Cineteatro Louletano já começa a colher frutos da aposta na audiodescrição e Língua Gestual

No passado fim de semana, cerca de 20 pessoas assistiram à peça “Aquário”, de Marlene Barreto

Audiodescrição e Língua Gestual Portuguesa. Estes são dois serviços já introduzidos pelo Cineteatro Louletano e que já começam a dar resultados positivos, com mais pessoas a terem acesso a espetáculos culturais. 

No passado fim de semana, foram cerca de 20 as pessoas com necessidades várias – maioritariamente cegos ou pessoas com deficiências de visão, mas também várias pessoas Surdas (com “S” maiúsculo são leitores/falantes de Língua Gestual Portuguesa) – que se deslocaram a Loulé para assistir à peça “Aquário”, de Marlene Barreto.

«Antigamente para que uma pessoa cega assistisse a um espetáculo, isso implicava que alguém que a acompanhasse ocupasse o seu tempo a explicar, e agora não. Hoje, podem estar a ouvir aquilo que não veem», explica Anaísa Raquel, audiodescritora e pioneira na implementação deste tipo de serviços em museus e salas de espetáculos.

O sistema funciona com base numa cabine semelhante às de tradução simultânea, onde o audiodescritor relata tudo o que se passa no palco, utilizando um guião da peça criado especificamente para esse efeito. Os cegos têm acesso a um auscultador, deixando um dos ouvidos livre para seguir os sons da sala.

Ricardo Martins, presidente da ACAPO-Algarve, adianta que “Aquário” não foi a sua primeira experiência, até porque já tinha experimentado audiodescrição em Loulé.

Para ele, que é músico e autor de um programa de rádio no Algarve, a audiodescrição é um mundo que traz uma nova realidade aos espetáculos.

«Em espetáculos como o Hamster Clown (performance sem texto, pelo Teatro do Eléctrico), por exemplo, nem sequer seria possível assistirmos. Nos outros, em que há linguagem verbal, toda a parte não-verbal acabaria por ser imaginada por nós, correndo o risco de distorcermos a intenção do auto», explica Ricardo Martins, que numa das vezes trouxe o cão-guia.

 

 

«Eu acho que o objetivo é que isto possa vir a ser a regra e não a exceção! Loulé foi o primeiro no Algarve, talvez o terceiro ou quarto a nível nacional, o que é ótimo, mas agora é preciso distribuir, porque no Algarve os transportes públicos funcionam mal. Em Lisboa qualquer pessoa vai a qualquer sítio, aqui não».

A Câmara de Loulé, de resto, disponibilizou transporte.

«A acessibilidade não é só o equipamento cultural, é a localização, as pessoas, a sua autonomia», acrescenta Anaísa Raquel. Mas vejo que há uma certa contaminação positiva… quanto mais equipamentos investem na acessibilidade (como Loulé), mais as localidades próximas investem também. É preciso é alguma regularidade para que as pessoas se habituem», diz.

Para Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, a integração da Rede de Programação Acessível e a realização de espetáculos com audiodescrição e Língua Gestual Portuguesa «insere-se na estratégia municipal de democratização e de acesso à cultura para todos e é, a par do trabalho de mediação cultural, uma ferramenta essencial para garantirmos um direito constitucional e, ao mesmo tempo, contribuirmos para aumentar a felicidade de pessoas com necessidades específicas, garantindo que são cidadãos de pleno direito».

Paralelamente, alguns dos espetáculos que vêm ao Cineteatro começaram a ter Língua Gestual Portuguesa destinada à comunidade Surda. Uma experiência que, garante Vera Correia, intérprete de LGP, tem tido cada vez maior adesão.

«Sem dúvida a Comunidade Surda recebe esta oferta cultural com muita satisfação e alegria, é tão importante que tenham acesso na plenitude a todo o espetáculo. Infelizmente não é o que se verifica na maioria das situações. Outro ponto bastante positivo que a comunidade Surda destaca em Loulé é a possibilidade de ter acesso ao que se passa no concelho através das Assembleias Municipais que são transmitidas online», adianta.

Recentemente, o concerto da rapper Capicua teve LGP, o que levou a intérprete a “dançar” enquanto traduzia as letras rápidas do hip hop. Já a peça “Aquário” contou com a presença de duas intérpretes, Vera Correia e Inês Teixeira, para assumirem as várias vozes.

 



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