Hospitalização domiciliária chega aos lares de idosos para aliviar a pressão sobre o CHUA

«Este projeto é o expoente máximo do colocar o paciente no centro das nossas decisões», disse Ana Varges Gomes

E se, de repente, o Algarve ganhasse centenas de camas de internamento hospitalar, destinadas a uma das franjas mais vulneráveis da população, os mais idosos? Na prática, é isso que se vai conseguir, com os protocolos ontem assinados em Olhão, que permitirão estender o projeto de hospitalização domiciliária a quatro Estruturas Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) de Olhão, Faro, Portimão e Lagos.

Ao abrigo dos acordos assinados esta quarta-feira, na Biblioteca Municipal Mariano Gago, o Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) passa a garantir que os utentes das instituições envolvidas podem, em caso de necessidade de hospitalização, «ficar nos lares, com apoio da equipa do hospital que vai tratar dos doentes: médicos, enfermeiros, terapeutas, psicólogos e farmacêuticos», explicou Ana Varges Gomes, presidente do Conselho de Administração dos hospitais algarvios.

Desta forma, garantiu, não só se alivia a pressão sobre o CHUA, como se consegue «ganhos em saúde notórios».

Esta é uma resposta que vai permitir abranger os cerca de 670 utentes da Associação Cultural e de Apoio Social de Olhão (ACASO), das Santas Casas da Misericórdia de Faro e Lagos e do Centro de Apoio a Idosos de Portimão, as entidades que assinaram protocolos com o centro hospitalar algarvio.

 

Ana Varges Gomes

 

Até agora, um dos requisitos para a hospitalização domiciliária era que «o doente estivesse em casa e tivesse acompanhamento no seu lar. Mas não estava contemplado que o doente estivesse numa Estrutura Residencial para Pessoas Idosas».

«O que nós fizemos foi estender esta hospitalização domiciliária às ERPI, uma vez que muitos dos nossos utentes ao nível do internamento hospitalar provêm destas instituições», enquadrou Ana Varges Gomes.

Além disso, estas «são instituições idóneas, com pessoal qualificado, o que permite uma boa vigilância dos utentes. São pessoas capacitadas para chamar a atenção da equipa de hospitalização domiciliária para o caso de haver algum sinal de alerta».

«Esta é uma forma de continuar a prestar os cuidados que as pessoas precisam, no seu local, com as suas rotinas, permitindo, ao mesmo tempo, que as pessoas não saiam da sua zona de conforto e que possamos assim recuperá-las melhor», disse a presidente do CHUA.

«Este projeto é o expoente máximo do colocar o paciente no centro das nossas decisões», garantiu.

 

Delfim Rodrigues

 

O programa de hospitalização domiciliária do CHUA existe há cerca de dois anos – «apesar de Portimão se ter juntado mais recentemente» -,  ao longo dos quais assistiu 700 doentes nas suas casas.

«Se nós pensarmos nas camas que o CHUA tem, isto equivale a ter um centro hospitalar todo ocupado», ilustrou Ana Varges Gomes.

«Isto permite-nos ter as camas disponíveis para outros utentes, que não podem beneficiar deste regime de hospitalização domiciliária, mas também recuperar os doentes mais rápido, uma vez que as pessoas, no seu ambiente natural, recuperam muito mais rápido e melhor, são internadas menos vezes, não vão tanto às urgências e têm uma qualidade de vida superior», concluiu.

Esta realidade é confirmada pelos dados que já foi possível apurar, desde que o programa foi lançado, que foram apresentados por Delfim Rodrigues, coordenador do Programa Nacional de Implementação das Unidades de Hospitalização Domiciliária.

No que toca à Taxa de Mortalidade, comparando doentes com as mesmas caraterísticas e em situações idênticas, o percentagem é de «4,8%, nos hospitais», mas apenas de «0,8% para os doentes que estão em casa».

 

Paulo Morgado

 

Também o grau de satisfação dos utentes que ficam internados nas suas próprias casas é muito mais elevado do que os que ficam nos hospitais.

«Acho que este projeto é verdadeiramente importante. É daquelas iniciativas em que todos ficam a ganhar, principalmente os doentes, que é quem mais ganha», considerou, por seu lado, Paulo Morgado, presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve.

Quanto à extensão do programa aos utentes das ERPI, este responsável diz fazer todo o sentido, pois estes «são “clientes” regulares dos serviços de urgência».

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

 

 



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