Banhos Islâmicos renascem para dar futuro ao núcleo histórico de Loulé

Musealização deste património arqueológico único em Portugal já foi concluída

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Foi uma obra que deu trabalho, científico e de planeamento, que foi feita com uma especial atenção, dada a sua natureza, mas que permitiu construir um edifício e um novo núcleo museológico que prometem tornar-se uma das grandes atrações culturais e turísticas da cidade de Loulé.

Os Banhos Islâmicos de Loulé, um vestígio arqueológico único em Portugal, foram inaugurados hoje, sábado, dia 28 de Maio, e já estão em condições de ser, não só, visitados, mas, acima de tudo, compreendidos, após um investimento superior a 1,3 milhões de euros da Câmara louletana.

Dinheiro que Vítor Aleixo dá por bem gasto, até porque esta é uma peça fulcral da aposta que Loulé tem feito na recuperação de património, que o presidente da Câmara descreve como «um mix poderosíssimo, que vai ter reflexos inquestionáveis na economia, não só de Loulé, mas de toda a região».

A inauguração do novo edifício e o núcleo museológico dos Banhos Islâmicos e Casa Senhorial dos Barretos foi, desta forma, uma festa, a que nem sequer faltaram membros do Governo. E forma logo dois, Pedro Adão e Silva e João Gomes Cravinho, ministros da Cultura e dos Negócios Estrangeiros, respetivamente.

Também presente esteve Othmane Bahnini, o embaixador do Reino de Marrocos em Portugal, bem como uma delegação de académicos vinda daquele país.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Segundo Vítor Aleixo, desde o momento em que assumiu a presidência da Câmara de Loulé, em 2013, percebeu que tinha em mãos um património que tinha de ser aproveitado.

«Os banhos foram encontrados em 2006 e ficaram ali expectantes. Em 2013, iniciou-se um novo ciclo político e vimos que tínhamos aqui um tesouro, um recurso que urgia ser valorizado do ponto de vista da importância que tem para a cultura e património de Portugal, uma vez que se trata dos únicos Banhos Islâmicos, ou Hamman, que existem no país», disse aos jornalistas o autarca louletano, à margem da inauguração do edifício.

«Imediatamente estabelecemos um projeto e percebemos que tínhamos de valorizar, musealizar e envolver todos. Graças à riqueza humana das pessoas que trabalham na Câmara de Loulé, foi uma caminhada imparável até ao dia de hoje», descreveu.

O novo edifício, de um só piso, todo branco e perfeitamente integrado com o núcleo histórico onde se ergue, tem com duas salas principais, que contam a história não apenas dos banhos islâmicos, mas também da Casa Senhorial dos Barretos, o edifício nobre criado no século XV, cujas memórias também enriquecem este núcleo museológico.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Além de uma área interpretativa dos vestígios arqueológicos encontrados no local, ao longo de cerca de uma dezena de anos de escavações, que compõem uma primeira sala, há um espaço onde é possível ver os antigos banhos e, até, visualizar cenas do passado, em painéis interativos 3D que simulam o dia a dia deste edifício, há 800 anos.

«Acho que a recuperação do edifício é extraordinária e permite-nos olhar para o passado e perceber como, em muitas dimensões, este não está assim tão distante do que acontece hoje em dia. Continuamos a ter as saunas, que é uma experiência que, afinal, não é assim tão distante da que se tinha nos banhos islâmicos, nos séculos XI e XII», ilustrou o ministro Pedro Adão e Silva

Além da área expositiva propriamente dita, o núcleo museológico conta com  uma sala destinada ao Serviço Educativo, onde, entre outras atividades, os visitantes poderão “brincar” com um puzzle tridimensional, que revela a evolução do edifício ao longo dos séculos.

A componente pedagógica é, de resto, uma das que Vítor Aleixo mais valoriza.

Uma das funções deste novo espaço será «a explicação e a mostra que se faz às novas gerações de como a nossa identidade é uma realidade dinâmica. Fica claro [depois de o visitar], que o nosso país incorpora várias culturas, várias dinâmicas, vários cruzamentos. Ou seja, temos uma identidade plural».

«A minha ação política tem sempre presente uma intenção de confrontar as nossas crianças com o nosso legado histórico e patrimonial, para que tomem consciência de porque é que estão aqui e o que é que receberam de herança. Há aqui um papel pedagógico que este edifício, juntamente com a comunidade escolar, vai cumprir, que é, a todos os títulos, louvável», salientou o presidente da Câmara de Loulé.

Para o edil louletano, «é ainda mais importante revelar ao país este património numa altura em que há um regresso a perspetivas políticas muitas vezes fechadas, nacionalistas».

 

Vitor Aleixo

 

Uma ideia que os dois ministros também passaram, à margem da cerimónia.

«A importância deste edifício é recuperar a memória e aquilo que nós somos. Mas, se calhar, hoje, o fundamental é mostrar que a memória é parte do presente e uma forma de construir o futuro», disse o titular da pasta da Cultura.

«E num momento em que a Europa está tão dividida e em que há uma crise democrática um pouco por toda a Europa, eu acho que este sinal que Portugal dá, que o seu passado cultural, de abertura, de tolerância, de coexistência de várias religiões é algo que nos protege hoje», acrescentou.

«Este edifício tem uma importância tremenda, porque o passado é prólogo para o presente e o futuro. E aquilo que se demonstra aqui neste edifício é a intensidade da interação que nós temos no plano internacional», disse, por seu lado, João Gomes Cravinho.

«Enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, valorizo muito a inauguração dos Banhos Islâmicos em Loulé e quero felicitar por isso o senhor presidente da Câmara, que compreendeu a importância e a relevância deste monumento, quer seja no plano cultural, quer seja no turístico, mas também no plano do nosso relacionamento externo», concluiu.

Vítor Aleixo também salientou a dimensão económica deste edifício.

«Nós, em Loulé, temos um turismo de sol e Praia. Felizmente, também temos, cada vez mais, um Turismo de Natureza, no interior. Nós temos isso tudo, mas também temos património histórico. No entanto, essa era uma oferta que ainda não estava estruturada», enquadrou.

Agora, «não só com esta intervenção, mas com outras que foram feitas ao longo dos anos – o Mercado Municipal, o Cineteatro Louletano, o Palácio Gama Lobo, o Solar da Música Nova, a recuperação da Igreja Matriz – passámos a ter uma enorme oferta para visitação do nosso património cultural».

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

 



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