Centenas de peixes morrem na Lagoa dos Salgados devido a vandalismo nas comportas

Abertura artificial da barra para diminuir cota das águas não terá tido a ver com o incidente ecológico

Peixes mortos, a boiar, na zona norte da Lagoa dos Salgados – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Centenas de peixes, na sua maioria tainhas com mais de três quilos, morreram nos últimos dias na zona norte da Lagoa dos Salgados. Ao que o Sul Informação apurou junto de várias fontes, a causa próxima desta mortandade é a «vandalização das comportas» que regulam o nível de água.

Anabela Santos, da associação ambientalista Almargem, disse ao nosso jornal que a boca da Lagoa dos Salgados foi aberta em finais de Abril, depois de esta associação, em conjunto com a Sociedade para o Estudo das Aves (SPEA), ter solicitado à Agência Portuguesa de Ambiente (APA) que procedesse à abertura articial da barra.

O pedido baseava-se no facto de, na parte sul da zona lagunar, abaixo das comportas, a chuva ter feito «subir o nível das águas para cotas muito elevadas», o que levou à inundação das ilhotas centrais, dificultando ou mesmo impedindo a nidificação de inúmeras espécies de aves.

O Sul Informação sabe que a APA pediu parecer ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) sobre a abertura da barra, tendo obtido luz verde deste organismo. «De forma muito rápida, a APA agilizou o processo, a boca da lagoa foi aberta, a APA foi monitorizando e estava tudo bem», conta a técnica da Almargem.

A abertura da barra apenas esgotou as águas da zona sul da Lagoa dos Salgados, sendo que, a zona norte, acima de um sistema com duas comportas, se manteve intacta, com o nível das águas normal. A expectativa era que a parte sul da laguna voltasse a encher naturalmente, nas próximas semanas, como tem acontecido em aberturas artificiais anteriores.

 

Peixes mortos, na zona norte da Lagoa dos Salgados – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Só que, a 10 de Maio, um membro da associação que costuma acompanhar de perto, dia a dia, o que se passa na lagoa, notou que o nível das águas na zona norte, que deveria ser mantido intacto pelas comportas fechadas, tinha diminuído. A tudo isso juntou-se a falta de chuva e a vaga de calor dos últimos dias. Resultado: começaram a aparecer centenas de peixes mortos, a apodrecer, à tona da água que restou.

«Nós contactámos logo com a APA, mal nos apercebemos que algo de errado se tinha passado e eles foram rápidos a atuar», acrescentou Anabela Santos.

Ontem, sexta-feira, já as comportas tinham sido repostas na sua posição normal, ao mesmo tempo que a barra foi fechada artificialmente.

O Sul Informação esteve no local a meio da tarde de ontem e constatou que, na zona final da lagoa, no areal da praia, estavam três máquinas a trabalhar: uma máquina de rastos do ICNF, normalmente utilizada para ajudar no combate aos incêndios, mas aqui usada para apagar outros fogos, e duas escavadoras, fornecidas, ao que o nosso jornal foi informado, pela Câmara de Silves. Ao final da tarde, a barra estava fechada.

 

Máquinas a trabalhar no fecho da boca da lagoa – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 

Falta agora retirar as centenas de enormes peixes que jazem mortos a boiar nas águas da zona norte da lagoa. Essa tarefa deverá ser feita ao longo do fim de semana, num esforço conjunto da APA, ICNF, Câmaras Municipais de Silves e Albufeira e ainda com a ajuda do Zoomarine.

A Lagoa dos Salgados está, neste momento, na expectativa de ser classificada como Reserva Natural, num processo que esteve em consulta pública em Dezembro e Janeiro passados, como o nosso jornal deu conta. Neste momento, o ICNF, que propôs uma classificação de nível nacional para esta zona húmida e ainda uma vasta área que engloba campos e o sapal de Alcantarilha/Pêra, está a ultimar o relatório sobre a participação pública, para o submeter ao novo ministro do Ambiente.

Em Fevereiro, estiveram em consulta pública dois Relatórios de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (RECAPE), ambos referentes ao empreendimento turístico previsto (mas não licenciado) para uma extensa área que, se o processo avançar, deverá integrar a Reserva Natural.

Na altura, o Movimento Participativo da Lagoa dos Salgados contestou este processo, considerando a apresentação em simultâneo para apreciação em Consulta Pública de dois RECAPEs para o mesmo empreendimento como «incompreensível, pois a UE1 deve ser avaliada como um todo». Também ainda não há decisão quanto a este processo.

Mas tudo isto evidencia as forças e interesses antagónicos que esta zona húmida litoral continua a suscitar. A vandalização das comportas poderá ser apenas mais um episódio.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 



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