O Dakar fotográfico em Portimão

O gozo da Corrida Fotográfica é mesmo esse: o divertimento e chegar ao fim do dia vendo/fotografando coisas que, de outra maneira, não víamos nem reparávamos

A Corrida Fotográfica de Portimão tem muitas semelhanças com o mítico rally Dakar, aquele das motas, dos carros e dos camiões. Tal como o Dakar, a Corrida fotográfica de Portimão já teve muitas edições (vai na 22ª), tem participantes de várias nacionalidades e faixas etárias, tem veteranos e quem concorre pela primeira vez, põe à prova os homens, as mulheres e as máquinas (fotográficas) e é uma corrida muito dura (pois durou um dia inteiro, das 9h00 às 22h30 do sábado passado, dia 14 de Maio), tem desistências, várias etapas, postos de controlo e classificações.

Eu tenho concorrido sempre, com exceção do ano passado, porque estas coisas das corridas virtuais não me dão pica. Na minha equipa, também ia uma veterana já medalhada e, à última hora, juntou-se uma pessoa que nunca tinha concorrido. Refira-se que temos que tirar 3 fotografias para cada um dos 8 temas, a entregar digitalmente no fim do dia.

Está a dar-me um ataque de nostalgia: nas primeiras edições, as máquinas fotográficas eram de rolo, pelo que só podíamos tirar as fotos por ordem de tema e não se podia escolher, eram aquelas e pronto. Agora, como não há rolo e é tudo digital, tiramos centenas de fotos e no fim escolhem-se as melhores. Outros tempos.

A Corrida teve início no Museu de Portimão, a entidade organizadora deste Dakar fotográfico, onde se podia ver que o equipamento dos vários concorrentes, tal como no rally, era muito variado. Havia autênticas “bombas”, tripés, lentes dos mais variados tamanhos, mas também máquinas de bolso e, pasme-se, havia até quem concorresse com telemóveis.

Então vamos analisar os temas (etapas) da corrida. O primeiro tema era “Entre o rio e a terra firme”. Não havia dúvidas, foi só sairmos do Museu, em terra firme, e dar de caras com o rio mesmo à frente. Nesta altura, ainda tudo calmo, uma dezena de fotografias bastou para depois se escolher.

É também a altura de vermos os diversos estilos de fotógrafos, desde os que querem passar despercebidos e são discretos, aos que se deitam no chão para conseguir o melhor ângulo, passando por aqueles que carregam toda a parafernália às costas e ao pescoço.

O segundo tema era “Vidas de trabalho”. Pensei logo na minha, quarenta e seis anos de trabalho e agora uma reforma tão ocupada que estou a pensar em meter férias para ver se tenho algum tempo para não fazer nada. O interessante nisto é que os temas são tão difusos e abrangentes que tanto podem ser tratados de forma literal, como não. Então, toca a ir à procura de pessoas (ou não?) que ilustrassem o tema.

Depois deste tema, tínhamos que ir ao próximo controlo, em Alvor. Nos controlos, carimba-se o passaporte e recebe-se os próximos temas. Tema 3: “Ruas que contam histórias”. Pus-me à escuta e não ouvi nada. Ou antes, ouvia a barriga a dar horas, de maneira que fomos para o reabastecimento. Depois do almoço, já atestado, lá consegui “ouvir” algumas histórias de algumas ruas.

O tema 4 era “Um património natural”. Isto deu direito a discussão na equipa. Aqueles barcos de madeira, característicos de Alvor passado, são património natural ou cultural? Qual a fronteira? Recordo-me que, há uns bons anos, quando se tentou criar a reserva natural da Ria de Alvor, o logotipo era uma parte da ré de uma chata. Aviso aos não algarvios: uma chata é aquilo a que os lisboetas, afins e correlativos chamam um bote.

Para mim, esta foi uma parte perigosa da Corrida. Tão entretido estava a fotografar que preguei uma cabeçada num tronco e fiquei com um lindo galo. Os acidentes acontecem…

Próximo controlo, na esplanada do quiosque junto ao Tempo, no jardim 1º de Dezembro. Tema 5 “Do antigo se faz novo”. Isso também eu queria, pois já vou tendo uma provecta idade e não vejo maneira de voltar a ser novo.

Mas toca a calcorrear Portimão para cima e para baixo, porque havia uma prova a fazer. E o interessante neste tipo de corrida é que nós estamos habituados a ver o que está mal – e passamos este dia todo a ver a cidade com outros olhos, eventualmente com os olhos de um turista, à procura do que é fotografável. E descobre-se porque é que muita gente gosta desta terra.

Passando ao tema 6, “À descoberta do interior”, e fiquei filosoficamente indeciso entre o meu “eu” interior e o interior do concelho, tipo Mexilhoeira Grande. Isto pode dar problemas, o facto desta freguesia não ter tido um ponto de controlo.

Agora já se sentia o desgaste das muitas horas de prova. Já fotografava tudo o que mexia e não mexia, o que depois se revelou ser um problema na altura da escolha das, recorde-se, apenas três fotografias por tema.

Último controlo no Museu de Portimão, com o tema 7, “Museu em festa”. Lógico, era o aniversário do Museu e a inauguração de duas exposições muito interessantes. O bolo deste 14º Aniversário era espetacular (como costuma ser sempre, verdade seja dita).

Não o provei, com grande pena minha, pois o trabalho criativo de fotografar apenas me deixou tempo para apanhar um “coiso” de salmão. Tema final, o oitavo, “Ao entardecer”. Não é um tema tão fácil como parece, mas tiramos as fotos e fomos para casa passá-las para o computador e selecionar as doze finais.

Foi um enredo. Não sei quantas fotografias tirámos, mas estimamos que o número deve estar entre as quinhentas/seiscentas. Aqui há que felicitar a organização, ao dar-nos mais tempo para apresentarmos o resultado final, abrindo o período de entrega das 21h00 às 22h30.

É de aplaudir, principalmente porque o membro da equipa que concorreu pela primeira vez teve problemas técnicos que iam quase levando à desistência. Mas, tal como no Dakar, a solidariedade entre os concorrentes foi enorme.

O concorrente top, várias vezes vencedor da Corrida Fotográfica de Portimão (o equivalente ao Stéphane Peterhansel do Dakar), deu uma preciosa ajuda ao estreante, ajudando-o a ultrapassar as dificuldades e terminar a prova. Foi muito bonito o gesto e a disponibilidade.

A prova foi dura, o meu relógio eletrónico ficou todo satisfeito porque atingi os 19 mil passos, mas divertimo-nos muito.

O gozo da Corrida Fotográfica é mesmo esse: o divertimento e chegar ao fim do dia vendo/fotografando coisas que, de outra maneira, não víamos nem reparávamos.

Duas palavra para toda a equipa e organização do Museu de Portimão: foram excelentes! Recordo sobretudo quem mais nos acompanhou durante o dia, o pessoal dos controlos, e, no final, quem tratou da informática.

 

 
 

 



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