Espetáculo no Cineteatro Louletano mostra que «a idade é uma convenção»

Transatlântico estreia esta sexta-feira, 8 de Julho, às 21h00

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Um espetáculo que retrata «questões estruturais» interpretado por um elenco que mostra que «a idade é uma convenção» é o que se pode esperar do «Transatlântico», uma coprodução do Teatro do Eléctrico com a Companhia Maior, que estreia esta sexta-feira, 8 de Junho, no Cineteatro Louletano.

No palco, aos atores com mais de 60 anos, juntam-se jovens responsáveis pela parte musical, que, nesta peça, se complementa com a comédia e o «teatro do absurdo».

«A proposta foi trabalhar a partir do texto «Titanic» de Christopher Durang, cuja adaptação foi feita por mim. O texto é uma loucura, um delírio muito luminoso, às vezes grotesco, uma comédia muito desequilibrada, com humor negro que, ao mesmo tempo, é leve. Acho que esse equilíbrio que se consegue a partir do desequilíbrio é uma coisa muito difícil de se trabalhar em comédia e, por isso, um desafio», explicou Ricardo Neves-Neves, ao Sul Informação, após o ensaio de imprensa na tarde de ontem.

De acordo com o encenador, este espetáculo é «uma metáfora para a vida, para o país, para a cidade e para as família», falando de questões como a identidade, a forma como o nome ou o género nos define, entre outras.

 

Ricardo Neves-Neves com os atores, durante o ensaio de imprensa – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«Este é um humor que nos causa uma espécie de curto circuito no cérebro. Ao mesmo tempo que as personagens são infantis, têm uma carga erótica muito grande. Todo o texto parece superficial, mas, depois de o apreciarmos, percebemos que ele retrata questões estruturais e problemas profundos do ser humano, muito relacionados com a questão da identidade», continua Ricardo Neves-Neves, referindo que, quem for ao Cineteatro Louletano para assistir, irá levar consigo «um género de pensamento melancólico sobre aquilo que é a vida e a relação entre as pessoas».

Esta é a segunda exibição da peça, que já esteve também no Teatro de São Luiz, em Lisboa.

Na opinião de Maria Emília Castanheira, 70 anos, uma das atrizes, este é, contudo, um espetáculo que merecia «viajar pelo país», «porque leva uma onda de alegria de que as pessoas precisam».

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Depois de uma vida dedicada à profissão de jurista (mas sempre com a paixão pelo teatro a fervelhar), Maria Emília sente-se agora realizada.

«Apesar de tudo, nunca deixei de ser uma jurista que fazia teatro. Para alguns, era um elogio, para outros, nem sempre era assim tão bem visto, mas isso não me importava. Depois, com o apoio da minha família, que gostava de me ver fazer teatro, consegui reformar-se antecipadamente e, a partir dai, não parei de fazer teatro: integrei o 3+1, e depois cheguei à Companhia Maior. Candidatei-me e fiquei», conta ao Sul Informação. 

Há seis anos na Companhia Maior, refere que o que a levou a integrar o desafio foi o interesse por este «projeto pioneiro».

Segundo a atriz, o grande objetivo é «passar ao público que a idade é uma convenção».

«Desde que tenhamos alegria dentro de nós, conseguimos superar o tempo, que é implacável, mas temos agora uma maturidade e uma experiência de vida que é uma mais valia», frisa, referindo que, aos jovens, pretendem também passar esperança no futuro e incentivá-los a apostar naquilo de que gostam.

Quanto ao «Transatlântico», diz não poder estar mais contente com o resultado.

«O trabalho do Ricardo é de louvar, pois conseguiu integrar aqui a Companhia Maior com jovens muito talentosos e já se criou uma amizade e uma cumplicidade artística entre nós, os mais velhos, e os mais novos, muito grande, que também se nota em palco».

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

A horas da estreia, a atriz convida a que todos apareçam no Cineteatro Louletano.

«Todos aqui vamos aprender coisas novas. Da parte do público, tanto será importante para que os mais velhos, que se possam rever, como para os mais novos, que possam antecipar e perceber que a terceira idade não é perda de nada, é, na verdade, um amadurecimento contínuo», diz também Ricardo Neves-Neves.

Os bilhetes para o espetáculo, que é levado ao palco hoje e amanhã, dias 8 e 9 de Julho, às 21h00, podem ser adquiridos aqui. 

Além da peça, este fim de semana irá também ser desenvolvido o workshop “Cantar a Maior Idade”, com Rita Carolina Silva, e um atelier de escrita criativa, com Ricardo Neves-Neves.

O workshop “Cantar a Maior Idade” realiza-se este sábado, dia 9, entre as 10h00 e as 13h00, no Ginásio dos Espanhóis, e destina-se a maiores de 50 anos.

Para o mesmo dia, entre as 17h00 e as 20h00, está marcado o atelier de escrita criativa, com Ricardo Neves-Neves, no Palácio Gama Lobo.

A participação no workshop ou no atelier requer inscrições para [email protected].

 

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

 

 



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