Há 26 atividades artesanais tradicionais algarvias em risco de extinção

O Red Book das atividades artesanais algarvias foi apresentado esta quarta-feira, 22 de Junho

O «Red Book» – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«Este livro é apenas o princípio e não um trabalho que já está encerrado. É uma base que tem a sua importância, também pelo seu caráter pioneiro, mas é essencial que se entenda que é apenas um primeiro passo», frisa a investigadora Susana Calado Martins, quanto ao Red Book – Lista Vermelha das Atividades Artesanais Algarvias, apresentado esta quarta-feira, 22 de Junho, que realça 26 atividades em risco (uma delas já desaparecida). 

O projeto de investigação do qual fez parte – juntamente com Graça Palma e Vitória Horta – teve como primeiro objetivo «identificar, registar e catalogar as atividades tradicionais do Algarve que participam do Património Cultural e Imaterial (PCI) da região», diz.

De seguida, o passo foi dividir as 26 atividades identificadas de forma a que se inserissem nas listas de «PCI do Algarve desaparecido», «PCI do Algarve a necessitar de salvaguarda urgente» e «PCI do Algarve atualmente viável», de acordo com os critérios que estão em prática pela convenção da UNESCO.

«O objetivo final com tudo isto é contribuir para priorizar e apontar caminho para o desenvolvimento de ações de salvaguarda destas atividades», frisa Susana Calado Martins.

Nesta lista, foram então identificadas 26 atividades: uma já desaparecida (albardeiro), 14 a necessitar de salvaguarda urgente (como abegoaria, esteiraria, ferreiro ou latoaria) e 11 atualmente viáveis (azulejaria, caldeiraria, empreita de palma, entre outras).

 

O livro enumera ainda os fatores de ameaça identificados. A viabilidade financeira do ofício insuficiente (27%), o pouco interesse do mercado (18%) e os constrangimentos na passagem de saber (16%) foram os três fatores mais referidos pelos artesãos durante as entrevistas.

Apesar de 11 atividades ainda serem consideradas viáveis, Graça Palma, uma das investigadoras, alerta para o facto de estas poderem vir a integrar outra categoria.

«Todas as atividades que aqui estão como viáveis têm as suas debilidades – nomeadamente a idade das pessoas que as praticam (média 64 anos). Ou seja, algumas destas atividades que são hoje consideradas viáveis, daqui a alguns anos podem vir a integrar a lista a necessitar de salvaguarda urgente», frisou

 

Susana Calado Martins e Graça Palma, responsáveis pela investigação – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Adriana Nogueira, diretora regional de Cultura do Algarve, esteve também presente na apresentação do livro e fez questão de realçar a importância de agora as instituições criarem medidas para não «deixar morrer» as atividades.

«Hoje foram já dadas algumas pistas, como recuperar alguns apoios do IEFP, da própria CCDR, e depois apoiar as pessoas a concorrer, porque não é fácil. Muitas vezes, um artesão nem sabe que estas iniciativas existem. A ideia é que estas instituições, que têm financiamentos, apostem nisso», disse ao Sul Informação. 

A diretora  regional de Cultura do Algarve considera ainda que, se este livro chegar à população em geral, irá sensibilizar muitas pessoas para estas questões.

«Hoje em dia, nós pensamos em alguns objetos de uma maneira menos prática, mas eles foram criados para serem práticos e continuam a fazer sentido. É importante, por isso, sensibilizar a população para recorrer mais a esse tipo de objetos a que muitas vezes não recorremos também por desconhecimento».

 

Adriana Nogueira – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

A cerimónia de apresentação do Red Book – Lista Vermelha das Atividades Artesanais Algarvias decorreu nos Banhos Islâmicos e Casa Senhorial dos Barretos, em Loulé, e contou ainda com a presença de José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, Miguel Reimão Costa, arquiteto e docente da Universidade do Algarve, Madalena Feu, delegada regional do Algarve do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Rita Jerónimo, sub-diretora geral do Património Cultural, e Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé.

O autarca louletano aproveitou o momento para realçar o impacto negativo que o rápido desenvolvimento da sociedade tem tido nas tradições, realçando a importância de «protegermos aquela que é a riqueza humana» e a sua diversidade que «tal como na natureza, está a ser apagada da nossa memória», diz.

«O Homem, sem querer, embarcando neste conceito de desenvolvimento, está a ficar cada vez mais pobre na sua diversidade. E, por isso, estas iniciativas são muito bem vindas», frisou, realçando o trabalho que em Loulé já se desenvolve nesse sentido.

 


A investigação que deu origem a esta publicação enquadra-se no projeto Magallanes_ICC, do qual a CCDR Algarve é parceira, e que consiste numa rede de cooperação transfronteiriça no âmbito do desenvolvimento e promoção das indústrias culturais e criativas.

A execução deste projeto surge na linha do trabalho já iniciado pela CCDR Algarve em 2010 com o Projeto TASA, o qual é dinamizado pela Proactivetour desde 2013.O projeto é cofinanciado pelo FEDER no âmbito do programa Interreg V-A España-Portugal (POCTEP) 2014-2020.

 

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

 

 



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