Açude da ribeira de Odeleite será o primeiro em Portugal a ser removido pela sociedade civil

Operação vai acontecer este Verão

O açude de Galaxes da ribeira de Odeleite, situado na localidade com o mesmo nome da Freguesia de Vaqueiros, no concelho de Alcoutim, vai tornar-se, este Verão, a primeira barreira fluvial obsoleta a ser derrubada por um movimento da sociedade civil, em Portugal, graças a uma parceria entre a Associação Natureza Portugal/WWF e a Câmara alcouteneja.

Este será «um gesto pioneiro em Portugal» e permitirá a «reconexão do curso da ribeira de Odeleite, na bacia do rio Guadiana», segundo a ANP/WWF. A iniciativa conta com o apoio do programa europeu Open Rivers.

O açude em causa já havia sido identificado como obsoleto pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas em 2014, «por nunca ter desempenhado o propósito pretendido com a sua construção».

Para Ângela Morgado, diretora executiva da ANP/WWF, «ao longo do último século, assistimos a um aumento exponencial da instalação de barreiras nos nossos rios, com um impacto muito negativo para a natureza, como, por exemplo, o bloqueio das rotas migratórias e dos movimentos de muitas espécies de peixes e outras».

«Estas barreiras podem também ter consequências no bem-estar das pessoas, devido aos riscos que derivam da sua falta de manutenção, agravamento da erosão das praias e do aquecimento global. Esperamos que este projeto pioneiro sirva para impulsionar outras remoções de barreiras fluviais e que, finalmente, este tema deixe de existir apenas nas intenções e no papel», desejou.

«Não fazia qualquer sentido manter, no nosso município, uma barreira fluvial que nunca serviu o seu propósito, nem nunca trouxe benefícios para a população. Tivemos o cuidado de sensibilizar a população local para este projeto, de forma a perceberem os benefícios resultantes da remoção deste açude para a região», disse, por seu lado, Paulo Paulino, vice-presidente da Câmara de Alcoutim.

 

Através do European Open Rivers Programme (EORP) – uma organização que atribui fundos dedicados ao restauro de rios – a ANP|WWF identificou este açude para ser removido «com o objetivo de melhorar as condições de habitat de diversas espécies de peixes ameaçadas de extinção, com destaque para o saramugo – a espécie de peixe não migratório mais ameaçada nas águas doces portuguesas, endémica na bacia do rio Guadiana – e para a enguia, que fazia parte da biodiversidade da ribeira e ainda é usada na gastronomia local», enquadra a associação.

«Esta remoção será, assim, essencial para restaurar a conectividade fluvial de 7,7 quilómetros de rio que, por sua vez, vai impulsionar a conservação das populações de peixes e de várias espécies de aves ribeirinhas e mamíferos icónicos, como a lontra e o endémico e ameaçado lince ibérico», resumiu.

Esta remoção terá também vantagens socioeconómicas, «incluindo a dinamização das atividades de turismo rural, bem como benefícios para os pescadores, pois o restauro da continuidade fluvial permite condições ecológicas mais saudáveis para as populações de peixes com elevado valor económico».

A remoção da barreira levará cerca de um mês, seguida da recuperação dos ecossistemas ribeirinhos naturais, incluindo as margens do rio e as galerias ripícolas. Este processo de recuperação natural será monitorizado uma vez a cada três meses, durante o período de um ano.

«É com grande satisfação que o Open Rivers Programme apoia a primeira remoção de uma barreira fluvial por uma entidade da sociedade civil em Portugal. Esta remoção vai permitir não só libertar cerca de 8 quilómetros de habitat muito necessário para espécies locais de água doce ameaçadas, mas também vai inspirar e abrir caminho para outras remoções na bacia hidrográfica, impulsionando o movimento de remoção de barragens em Portugal», disse Jack Foxall, diretor executivo da EORP.

«A remoção das barreiras fluviais obsoletas com vista ao restauro ecológico dos rios tornou-se inevitável em todo o mundo e alguns países europeus já apresentam resultados positivos concretos com a remoção de barragens. Portugal continua ainda muito atrás neste processo, sendo dos países da Europa ocidental com menos barragens removidas. Neste sentido, Portugal acolhe este ano o 7º Seminário Dam Removal Europe, onde estarão presentes vários especialistas europeus que vão apresentar casos de sucesso de remoção de barragens por toda a Europa, bem como boas práticas, os melhores métodos, custos e benefícios», concluiu a ANP/WWF.

 

 

 



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