Moncarapachense, um clube entre a euforia da subida e a incerteza sobre o futuro

Reportagem após a inédita subida de divisão

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

Chegar por estes dias ao Estádio Dr. António José Eusébio, em Moncarapacho, é ainda cruzar-se com muitas conversas sobre a recente subida da equipa algarvia à Liga 3. O «feito histórico» como todos lhe chamam – presidente, treinador e jogadores – ainda está muito vivo e «jamais será apagado». Mas o futuro é incerto porque, apesar da alegria, o Moncarapachense ainda não sabe onde vai jogar na próxima temporada. 

29 de Maio de 2022 é a data que os adeptos do Moncarapachense nunca esquecerão. Foi em pleno Estádio do Restelo, frente a um favorito Belenenses, que o emblema do concelho de Olhão fez história.

A vitória por 0-1, com golo de Nuno Silva, garantiu a subida à Liga 3, fazendo do Moncarapachense a primeira equipa algarvia a disputar esta competição criada no ano passado.

Nemésio Martins, presidente do Moncarapachense, confessa que ainda está a «interiorizar» o que aconteceu no passado domingo.

«Isto demora tempo, mas temos desfrutado desta boa sensação. As pessoas têm-nos vindo dar os parabéns e há aqui um envolvimento da vila», diz à reportagem do Sul Informação.

Sentado no banco de suplentes, enquanto decorre um treino dos escalões de formação, Nemésio confessa que, no início da época, estava longe de imaginar que fosse possível subir do Campeonato de Portugal à Liga 3.

 

Nemésio Martins – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Não estava sequer nos nossos objetivos que passavam apenas por conseguir a manutenção, mas as coisas foram acontecendo», conta.

O capitão Pedro Caeiro é um dos rostos da alegria que se vive nestes dias em Moncarapacho.

«Acho que, às vezes, ainda não nos apercebemos bem do que fizemos. É um sentimento de realização: o trabalho destes 10 meses, muito longos, foi recompensado», diz ao Sul Informação, minutos depois de chegar ao Estádio para mais um treino.

O defesa central não hesita em descrever a subida de divisão como «uma linda página da história do Moncarapachense».

«A união que nós temos, apesar de ser um grupo bastante jovem, foi muito importante. Temos jogadores com muito talento e a união, a camaradagem e a relação que temos tornou esta época incrível», acrescenta, sorridente.

Um dos principais obreiros da promoção foi Ivo Soares.

O treinador, que levou o Moncarapachense do Distrital para o Campeonato de Portugal e agora do Campeonato de Portugal para a Liga 3, conta, ao Sul Informação, alguns dos segredos deste sucesso.

 

Ivo Soares – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Minutos antes de começar a orientar o treino, o técnico explica que, ao longo da época, o Monca, como é carinhosamente chamado pelos adeptos, foi «explorando e melhorando o método de jogo e de treino».

«Nós fizemos uma primeira fase muito boa. Demos mais capacidades aos nossos jogadores, fazendo-os sentir que era possível. Os atletas foram recebendo essa mensagem e nós jogámos sempre para ganhar», diz.

O grupo de trabalho que se formou também deu «uma grande ajuda».

«Nós escolhemos os jogadores pela sua qualidade enquanto futebolistas, mas, quando os contratamos, não conseguimos ver o carácter. Certo é que, este ano, tive a sorte de ter esse acréscimo, com jogadores com uma ambição incrível», acrescenta.

Para muitos jogadores, esta foi a primeira subida de divisão alcançada.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Isto apesar de o plantel ter nomes como Tiago Maia, antigo guarda-redes do Olhanense, ou André Dias, defesa esquerdo com experiência de I Liga ao serviço do Rio Ave.

«A Liga 3 é um patamar em cima, trabalhámos muito para isto, mas estamos com os pés assentes no chão», garante Ivo Soares, cuja continuidade «ainda não está fechada», segundo o próprio.

No próprio clube, paira agora um cenário de incerteza.

A subida à Liga 3 foi um feito inédito, histórico, mas acarreta mais responsabilidades. À cabeça, a necessidade de jogar num estádio com campo relvado, quando, em Moncarapacho, o piso é… sintético.

Para se candidatar ao terceiro escalão do futebol português, o Moncarapachense teve de indicar um campo onde jogar. O Estádio José Arcanjo, em Olhão, casa do Olhanense, foi o escolhido, mas o próprio relvado não está nas melhores condições.

«Vamos ver o que fazer. A partir de sábado, depois da final da Taça do Algarve, vamos pensar nisso», adianta Nemésio Martins.

Em cima da mesa, revela, está a hipótese de colocar relvado no Estádio Dr. António José Eusébio.

 

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Relvado aqui não era difícil, mas o problema é a formação que treina todos os dias. Vamos tentar estudar a possibilidade de pôr aqui relvado e colocar este sintético noutro lado», revela o presidente do Moncarapachense que traça como objetivo, na próxima época, a manutenção na Liga 3.

Nemésio Martins explica que a Federação Portuguesa de Futebol tem uma linha de apoio e a própria Associação de Futebol do Algarve «também está envolvida porque não tem um clube na Liga 3».

E a Câmara de Olhão?

Em declarações ao Sul Informação, o autarca António Pina diz que a Câmara está «à espera» de se reunir com a direção do Moncarapachense.

Esta quinta-feira, 2 de Junho, às 18h30, o clube será recebido nos Paços do Concelho para uma homenagem da autarquia, uma vez que o Moncarapachense se tornou, inclusive, o clube de Olhão numa divisão mais elevada do futebol português – o histórico Olhanense está no Campeonato de Portugal e não conseguiu a subida.

Certo é que, para o Moncarapachense, seria «muito importante» jogar na “sua” vila.

«Esta é a nossa casa», diz Nemésio Martins, enquanto aponta para a entrada do Estádio.

«Não faz sentido irmos para Olhão e é insuportável estarmos sempre a jogar num Estádio Algarve, por exemplo», acrescenta.

Para Ivo Soares, apesar de ainda não saber se continuará à frente do comando técnico do Moncarapachense, também é importante que a equipa jogue em casa.

«Não é bom para ninguém andar com a casa às costas: perde-se a mística, aquela coisa de jogar no próprio campo», considera.

Nemésio Martins é perentório: «a razão do clube existir é jogar aqui em Moncarapacho».

«Não estava à espera desta ascensão tão rápida: há três anos estávamos no Distrital. É complicada a vida de um clube de uma pequena vila, mas temos feito um caminho e temos uma coisa boa: podemos pagar pouco, mas toda a gente recebe», conclui.

 

 

 



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