Cem anos depois de a Linha do Algarve ter chegado a Lagos, o troço entre Tunes e esta cidade vai ser eletrificado, num investimento de 25,4 milhões de euros. O auto de consignação da empreitada, ato que marca o arranque dos trabalhos neste troço ferroviário de cerca de 45 quilómetros, foi assinado na manhã desta sexta-feira, 14 de Junho, na estação de Lagos, na presença do ministro das Infraestruturas.
Pedro Nuno Santos, em declarações aos jornalistas, classificou este momento como «uma grande vitória do Algarve e da ferrovia nacional».
Carlos Fernandes, vice-presidente das Infraestruturas de Portugal, entidade responsável pelos trabalhos, recordou que o investimento global na eletrificação da Linha do Algarve, entre Lagos e Tunes e entre Faro e Vila Real de Santo António, é de 80 milhões de euros. As obras neste último troço, no Sotavento Algarvio, já estão em curso, enquanto os trabalhos no troço barlaventino vão começar dentro de dias.
A par da eletrificação, sublinhou Carlos Fernandes, há outros investimentos em curso, por exemplo o da nova Subestação de Olhão («cujo concurso ficou deserto», sem empresas interessadas, pelo que «vai ser lançado em breve novo concurso, com preço superior»), o da Subestação de Tunes, «já com propostas abertas» e em vias de adjudicação, o da nova sinalização entre Faro e Vila Real de Santo António, que «vai ser assinado hoje», ou ainda o da nova sinalização entre Tunes e Lagos, «com tecnologia atual», cujo concurso público está prestes a ser lançado. As obras na Linha do Algarve deverão estar concluídas até 2024.
No total, são os tais 80 milhões de euros de investimento, que permitirão, por exemplo, «a redução de 25 minutos» na viagem de comboio entre Lagos e Vila Real de Santo António ou «o prolongamento do Alfa e do InterCidades» até à cidade do Guadiana.
Hugo Pereira, presidente da Câmara de Lagos, saudou o investimento em infraestruturas, que considerou «importantes para a coesão territorial», mas não deixou de recordar que «o Algarve foi durante séculos uma região periférica», onde tudo chegou mais tarde, do comboio, à autoestrada.
«O comboio do modernização, nestes 100 anos, teimou em chegar atrasado ao Algarve, em particular ao ramal Tunes/Lagos», sublinhou o autarca.
O presidente da autarquia de Lagos manifestou ainda a sua «preocupação» com o «impacto visual e paisagístico» que a eletrificação da linha vai ter ao longo dos seis quilómetros do troço que ladeia a Meia Praia, adiantando que a Câmara e a empresa Infraestruturas de Portugal já estão a trabalhar em conjunto num projeto paisagístico para «implementar soluções para minimização» dos impactos, nomeadamente das cerca de 100 catenárias com 5,5 metros de altura que serão instaladas naquela zona à beira mar.
O ministro das Infraestruturas e Habitação, por seu lado, depois de sublinhar que «a ferrovia e a ferrovia elétrica ajudam a reduzir a dependência da importação de combustíveis fósseis», salientou que «felizmente Portugal acordou para a ferrovia, depois de décadas de desinvestimento e de encerramento de linhas».
Pedro Nuno Santos anunciou que «o próximo grande ciclo de investimentos é mais focado no passageiro», trabalho que «também tem de passar pelo Algarve», nomeadamente reduzindo «os tempos de viagem» entre Lisboa e o Algarve e na própria linha algarvia.
Para isso, adiantou, a Infraestruturas de Portugal irá estudar «algumas variantes para reduzir ainda mais o tempo de viagem», acrescentou o governante.
Mas também não está esquecida a ligação ferroviária do Algarve a Espanha. O ministro falou da necessidade de ligar a região algarvia «ao corredor mediterrânico», ligando a Linha do Algarve a Espanha. Admitiu que o Governo português está «a trabalhar com as autoridades de Espanha», sublinhando mesmo que é «um trabalho que estamos a fazer de forma muito insistente e enpenhada».
Outro investimento que será incluído no próximo ciclo será o da renovação do material circulante. Para já, está a ser recuperado material circulante – sobretudo carruagens – que estavam encostadas. «A CP tem feito um trabalho extraordinário com esse material», garantiu.
Mas também foi comprado material circulante a Espanha (que está igualmente a ser alvo de obras de adaptação e modernização), assim como será lançado um concurso para comprar 117 comboios novos. Será, nas palavras do ministro, «o maior concurso de sempre na história da ferrovia em Portugal».
Das carruagens e máquinas que estão a ser recuperadas ou que serão compradas novas, parte delas virá, no futuro, também para a Linha do Algarve.
«Cem anos depois, estamos a aletrificar a Linha do Algarve. Mas este não é o fim» dos investimentos ferroviários previstos na região, assegurou Pedro Nuno Santos.
«Aquilo que estamos a fazer é meramente justiça ao povo algarvio, conscientes do muito que falta fazer», concluiu o ministro da Infraestruturas.
A empreitada de eletrificação do troço da Linha do Algarve com cerca de 45 quilómetros de extensão entre Tunes e Lagos é desenvolvida no âmbito do programa de expansão e modernização da Rede Ferroviária Nacional, Ferrovia 2020, e envolve o investimento de 25,4 milhões de euros, comparticipado pela União Europeia no âmbito do COMPETE 2020.
A empresa Infraestruturas de Portugal está a promover a Modernização da Linha do Algarve, um empreendimento que engloba a Eletrificação, a instalação dos mais modernos Sistemas de Sinalização e de Telecomunicações Ferroviárias, colocação de Sistemas de Informação ao Público em todas as Estações e a supressão de Passagens de Nível.
O projeto de eletrificação da Linha do Algarve será executado em duas empreitadas. A primeira, correspondendo à eletrificação do troço entre Faro/Vila Real de Santo António, está já em desenvolvimento desde Novembro de 2021. A segunda, que corresponde à eletrificação do troço entre Tunes/Lagos, tem agora início no terreno.
A concretização dos investimentos na Linha do Algarve irá assegurar grandes vantagens ao nível da qualidade do serviço de transporte ferroviário de passageiros em toda a região algarvia.
A eletrificação da Linha do Algarve em toda a sua extensão permitirá a utilização de comboios de tração elétrica, mais modernos e ambientalmente sustentáveis, possibilitando a redução do tempo de percurso dos serviços regionais em 25 minutos na ligação entre Lagos a Vila Real de Santo António.
Ao ser assegurada a operação integral da Linha do Algarve com recurso a material circulante elétrico, permite também às populações algarvias dispor de acesso direto nos serviços de longo curso (Alfa e InterCidades), sem necessidade de transbordo, ao principal eixo ferroviário nacional que liga o sul ao norte do país, e reduzir o respetivo tempo de percurso entre 10 a 25 minutos.
A presente ação integra a candidatura submetida e aprovada no âmbito do COMPETE 2020, com a designação “Linha do Algarve – Eletrificação”, referente à qual se prevê um financiamento comunitário de 85%.
O contrato para a eletrificação do troço da Linha ferroviária do Algarve entre Tunes e Lagos, que serve os concelhos de Silves, Lagoa, Portimão e Lagos, foi assinado com o consórcio formado pelas empresas Comsa Instalaciones y Sistemas Industriales SAU, FERGRUPO – Construções Técnicas Ferroviárias, S.A. / COMSA, S.A..
Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação
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