Fui até à Pré-História…

Houve sol e calor e, talvez por isso, registaram-se 1750 visitantes, dos 3 aos 93 anos

…que, no meu caso, ficava logo ali, na estrada para a Senhora do Verde, em Alcalar. E eu estava no meu ambiente, pois os meus amigos (às vezes) tratam-me por pré-histórico e não deixam de ter alguma razão. Vejamos: nasci no milénio passado, no século passado, vou A.C. (A Caminho) dos setenta anos e fui a Alcalar como voluntário, uma coisa pouco atual.

Quem olhasse para a divulgação oficial desta coisa ficava a saber que “Um Dia na Pré-História” era um evento realizado no dia 7 de Maio, uma recriação histórica do Museu de Portimão nos Monumentos Megalíticos de Alcalar.

Quem não foi não sabe o que perdeu; os que foram, a analisar pelo que fui vendo, divertiram-se imenso, em especial os miúdos, mas sem desprimor para os graúdos.

Quem lá foi encontrou uma série de malta mais ou menos vestida (e pintada) pré-historicamente, a mostrar uma série de coisas, desde como se fazia fogo com dois paus, como se gravava placas de xisto, fazia cordas com trovisco e outras plantas, tecelagem, peças em barro e outras coisas com que o pessoal se entretinha quando nem as palavras que usamos hoje existiam.

Para não ter muito trabalho de escrita a partir daqui em vez de escrever pré-história vou escrever PH.

Vou destacar algumas coisas. Como qualquer português, PH ou não, a comidinha era muito importante. E era ver o pessoal a moer os cereais, a fazer pão, a preparar as carnes (desde coelho a porco) à maneira dos PH, com facas feitas de pedra, a cozinhar em fogueiras ervilhas e favas, a assar os bichos no espeto, a ter também para comer berbigões, peixe, frutos silvestres e cerveja (sim, que isto às secas não vai). Provei de tudo, de forma PH e não me dei mal!

Mas tenho de confessar que, se estivessem à minha espera para levar um javali ou um veado para a mesa os PH, não tinham sorte nenhuma. Fui fazer tiro, com arco e flechas, mas fui um desastre: não cacei nada. Ao invés, vi alguns miúdos com jeito, que acertavam nos bichos a preceito. Uma palavra para os defensores dos animais: os bichos eram de esferovite, portanto nenhum foi molestado.

Por acaso, agora que falo nisto, havia uma série de malta PH que por lá andava a falar e a agir como PH que, ao verem um cão, ainda pensaram que o bicho era comestível, mas o dono lá o agarrou… Cá para mim, na PH e com a fominha, aquele ia; mas como era pequeno, também não dava muito sustento.

Esta malta da PH tinha um feiticeiro que falava à PH e, de vez em quando, pregava uns sustos a quem não estava à espera. Neste grupo, de vez em quando “morria” um. Era um alarido. Lá vinha o feiticeiro, eles lamentavam-se à PH, havia música fúnebre PH e um “enterro” PH. Isto era tão realista que vi uma criancinha a chorar de desgosto, agarrada ao pai, que lhe tentava explicar que era só teatro e a fingir.

Já que falo em enterro, não esquecer que estas coisas decorriam numa área monumental e, felizmente, havia arqueólogos a sério a fazer visitas guiadas e a explicar o contexto histórico, como devia ser.

Tudo isto era tão real, que até houve um acidente PH, felizmente sem vítimas (mas os Bombeiros estavam lá, para o que desse e viesse). Havia uma demonstração de  como se podia mover, de forma PH, um enorme bloco de pedra, por meio de uns troncos redondos de madeira. As coisas iam correndo bem, as pessoas puxavam por uma corda e o bloco ia deslizando pelos troncos. A pedra era verdadeiramente PH, a madeira não, pelo que, às tantas, os troncos cederam, partiram-se e esta parte ficou inoperacional.

Agora quem se divertiu a valer foram os miúdos. Andavam por lá a correr, felizes e contentes, satisfeitos a dar pontapés nas pedras, cheios de pó, a fazer as atividades, a besuntarem-se todos com as tintas e os barros e, como dizia um pai a um filho, “daqui vais diretamente para a banheira”. Foi para a banheira com certeza mas, certamente, foi uma banhada feliz e, com a estafa, aposto que foi diretamente para a cama.

Como fui ameaçado, de forma perfeitamente PH, pelas voluntárias do Grupo de Amigos do Museu, tenho que dizer que, na atividade de pintura por decalque, participaram cerca de mil (felizes, não me canso de referir) crianças. Sabemos quantos foram porque gastámos quatro resmas de papel. També gastámos muita tinta, com alguma dela a ficar também nas mãos e roupas dos voluntários, pois, quem anda à chuva, molha-se.

Por acaso, chuva não houve. Houve sol e calor e, talvez por isso, registaram-se 1750 visitantes, dos 3 aos 93 anos, portugueses, algarvios e, além dos tradicionais ingleses, franceses, alemães, italianos e brasileiros, também apareceram algumas nacionalidades mais exóticas, como pessoal da Nova Zelândia, Irão e…Ucrânia.

Para o ano, presumo que vai haver mais um dia destes. E prometeram que ia ser ainda melhor. Não o percam e depois não digam que não os avisei!

 

 



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