: malas amontoadas por recolher e por arrumar, algumas com etiquetas de 22 de junho. O cheiro que vinha de algumas delas e os líquidos que pingavam empestavam o ar.

As poucas cadeiras disponíveis estavam sempre ocupadas. O chão, que não via limpeza sabe Deus desde quando, foi alternativa para alguns. Eu sentei-me um pouco num carrinho de transporte, daqueles onde colocamos os nossos sacos e tarecos, sentindo-me verdadeiramente mais uma tralha que ali tinha de estar, sem destino certo.

 

 

Depois de feita a identificação dos meus pertences e saber que não tinham qualquer previsão de hora de entrega, ali fiquei, com o grupo que se tinha formado. Uma das senhoras estava a sentir já o efeito da ausência da medicação que estava na mala (acabaria, nos dias seguintes, por ter de passar umas horas no hospital, precisamente em consequência disso).

Nove horas, 10h00, 11h00, 12h00, nada! Volto ao guiché e já com uma conversa dura e sem paciência, acabo por ter pena dos jovens funcionários da Groundforce que iam andando por ali, dando respostas evasivas e visivelmente comprometidos…. 12h30 e as malas das minhas companheiras aparecem! Gritos e vivas ouviam-se no terminal a cada reconhecimento de algo que o tapete nove deitava cá para fora. A minha mala não vinha.

Para não perder o comboio, preencho a reclamação, já sem esperança e parto, com o grupo, para a Gare do Oriente, onde comemos algo (que não foi pago pela TAP, claro está) e entrámos no comboio (cujo bilhete também não foi custeado pela TAP!).

Às 18h00 saía em Tunes e via, finalmente, os rostos amorosos dos meus pais, conforto máximo de quem não dormia há 48 horas e sentia um cansaço do tamanho do bendito avião que me devia ter trazido a Faro e nunca levantou voo!

O que entristece no meio de todo este caos, que se vive por estes dias nos aeroportos, é a forma como somos tratados, as desculpas esfarrapadas que nos dão para explicar o inexplicável: quando não se tem funcionários (tripulações, pessoal de terra, de handling), não se vende bilhetes.

É como dizia um querido amigo: «não há bracinhos, não há bolachinhas!»

Afirmar que se recupera da crise da COVID 19, com grandes parangonas e, afinal, não se consegue manter rotas, voos, pessoas a circular, aeroportos em estado normal, mas continua a cobrar-se tarifas que não são modestas, está-se verdadeiramente a enganar…

E se a TAP tanto precisa do meu dinheiro e do de todos os contribuintes para continuar a funcionar, seria bom que agisse de forma diferente e muito mais respeitosa. Não penso viajar na companhia portuguesa tão cedo. Aliás, constantemente penso: “TAP para que te quero”!

PS – A minha mala chegou 6 dias depois a minha casa, perto das 23h00… E o pobre motorista ainda tinha mais algumas para entregar em Monchique e Sagres, depois de ter iniciado o serviço às 18h00 no aeroporto de Faro…
Já reclamei. Conto que levem pelo menos seis meses a responder e, entretanto, o dinheiro que paguei pelo bilhete está nas contas da Transportadora Aérea Portuguesa.

 

Autora: Sandra Côrtes Moreira é licenciada em Comunicação Social, pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Mestre em Comunicação Educacional, pelas Faculdades de Letras e de Ciências Humanas e Sociais das Un. de Lisboa e Algarve e Mestre em La Educación en la Sociedad Multicultural pela Universidad de Huelva. É doutoranda em Educomunicación y Alfabetización Mediática pela Universidad de Huelva.
Técnica Superior de Línguas e Comunicação na Câmara Municipal de Faro, é também Assessora do Gabinete de Informação da Diocese do Algarve, membro da equipa da Pastoral do Turismo e da ONPT.

 

 



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