Não é preciso ser algarvio “de gema” para ajudar Faro a ser Capital Europeia da Cultura em 2027

Hoje, Faro ficará a saber se passa à próxima fase do processo de seleção

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Mal ouviu as palavras «what about you, mr. Bacalhau?», ditas por Marko Paunovic com um sorriso e com a sua pronúncia caraterística dos balcãs, o presidente da Câmara de Faro não conteve as gargalhadas e logo contagiou o resto da sala. «Se disseres isso assim, vou-me escangalhar», dizia, ainda a rir, Rogério Bacalhau, na terça-feira, dia 8, numa pequena sala de um hotel de Lisboa.

As gargalhadas de Rogério Bacalhau, mas também dos outros elementos do grupo, foram uma reação a uma situação cómica, mas também um reflexo dos nervos que todos sentiam naquele momento, não fosse este o derradeiro momento de preparação para a apresentação do Bidbook da candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura em 2027, que aconteceria no dia seguinte, quarta-feira, no Centro Cultural de Belém.

Hoje, Faro ficará a saber se é uma das candidatas que vai passar à próxima fase do processo de seleção, que lhe permitirá melhorar a sua proposta, já com feedback do júri, desenvolver algumas das ideias que constam do primeiro o dossier de candidatura e elaborar um novo Bidbook.

Mas, para que haja razão para festejar esta sexta-feira, o júri perante o qual a comitiva de Faro se apresentou há dois dias terá de ter ficado convencido da qualidade e pertinência da proposta algarvia.

 

Bruno Inácio

 

Essa missão coube a uma equipa de algarvios, uns de nascença, outros por “afinidade”, marcada pela diversidade, quer ao nível de idades, quer das atividades exercidas.

As mais jovens da equipa, ambas com 19 anos, eram Maia Viegas, produtora de conteúdos nas redes sociais, e Camila Graça, que está a dar início à sua carreira musical.

Além das duas jovens, há mais três mulheres, que garantiram que o género feminino está em maioria no grupo: Teresa Aleixo, cantora e vereadora da Câmara de Faro, Fúlvia Almeida, atriz e dirigente associativa, e Alexandra Gonçalves, ex-diretora Regional de Cultura do Algarve e professora universitária.

A equipa fica completa com Bruno Inácio, o coordenador da candidatura Faro2027, Tiago Prata, gestor de projetos de sociais que, apesar de ser natural de Lagoa, está há muito radicado em Gotemburgo, e o já mencionado Marko Paunovic, perito em financiamento europeu que já viveu e mantém uma casa em Faro.

E se, nalguns dos casos, seja pelas funções que essas pessoas desempenham ou desempenharam em entidades públicas do Algarve ou por serem bem conhecidas no meio cultural da região, as escolhas são aquelas que toda a gente estaria à espera, noutros casos não é bem assim.

 

Marko Paunovic

 

Quem olhar para Marko Paunovic não o confunde com um português, muito menos com o típico algarvio.  Mas, como o povo sabiamente diz, “quem vê caras, não vê corações”.

«Há duas razões principais para estar aqui hoje a ajudar a defender esta candidatura. A primeira é que também vejo Faro como a minha cidade. Estarei sempre disposto a ajudar a cidade em que nasci, na Sérvia, e sinto a mesma coisa em relação a Faro. Há uma ligação emocional», disse Marko ao Sul Informação, que acompanhou a viagem dos representantes da Faro2027 a Lisboa, nos dias 8 e 9.

«Por outro lado, acho que a região do Algarve é subestimada. É apenas vista como um local para fazer praia e para as pessoas se divertirem, mas eu acho que tem um grande potencial criativo e empresarial. A terceira razão foi porque o Bruno me convenceu a trazer a minha perspetiva de imigrante de alta qualidade (risos)», acrescentou.

«Eu disse que eram duas, mas já vou para a quarta. E a quarta é porque é divertido», rematou este “farense” nascido na Sérvia.

Num registo mais sério, Marko Paunovic confessou que foi «desafiante» apresentar o Bidbook «perante um júri repleto de personalidades, que sabiam tudo sobre a proposta».

«No entanto, penso que a apresentação correu muito bem e que temos uma boa proposta», concluiu.

Estas declarações, mas também as dos outros membros da equipa com os quais o nosso jornal falou, foram obtidas após a sessão de apresentação, que decorreu à porta fechada e à qual os jornalistas não tiveram acesso.

 

Tiago Prata

 

Tiago Prata, que é natural de Lagoa, fez o percurso inverso de Marko: apesar de ter nascido no Algarve, emigrou e fez a sua vida noutro país, neste caso a Suécia.

No entanto, mal surgiu a oportunidade, não hesitou em juntar-se à equipa da Faro2027.

«É um orgulho e uma felicidade contribuir com a minha experiência em projetos internacionais e em fundos europeus para ajudar a candidatura», disse.

«Mesmo não estando a viver no Algarve, continuo a ser algarvio. Acredito muito neste processo como um fator de desenvolvimento para a região e para a qualidade de vida da região: mais cultura, mais educação, melhores espaços públicos, melhor relação com a natureza, formas de turismo que não são tão predatórias e que não excluem as pessoas ou promovem a precariedade», resumiu.

Segundo este algarvio residente em Gotemburgo «felizmente, daquilo que eu vi, acredita-se muito na qualidade do processo e que este, independentemente do resultado final, vai trazer muitos frutos para a região».

E a mensagem da candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura passa, em grande medida, pelos frutos que se quer trazer ao Algarve, com especial enfoque na grande necessidade que a região tem de um projeto estruturante desta natureza.

 

Rogério Bacalhau

 

«Como nós dizemos na candidatura, 80% da nossa economia está assente no turismo. A cultura, do meu ponto de vista, é uma atividade transformadora, agregadora que pode potenciar o turismo, mas pode criar, também, atividades de diversificação económica do Algarve, e esse é o grande mote para isto. Para além de agregar a região, podermos diversificar com novos agentes culturais, com novas atividades a serem desenvolvidas», acredita Rogério Bacalhau.

O presidente da Câmara de Faro explicou ao Sul Informação que a ideia por detrás da proposta apresentada por Faro é «chamar a atenção através da cultura», mas também «tentar criar soluções para diversos problemas, desde logo a nossa relação com a água, com a Ria Formosa, mas também em relação com a carência deste bem que temos no Algarve».

Outro grande enfoque da candidatura é «a pobreza no Algarve, um problema de que muito pouca gente fala, mas que existe».

Há também «um conjunto de outros projetos que têm a ver com a ação social, têm a ver com as pessoas, com o bem-estar. Queremos promover o aumento da qualidade de vida, tanto para quem vive no Algarve permanentemente, como para quem vive alguns meses durante o ano no Algarve ou para quem simplesmente nos vem visitar, está aqui alguns dias e volta para a sua terra».

Camila Graça é dona de uma voz suave e doce e colocou-a ao serviço da causa. A  jovem luso-angolana surpreendeu o júri ao protagonizar um dueto com Teresa Aleixo, a abrir a apresentação.

 

Camila Graça

 

Para já, Camila pode não ser conhecida por muitos, mas, se tudo correr bem, isso irá mudar.

«Apesar de eu já ter feito muitas coisas, acredito que é na música que eu vou ficar, porque é na música que as coisas têm corrido melhor», disse.

Esta jovem ficou a conhecer o projeto da Faro2027 através da sua professora de inglês, que «é mulher do presidente Rogério Bacalhau».

Desta forma, e para perceber melhor o que era todo este processo, juntou-se à banca da cultura, que esteve em funcionamento no Mercado Municipal de Faro.

Já Maia Viegas, também de 19 anos, teve um percurso bem distinto.

«Tudo começou quando eu entrei no Secundário em Faro. Penso que foi através do meu canal do Youtube que me tornei uma das jovens cápsula. Foi através desse projeto que eu conheci o Faro 2027. Depois, um ano mais tarde, falaram comigo para desenhar os Tote Bags. Então envolvi-me mais uma vez no projeto», contou.

Mais tarde, «quando fizeram o South Music Festival, fui dar um workshop lá, conhecer a equipa. Ou seja, houve vários momentos em que me envolvi com o Faro 2027».

Esta jovem, que estudou artes visuais, pensa entrar na Universidade, em Design, após «um ano de pausa».

E este interregno tem servido para levar mais longe o seu canal de Youtube, «que se chama Maiazine, que é uma magazine de moda virtual, em versão vídeo».

 

Maia Viegas

 

«Esta equipa que trouxemos para fazer a apresentação está a trabalhar connosco há muito tempo e espelha muito bem o que é a base social de Faro e da região do Algarve. É com estas pessoas que nós temos que trabalhar, porque é por elas que queremos ser Capital Europeia da Cultura», rematou Rogério Bacalhau.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 



 

 

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