Com a seca a agravar-se, o Algarve só tem água «para um ano»

Se o próximo ano for igual ao que passou, «teremos um problema muito grave»

Foto: Flávio Costa | Sul Informação Imagem de Arquivo

O Algarve só tem água «para um ano», caso a próxima “época de chuva” seja igual à que passou, e é preciso «fazer muito mais» para evitar que a água venha mesmo a faltar nas torneiras algarvias. O aviso é feito por António Pina, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, no dia em que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) divulgou o Boletim Climatológico de Junho.

Segundo a mais recente análise mensal feita pelo instituto, «o mês de Junho de 2022 classificou-se como quente e seco em Portugal continental», o que contribuiu para agravar a seca, que já antes atingia todo o território nacional.

Em relação a Maio, no final do mês passado «houve um aumento da área em seca extrema, em particular na região Sul e nalguns locais do interior Norte e Centro».

No Algarve, por exemplo, na zona do Barlavento interior, correspondente aos concelhos de Aljezur e Monchique, a seca é, agora, extrema, um agravamento em relação ao mês passado. Também o Baixo Alentejo está agora, na sua quase totalidade, nesta situação.

Todo o restante território do Algarve e Alentejo está, neste momento, em seca severa.

Esta é uma situação que já está a gerar grande preocupação entre as entidades oficiais e as autarquias algarvias.

«O Algarve, segundo nos transmitiu o diretor regional da Agência Portuguesa do Ambiente, tem água para um ano, se tivermos um ano igual ao último. Nós, os autarcas do Algarve, estamos preocupados e temos, acima de tudo, de fazer com que as pessoas percebam, porque ainda não perceberam», afirmou António Pina.

«Estou a falar do consumo humano, que, apesar de toda a comunicação que é feita, aumentou, em relação a 2019. Não temos mais população, não temos mais turistas, mas temos mais 14 ou 15% de consumo», disse.

Neste momento, assegurou o também presidente da Câmara de Olhão, está já agendada uma reunião de autarcas, a decorrer no dia 15, onde serão acordadas as medidas a tomar para diminuir o consumo de água, ao nível municipal.

«O diretor da APA deixou-nos um conjunto de exemplos de outras partes da Península Ibérica e do Mediterrâneo, onde há situações semelhantes  à nossa e até mais graves. Em Espanha e Itália, já há racionamento urbano», ilustrou.

 

 

Neste momento, a questão de racionar água em contexto urbano ainda não se coloca, na região algarvia, mas há que «utilizar melhor a água, de forma mais eficiente».

«Temos água até final do próximo Verão. Mas, se não chover, depois não temos mais e teremos um problema muito grave», avisou o presidente da AMAL.

Neste momento, os diferentes presidentes de Câmara algarvios estão a fazer um levantamento das medidas que podem ser implementadas nos seus territórios, para diminuir a utilização de água.

«No caso de Olhão, uma das medidas que vamos colocar em prática é deixar de regar os espaços verdes, a relva. 90% dos espaços relvados vão desaparecer, vão secar. Depois serão reconvertidos, mas o primeiro passo é deixá-los secar», exemplificou António Pina

Regressando ao Boletim Climatológico de Junho, «a distribuição percentual por classes do índice PDSI no território é a seguinte: 3.7 % em seca moderada, 67.9 % em seca severa e 28.4 % em seca extrema», revelou o IPMA.

Comparando com situações de seca anteriores, no mês de Junho, «verifica-se que as secas de 2005 e 2012 tinham mais de metade do território na classe de seca extrema, enquanto a atual seca apresenta uma percentagem elevada na classe de seca severa e cerca de 1/3 do território em seca extrema».

«Verificou-se no final de Junho uma diminuição dos valores de percentagem de água no solo em todo o território, exceto no Minho e Douro Litoral. Na região Centro e Sul, as diminuições mais significativas ocorreram nalguns locais do vale do Tejo e nos distritos de Castelo Branco, Setúbal, Beja e Faro, com muito locais com valores inferiores a 10% e iguais ao ponto de emurchecimento permanente», acrescentou o instituto.

 

 

O IPMA revela ainda que o valor médio da temperatura se fixou nos 20.40 °C, em Junho, um valor «0.98 °C superior ao valor normal no período 1971-2000».

Valores de temperatura média superiores aos agora registados ocorreram em 25 % dos anos desde 1931.

No que toca à precipitação, a média de Junho «foi inferior ao valor normal 1971-2000, correspondendo a 69%».

«Apesar de se ter registado um valor inferior ao normal em Junho, regionalmente verificaram-se contrastes significativos, com a região litoral Norte e Centro a registar valores mais elevados de precipitação, tendo sido nos dias 1 a 3, 15 e 21 a 23 que se verificaram os valores diários mais elevados. Na região Sul também se verificou a ocorrência de precipitação mas com valores pouco significativos», concluiu o IPMA.

 

 

 

 

 



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