Arqueologia subaquática volta ao estuário do Arade em projeto que junta Portugal e Noruega

Investigadores portugueses e noruegueses participam no projeto, que tem o Museu de Portimão como base de apoio

Os destroços de um veleiro do século XIX, afundado no estuário do Arade, são o objeto da campanha de arqueologia subaquática do projeto Water World, que começou esta segunda-feira, dia 14 de Março, e se prolonga no máximo até 1 de Abril.

Trata-se do sítio arqueológico subaquático a que se chamou Arade23, algures no fundo do rio entre Portimão e Lagoa. O projeto Water World é financiado pelo Programa Cultura do Mecanismo Financeiro EEA Grants e operacionalizado em Portugal pelo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS/DGPC). Conta ainda com a parceria do Museu Marítimo da Noruega (Norsk Maritimt Museum).

«A campanha começa hoje, com uma equipa mais reduzida, só do CNANS, para fazer trabalhos preliminares», nomeadamente de «delimitação do sítio arqueológico» e sua «limpeza», revelou ao Sul Informação José António Gonçalves, coordenador daquele organismo da Direção-Geral do Património Cultural. A partir do fim desta semana, «a equipa será reforçada com os colegas noruegueses, do Museu Marítimo da Noruega, mas também do Museu de Bergen».

O trabalho destas duas semanas passa por aplicar e desenvolver metodologias de fotogrametria subaquática georreferenciada em contexto de um naufrágio datável do século XIX.

«O que vamos fazer é a monitorização do sítio, bem como uma campanha de registo fotogramétrico, para produzir um modelo tridimensional do achado em si», acrescentou José António Gonçalves.

Além da partilha de conhecimento entre as equipas dos dois países, sobre técnicas já conhecidas (o registo fotogramétrico), esta campanha no estuário e embocadura do Arade apresenta um «aspeto inovador»: vai ser utilizado e testado «um equipamento recente, adquirido pelos noruegueses, para nos ajudar a posicionar no terreno estes modelos fotogramétricos», explicou o coordenador do CNANS. É que o GPS «não penetra na água», pelo que é mais difícil garantir o posicionamento rigoroso dos achados arqueológicos subaquáticos. Mas, com a nova tecnologia, «vamos obter as coordenadas onde o GPS não chega».

E porquê escolher este local de naufrágio datável do século XIX? «Porque não se sabe assim tanto sobre este sítio em comparação com outros contextos arqueológicos do Arade», revela José António Gonçalves.

Pelo vestígios subaquáticos que estão visíveis, «tudo aponta para uma cronologia do século XIX, mais do início do que do fim». O navio afundado seria um veleiro «de certa dimensão, com casco de madeira, protegido com placas metálicas.

Apesar do sítio arqueológico Arade23, onde os trabalhos agora se vão desenvolver, não estar entre os que serão afetados diretamente pelas dragagens para alargamento do canal de acesso e bacia de rotação do porto de cruzeiros de Portimão, poderá sê-lo «indiretamente», pelo «deslize de taludes», admite.

Por isso, esta campanha será ainda mais importante, já que permitirá fazer «um retrato» da situação atual do sítio arqueológico subaquático, de modo a que, no futuro, haja um termo de comparação.

 

 

Segundo nota da Câmara Municipal de Portimão, esta campanha enquadra-se no programa de relações bilaterais do projeto Water World e tem por objetivo articular as metodologias de fotogrametria utilizadas pelos parceiros do Estado doador (Noruega) e de Portugal. O Projeto Water World desenvolve trabalhos de arqueologia, conservação e divulgação do Património Arqueológico Náutico e Subaquático.

A ação envolve a colaboração de entidades locais, nomeadamente das Câmaras Municipais de Portimão e de Lagoa, e conta também com a participação de especialistas do CHAM – Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa.

Esta campanha tem o Museu de Portimão como base de apoio logístico, ao colaborar na cedência de equipamentos de mergulho, no apoio topográfico e dos espaços do museu, nomeadamente da Oficina de Conservação e Restauro.

O projeto Water World visa a capacitação do CNANS da DGPC através do desenvolvimento de metodologias de registo, úteis para a monitorização e disseminação do património cultural subaquático, tendo como base a experiência prévia das instituições envolvidas.

Orçado em 995.000 euros provenientes do Mecanismo Financeiro EEA Grants, os objetivos do Water World são a salvaguarda, proteção, conservação, monitorização e disseminação de bens culturais arqueológicos nacionais provenientes de ambientes saturados de água. Trata-se de um projeto a desenvolver em quatro anos, promovido pela DGPC/CNANS em parceria com o Norsk Maritimt Museum.

O Espaço Económico Europeu (EEA) é composto pelos Estados-Membros da União Europeia e três países da Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA), Islândia, Liechtenstein e Noruega.

A DGPC é o operador do programa Cultura, tendo como parceiro a Direção-Geral das Artes. O Programa Cultura apoia projetos de desenvolvimento social e económico através da cooperação, do empreendedorismo e da gestão cultural.

 

 

 



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