Investigador da UAlg recebe bolsa de 1,9 milhões de euros para estudar os últimos neandertais

João Cascalheira recebeu uma bolsa de consolidação do Conselho Europeu de Investigação

João Cascalheira, investigador do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve, recebeu uma bolsa de 1,9 milhões de euros, para financiar o projeto “FINISTERRA – Trajetórias populacionais e dinâmicas culturais dos últimos neandertais no oeste Europeu”.

Esta bolsa de consolidação (Consolidator Grants) foi uma das 313 atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação (European Research Council, ERC), entre 2652 candidaturas provenientes de 24 países.

«O programa ERC Consolidator é um dos mais competitivos e prestigiosos do mundo da ciência. Destina-se a investigadores em fase de consolidação de equipa, com 7 a 12 anos de experiência desde a conclusão do doutoramento, que sejam detentores de um currículo científico promissor e apresentem uma excelente proposta de investigação. As ERC Consolidator Grants podem ser premiadas até ao valor de 2 milhões de euros, por um período de 5 anos», segundo a UAlg.

«As causas para o desaparecimento dos Neandertais não são bem conhecidas, mas sabe-se que o processo foi diferente nas várias regiões da Europa. As hipóteses mais prováveis para a sua extinção são a competição com os Homo sapiens (que a partir de há 45 mil anos começaram a ocupar, gradualmente, a Europa) ou as muito frequentes e drásticas alterações climáticas que ocorreram neste período. O principal objetivo do FINISTERRA é investigar os processos que estão por detrás deste desaparecimento», explica João Cascalheira.

«Esta bolsa irá consolidar a posição do ICArEHB como centro de excelência em Portugal e abrir portas para que se torne num dos líderes europeus no estudo da evolução humana e arqueologia pré-histórica. A UAlg tornar-se-á o principal polo nacional de excelência para todos estudantes interessados em pré-história», acrescentou.

A investigação será levada a cabo por uma equipa interdisciplinar, estando prevista a contratação de sete novos investigadores.

No âmbito do “Finisterra” será realizado «trabalho de campo em vários sítios arqueológicos localizados em Portugal e no Sul de Espanha, de onde vão recolher dados para caracterizar vários aspetos da vida dos últimos Neandertais, incluindo a sua dieta, que utensílios usavam, e em que tipo de ambientes e clima viviam».

«Estes dados serão, posteriormente, utilizados para construir modelos computacionais e estatísticos que irão testar várias hipóteses para o desaparecimento dos Neandertais», acrescenta a universidade algarvia.

O acrónimo FINISTERRA (fim da terra) «vem do duplo sentido de que a Península Ibérica, estando no extremo Oeste europeu, terá sido uma das últimas regiões da Europa continental a ser povoada pelo Homo sapiens, e terá sido também o último reduto para as populações Neandertais, antes da sua extinção».

«O projeto tem um potencial extraordinário para alcançar resultados inovadores na compreensão de um dos mais importantes pontos de viragem na história da evolução humana. Afinal de contas, os fatores que contribuíram para o desaparecimento dos Neandertais foram responsáveis pelo nosso sucesso em tornarmo-nos atualmente a única espécie a ocupar o planeta Terra», conclui João Cascalheira.

Esta é a segunda bolsa ERC atribuída a investigadores do ICArEHB da Universidade do Algarve e a segunda vez que uma bolsa ERC em Arqueologia é atribuída a Portugal.

Sobre a importância das bolsas ERC, Maria Leptin, presidente do Conselho Europeu de Investigação, refere que, «mesmo em tempos de crise, conflito e sofrimento, é nosso dever manter a ciência no caminho certo e dar liberdade às mentes mais brilhantes para explorar as suas ideias».

«Não sabemos hoje de que forma o seu trabalho poderá revolucionar o amanhã – sabemos que abrirão novos horizontes, contribuirão para satisfazer a nossa curiosidade e provavelmente nos ajudarão a preparar para desafios futuros imprevisíveis», acrescentou.

O ERC, estabelecido pela Comissão Europeia em 2007, opera de acordo com os princípios da excelência científica, ciência aberta, autonomia, eficiência, eficácia, transparência, responsabilidade e integridade da investigação assegurada pela Comissão Europeia.

 

 

 



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