Creatour ajuda o Algarve a dar um mergulho no turismo criativo

Livro com os resultados do projeto, que envolveu o CinTurs da Universidade do Algarve, foi apresentado na sexta-feira em Loulé

«No Algarve, há mais para experimentar do que um bom mergulho». A frase, da autoria dos investigadores algarvios que participaram no CREATOUR, acaba por resumir o que este projeto de âmbito nacional, cuja ideia foi «testar novas experiências relacionadas com o turismo, que envolvam criatividade», representa para a região algarvia.

O livro “CREATOUR: Catalisando o turismo criativo em cidades de pequena dimensão e em áreas rurais”, que foi apresentado na sexta-feira no Palácio Gama Lobos, em Loulé, divide-se em quatro capítulos, um dos quais dedicados ao Algarve, elaborado por uma equipa coordenada por Alexandra Gonçalves, investigadora algarvia e diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo (ESGHT) da Universidade do Algarve.

Nele podem ser encontrados dez testemunhos de investigadores e promotores de experiências do Algarve, que se juntam a outros vindos de vários pontos do país, uma vez que estão envolvido no Creatour cinco centros de investigação.

No caso do Algarve, a entidade parceira do projeto foi o CinTurs – Research Centre for Tourism, Sustainability and Well-being, da UAlg.

«O projeto terminou em Junho e é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. É liderado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e envolve também centros de investigação do ISCTE, da Universidade do Minho e da Universidade de Évora, para além de nós», revelou a investigadora algarvia.

«No nosso caso, a equipa foi composta por quatro pessoas: eu, o professor João Filipe Marques, que é doutorado em sociologia, a professora Miriam Tavares, que é de artes visuais e comunicação, e a Sónia Cabeça, uma bolseira de pós-doutoramento, que trabalhou durante estes quatro anos e meio connosco diretamente, num estudo pós-doutorado, e que fez o apoio a toda a investigação», acrescentou Alexandra Gonçalves.

O CREATOUR, salientou, é um projeto de investigação «diferente dos outros, porque é virado para a ação», o que possibilitou ter «resultados muitos ricos», que permitiram já lançar várias publicações – embora a que foi agora apresentada seja o corolário de todo o trabalho realizado.

 

Empreita – Imagem de Arquivo

 

«Nós fizemos uma chamada de projetos-piloto, para desenvolver estas experiências, que podiam envolver desde associações, a câmara municipais ou empresas. Numa primeira fase, foram cinco, numa segunda fase outros tantos», revelou.

Para implementar as ideias de turismo criativo que resultavam desde trabalho conjunto, apostou-se na estruturação das iniciativas «desde a ideia até à conceção da experiência turística, até à definição do preço e de como é que se poderia trazer turistas para este tipo de propostas».

Paralelamente, também se apostou em trabalhar com iniciativas que já existiam, como o projeto Loulé Criativo, que «é um excelente exemplo, tem servido de mote para as outras regiões e é uma prática muito sustentável no território».

«Tanto o Loulé Criativo como a empresa ProActiveTur, que foi um importante agente de dinamização deste projeto, estiveram connosco desde o início, à semelhança do que aconteceu com a In Loco, a Odiana e o Espírito da terra, uma Quinta Pedagógica de Boliqueime», ilustrou.

Outros parceiros do CREATOUR, no Algarve, foram a empresa Barroca, o Centro Ciência Viva do Algarve, a Algarve Foodtours e a Tertúlia Algarvia. A associação Backup, de VRSA, também chegou a estar ligada, mas entretanto parou a sua atividade.

As propostas que foram criadas «nunca envolvem muita gente. São grupos, oficinas e workshops com um número reduzido de pessoas, pelo que a possibilidade de interagir ou de controlar algum problema é sempre mais fácil do que num turismo massificado em que as pessoas têm outra preocupação».

São estas experiências que são dadas a conhecer nos dez textos relacionados com o Algarve, alguns dos quais que «foram partilhados e foram escritos a várias mãos, com a participação das pessoas que desenvolveram estas experiências».

 

 

Terminado o projeto, mantém-se, no Algarve e noutros pontos do país, uma «rede informal. As associações conhecem-se, sabem quem é que está no terreno, têm bases de dados dos artesãos, pelo que sabem com quem contactar cada vez que necessitam».

«Depois a nível nacional foi interessante, nós fizemos também trocas inter-regionais, para eles conhecerem e verem o que é que cada um andava a fazer na sua região. Foi muito enriquecedor. Internacionalmente, também já há um movimento. A sede da rede do turismo criativo é em Barcelona – precisamente porque Barcelona percebeu que tinha que mudar o seu modelo de turismo cultural. Dão formação e têm muitas boas práticas nesta rede», ilustrou Alexandra Gonçalves.

O CREATOUR é liderado pela Universidade de Coimbra e tem como responsável Nancy Duxbury, uma investigadora sénior natural do Canadá. O projeto parte de um conceito com cerca de 20 anos, pensado por Greg Richards, «um especialista na área do turismo cultural que percebeu, em determinada altura, que também este tipo de turismo se estava a tornar massificado».

Greg Richards, que é consultor do CREATOUR, notou que havia «grandes cidades conhecidas pela dimensão cultural», como « Veneza, Bruges ou Barcelona», que estavam «a ficar excessivamente povoadas de turistas e a criar efeitos negativos sobre a própria cultura local».

«Então emerge, quase em contraposição, um movimento associado a este conceito mediterrânico de interagir com a comunidade, aprender com a cultura do local, conhecer a língua e as tradições dos sítios», explicou Alexandra Gonçalves.

A partir daqui, criou-se um nicho, dirigido a pessoas que «vêm em menor número, mas que, em regra, têm um nível de instrução superior, já conhecem muitos sítios, têm práticas de viagem já muito reiteradas e que vão tentar conhecer o outro. É muito esta capacidade de interagir, escapar ao stress quotidiano e aprender com o outro».

«Nós precisamos de combater a sazonalidade, de valorizar mais o nosso interior, a nossa cultura local e esta é uma das formas», acredita a diretora da ESGHT da UAlg.

«São práticas sustentáveis porque utilizam recursos da época, do território, portanto, não há aqui uma utilização excessiva de recursos. O projeto é multidisciplinar, envolve desde as artes, à economia, ao marketing, ao turismo. Portanto, junta pessoas com áreas de formação e conhecimento diferentes, precisamente para tentar abranger tudo o que é necessário para que a ideia deixe de ser ideia e passe a ser uma experiência sustentável. São experiências em que há uma aprendizagem, mas é uma aprendizagem que não é transmissão, há diversão, as pessoas saem com um sorriso na cara», conclui Alexandra Gonçalves.

 

 

 

 



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